COMPARTILHE NAS SUAS REDES

Bertolt Brecht - poemas

Bertolt Brecht - foto (...)

Eugen Berthold Friedrich Brecht dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX. nasceu a 10 Fevereiro 1898, em Augsburgo, Alemanha e morreu a 14 Agosto 1956, em Berlim Leste, Alemanha. Em 1917 inicia o curso de medicina em Munique, mas logo é convocado pelo exército, indo trabalhar como enfermeiro em um hospital militar. Aquele que iria se tornar uma das mais importantes figuras do teatro do século XX, começa a escrever seus primeiros poemas e cedo se rebela contra os "falsos padrões" da arte e da vida burguesa, corroídas pela Primeira Guerra. Tal atitude se reflete já na sua primeira peça, o drama expressionista "Baal", de 1918. Colabora com os diretores Max Reinhardt e Erwin Piscator. Recebe, no fim dos anos 20, instruções marxistas do filósofo Karl Korsch. Em 1928, faz com Kurt Weill a "Ópera dos Três Vinténs". Com a ascensão de Hitler, deixa o país em 1933, e exila-se em países como a Dinamarca e Estados Unidos da América, onde sobrevive à custa de trabalhos para Hollywood. Faz da crítica ao nazismo e à guerra tema de obras como "Mãe coragem e seus filhos" (1939). Vítima da patrulha macartista, parte em 1947 para a Suíça — onde redige o "Pequeno Organon", suma de sua teoria teatral. Volta à Alemanha em 1948, onde funda, no ano seguinte, a companhia Berliner Ensemble.
Brecht, por David Levine - Clifford
 Odets February 4, 1982
Brecht é uma época. Uma época tumultuosa de rebeldia e de protesto. Refletem-se, em suas obras, os problemas fundamentais do mundo atual: a luta pela emancipação social da humanidade. Brecht tem plena consciência do que pretende fazer. Usa o materialismo dialético da maneira mais sábia para a revolução estética que se dispôs a promover na poesia e no teatro.
A poesia de Bertold Brecht
Brecht tem, sobre a poesia, o mesmo pensamento que tem sobre a arte dramática. Maneja-a da maneira mais sábia em defesa da liberdade do homem. Há, em seus poemas, o mesmo sentido épico e didático de suas peças teatrais. Recusa-se a aceitar uma poesia alheia aos acontecimentos sociais. Exige que ela seja atuante sem perder, entretanto, o seu sentido artístico. A poesia moderna deve estar ao lado da revolução.
O êxito excepcional do teatro e da poesia de Brecht confirma a justeza de seus pontos-de-vista. Sua arte é duplamente revolucionária: no fundo e na forma. Não só se opõe à estética de Aristóteles como não se submete ao convencionalismo e aos preconceitos sociais. Escreve independentemente como acha que se deve escrever.
:: Texto extraído: MONIZ, Edmundo. "Objetivo da poesia moderna", em 'Bertolt Brecht – Uma Breve Biografia (1898-1956)'. in: Cultura Brasil. / e releituras (acessado em 18.6.2015).



ALGUMAS OBRAS DE BERTOLT BRECHT PUBLICADAS NO BRASIL
Poesia
Bertolt Brecht - foto (...)
:: Antologia Poética. Bertolt Brecht. [seleção e tradução de Edmundo Moniz]. Rio de Janeiro: Elo Editora, 1982.
:: Seleção de Poesias, textos e teatro. São Paulo: Dinossauro, 1999. 
:: Poemas 1913-1956 Bertolt Brecht. [seleção e tradução Paulo Cesar de souza]. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986; São Paulo: Editora 34, 2000.

Teatral
:: Teatro dialético. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
:: Estudos sobre teatro. Bertolt BrechtRio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
:: O circulo de giz caucasiano. Bertolt Brecht. [tradução e apresentação Manuel Bandeira; prefácio Christine Röhrig e Samuel Titan Jr.; ensaio Roland Barthes]. Coleção prosa do mundo. São Paulo: Cosac Naify, 32 il., 216p.


ALGUMAS OBRAS POÉTICAS DE BERTOLT BRECHT  PUBLICADAS EM PORTUGAL
:: Poemas - Bertolt Brecht. [estudos, antologia, tradução Arnaldo saraiva; co-tradução com Sylvie Deswarte.. Lisboa: Presença, 1970.
:: Poemas - Bertolt Brecht. [tradução Arnaldo Saraiva]. Coleção Campo da Poesia. Porto: Campo das Letras, 1998, 128p.


Bertolt Brecht - foto (...)

POEMAS ESCOLHIDOS DE BERTOLT BRECHT

A árvore em fogo
Na ténue névoa vermelha da noite
Víamos as chamas, rubras, oblíquas
Batendo em ondas contra o céu escuro.
No campo em morna quietude
Crepitando
Queimava uma árvore.
Para cima estendiam-se os ramos, de medo estarrecidos
Negros, rodeados de centelhas
De chuva vermelha.
Através da névoa rebentava o fogo.
Apavorantes dançavam as folhas secas
Selvagens, jubilantes, para cair como cinzas
Zombando, em volta do velho tronco.
Mas tranqüila, iluminando forte a noite
Como um gigante cansado à beira da morte
Nobre, porém, em sua miséria
Erguia-se a árvore em fogo.
E subitamente estira os ramos negros, rijos
A chama púrpura a percorre inteira –
Por um instante fica erguida contra o céu escuro
E então, rodeada de centelhas
Desaba.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 9.


Der brennende Baum
Durch des Abends dunstig roten Nebel
Sahen wir die roten, steilen Flammen
Schwelend schlagen in den schwarzen Himmel.
In den Feldern dort in schwüler Stille
Prasselnd
Brannte ein Baum.
Hochauf reckten sich die schreckerstarrten Äste
Schwarz, von rotem Funkenregen
Wild und wirr umtanzt.
Durch den Nebel brandete die Feuerflut.
Schaurig tanzten wirre, dorre Blätter
Aufjauchzend, frei, um zu verkohlen
Höhnend um den alten Stamm.
Doch still und groß hinleuchtend in die Nacht
So wie ein alter Recke, müde, todmüd
Doch königlich in seiner Not
Stand der brennende Baum.
Und plötzlich reckte er auf die schwarzen, starren Äste
Hoch schießt die Purpurlohe an ihm auf –
Hoch steht er in dem schwarzen Himmel eine Weile
Dann kracht der Stamm, von Funken rot umtanzt
Zusammen.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.


Bertolt Brecht - foto: Josef Breitenbach (Paris, 1937)
A emigração dos poetas
Homero não tinha morada
E Dante teve que deixar a sua.
Li-Po e Tu-Fu andaram por guerras civis
Que tragaram 30 milhões de pessoas
Eurípides foi ameaçado com processos
E Shakespeare, moribundo, foi impedido de falar.
Não apenas a Musa, também a polícia
Visitou François Villon.
Conhecido como “o Amado”
Lucrécio foi para o exílio
Também Heine, e assim também
Brecht, que buscou refúgio
Sob o teto de palha dinamarquês.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 121.


Die Auswanderung der Dichter:
Homer hatte kein Heim
Und Dante mußte das seine verlassen.
Li-Po und Tu-Fu irrten durch Bürgerkriege
Die 30 Millionen Menschen verschlangen
Dem Euripides drohte man mit Prozessen
Und dem sterbenden Shakespeare hielt man den Mund zu.
Den François Villon suchte nicht nur die Muse
Sondern auch die Polizei.
“Der Geliebte” genannt
Ging Lukrez in die Verbannung
So Heine, und so auch floh
Brecht unter das danische Strohdach.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.


A infanticida Marie Farrar
1
Marie Farrar, nascida em abril, menor 
De idade, raquítica, sem sinais, órfã 
Até agora sem antecedentes, afirma 
Ter matado uma criança, da seguinte maneira: 
Diz que, com dois meses de gravidez 
Visitou uma mulher num subsolo 
E recebeu, para abortar, uma injeção 
Que em nada adiantou, embora doesse. 
Os senhores, por favor, não fiquem indignados. 
Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.
2
Ela porém, diz, não deixou de pagar 
O combinado, e passou a usar uma cinta 
E bebeu álcool, colocou pimenta dentro 
Mas só fez vomitar e expelir. 
Sua barriga aumentava a olhos vistos 
E também doía, por exemplo, ao lavar pratos. 
E ela mesma, diz, ainda não terminara de crescer. 
Rezava à Virgem Maria, a esperança não perdia. 
Os senhores, por favor, não fiquem indignados 
Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.
3
Mas as rezas foram de pouca ajuda, ao que parece. 
Havia pedido muito. Com o corpo já maior 
Desmaiava na Missa. Várias vezes suou 
Suor frio, ajoelhada diante do altar. 
Mas manteve seu estado em segredo 
Até a hora do nascimento. 
Havia dado certo, pois ninguém acreditava 
Que ela, tão pouco atraente, caísse em tentação. 
Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados 
Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.
4
Nesse dia, diz ela, de manhã cedo 
Ao lavar a escada, sentiu como se 
Lhe arranhassem as entranhas. Estremeceu. 
Conseguiu no entanto esconder a dor. 
Durante o dia, pendurando a roupa lavada 
Quebrou a cabeça pensando: percebeu angustiada 
Que iria dar à luz, sentindo então 
O coração pesado. Era tarde quando se retirou. 
Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados 
Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.
5
Mas foi chamada ainda uma vez, após se deitar: 
Havia caído mais neve, ela teve que limpar. 
Isso até a meia-noite. Foi um dia longo. 
Somente de madrugada ela foi parir em paz. 
E teve, como diz, um filho homem. 
Um filho como tantos outros filhos. 
Uma mãe como as outras ela não era, porém 
E não podemos desprezá-la por isso. 
Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados. 
Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.
6
Vamos deixá-la então acabar 
De contar o que aconteceu ao filho 
(Diz que nada deseja esconder) 
Para que se veja como sou eu, como é você. 
Havia acabado de se deitar, diz, quando 
Sentiu náuseas. Sozinha 
Sem saber o que viria 
Com esforço calou seus gritos. 
E os senhores, por favor, não fiquem indignados 
Pois todos precisamos de ajuda, coitados.
7
Com as últimas forças, diz ela 
Pois seu quarto estava muito frio 
Arrastou-se até o sanitário, e lá (já não 
sabe quando) deu à luz sem cerimônia 
Lá pelo nascer do sol. Agora, diz ela 
Estava inteiramente perturbada, e já com o corpo 
Meio enrijecido, mal podia segurar a criança 
Porque caía neve naquele sanitário dos serventes. 
Os senhores, por favor, não fiquem indignados 
Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.
8
Então, entre o quarto e o sanitário — diz que 
Até então não havia acontecido — a criança começou 
A chorar, o que a irritou tanto, diz, que 
Com ambos os punhos, cegamente, sem parar 
Bateu nela até que se calasse, diz ela. 
Levou em seguida o corpo da criança 
Para sua cama, pelo resto da noite 
E de manhã escondeu-o na lavanderia. 
Os senhores, por favor, não fiquem indignados 
Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.
9
Marie Farrar, nascida em abril 
Falecida na prisão de Meissen 
Mãe solteira, condenada, pode lhes mostrar 
A fragilidade de toda criatura. Vocês 
Que dão à luz entre lençóis limpos 
E chamam de “abençoada” sua gravidez 
Não amaldiçoem os fracos e rejeitados, pois 
Se o seu pecado foi grave, o sofrimento é grande. 
Por isso lhes peço que não fiquem indignados 
Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 40-43.


Von der Kindermörderin Marie Farrar
1
Marie Farrar, geboren im April
Unmündig, merkmallos,rachitisch, Waise
Bislang angeblich unbescholten, will
Ein Kind ermordet haben in der Weise:
Sie sagt, sie habe schon im zweiten Monat
Bei einer Frau in einem Kellerhaus
Versucht, es abzutreiben mit zwei Spritzen
Angeblich schmerzhaft, doch ging's nicht heraus.
Doch ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
2
Sie habe dennoch, sagt sie, gleich bezahlt
was ausgemacht war, sich fortan geschnürt
Auch Sprit getrunken, Pfeffer drin vermahlt
Doch habe sie das nur stark abgeführt. 
Ihr Leib sei zusehends geschwollen, habe
Auch stark geschmerzt, beim Tellerwaschen oft.
Sie selbst sei, sagt sie, damals noch gewachsen.
Sie habe zu Marie gebetet, viel erhofft.
Auch ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
3
Doch die Gebete hätten, scheinbar, nichts genützt.
Es war auch viel verlangt. Als sie dann dicker war
Hab ihr in Frühmetten geschwindelt. Oft hab sie geschwitzt
Auch Angstschweiß, häufig unter dem Altar. 
Doch hab den Zustand sie geheimgehalten
Bis die Geburt sie nachher überfiel
Es sei gegangen, da wohl niemand glaubte
dass sie, sehr reizlos, in Versuchung fiel.
Und ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
4
An diesem Tag, sagt sie, in aller Früh
Ist ihr beim Stiegenwischen so, als krallten
Ihr Nägel in den Bauch. Es schüttelt sie.
Jedoch gelingt es ihr, den Schmerz geheimzuhalten.
Den ganzen Tag, es sei beim Wäschehängen
Zerbricht sie sich den Kopf; dann kommt sie drauf
Dass sie gebären sollte, und es wird ihr
Gleich schwer ums Herz. Erst spät geht sie hinauf.
Doch ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
5
Man holte sie noch einmal, als sie lag
Schnee war gefallen, und sie mußte kehren.
Das ging bis elf. Es war ein langer Tag.
Erst in der Nacht konnt sie in Ruhe gebären.
Und sie gebar, so sagt sie, einen Sohn.
Der Sohn war ebenso wie andere Söhne.
Doch war sie nicht, wie andre Mütter sind obschon -
Es liegt kein Grund vor, dass ich sie verhöhne.
Auch ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
6
So lasst sie also weiter denn erzählen
wie es mit diesem Sohn geworden ist
(Sie wolle davon, sagt sie, nichts verhehlen)
Damit man sieht wie ich bin und du bist.
Sie sagt, sie sei, nur kurz im Bett, von Übel-
keit stark befallen worden, und allein
Hab sie, nicht wissend, was geschehen sollte
Mit Mühe sich bezwungen, nicht zu schrein.
Und ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
7
Mit letzter Kraft hab sie, so sagt sie, dann
Da ihre Kammer auch eiskalt gewesen
sich zum Abort geschleppt und dort auch (wann 
weiß sie nicht mehr) geborn ohn Federlesen
So gegen Morgen zu. Sie sei, sagt sie
Jetzt ganz verwirrt gewesen, habe dann
Halb schon erstarrt, das Kind kaum halten können
Weil es in den Gesindabort hereinschnein kann.
Auch ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
8
Dann zwischen Kammer und Abort - vorher, sagt sie
Sei noch gar nichts gewesen - fing das Kind 
zu schreien an, das hab sie so verdrossen, sagt sie
Dass sie's mit beiden Fäusten, ohne Aufhörn, blind
So lang geschlagen habe, bis es still war, sagt sie.
Hieraus hab sie das Tote noch durchaus
zu sich ins Bett genommen für den Rest der Nacht
Und es versteckt am Morgen in dem Wäschehaus.
Doch ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
9
Marie Farrar, geboren im April
gestorben im Gefängnishaus zu Meißen
Ledige Kindesmutter, abgeurteilt, will
Euch die Gebrechen aller Kreatur erweisen.
Ihr, die ihr gut gebärt in saubren Wochenbetten
und nennt "gesegnet" euren schwangren Schoß
wollt nicht verdammen die verworfnen Schwachen
Denn ihre Sünd war groß, doch ihr Leid war groß.
Darum ihr, ich bitte euch, wollt nich in Zorn verfallen
Denn alle Kreatur braucht Hilf von allen.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.



A paisagem do exílio
Mas também eu, no último barco
Vi ainda a alegria da aurora no cordame
E os corpos cinza claro dos golfinhos, emergindo
Do Mar do Japão
E os pequenos carros a cavalo com decoração em ouro
E os véus cor de rosa sobre os braços das matronas
Nas ruelas da condenada Manila
Viu também o fugitivo com prazer.
As torres de petróleo e os jardins sedentos de Los Angeles
E os desfiladeiros da Califórnia ao anoitecer, e os mercados de frutas 
Também não deixaram indiferente
O mensageiro do infortúnio.
- Bertold Brecht, em "Poemas 1913-1956". [Seleção e tradução de Paulo César de Souza]. São Paulo: Editora 24, 2001. p. 286.


Die landschaft des exils
Aber auch ich, auf dem letzten Boot,
Sah noch den Frohsinn des Frührots im Takelzeug 
Und der Delphine grauliche Leiber, tauchend
Aus der Japanischen See.
Die Pferdewäglein mit dem Goldbeschlag 
Und die rosa Armschleier der Matronen 
In den Gassen des gezeichneten Manila 
Sah auch der Flüchtende mit Freude.
Die Öltürme und dürstenden Gärten von Los Angeles 
Und die abendlichen Schluchten Kaliforniens und die Obstmärkte
Ließen auch den Boten des Unglücks
Nicht kalt.
- Bertold Brecht


A troca da roda
Estou sentado no barranco da estrada. 
O condutor trocando a roda. 
Não gosto do lugar de onde vim.
Não gosto do lugar para onde vou. 
Por que eu vejo a troca da roda
Com impaciência?
- Bertold Brecht. "Der Radwechsel". [tradução de Markus J. Weininger e Rosvitha Friesen Blume. In: BLUME, Rosvitha Friesen; WEININGER, Markus J. (orgs.). Seis décadas de poesia alemã. Do pós-guerra ao início do século XXI. Antologia bilingue. Florianópolis: Editora UFSC, 2012.


Der Radwechsel
Ich sitze am Straßenrand 
Der Fahrer wechselt das Rad. 
Ich bin nicht gern, wo ich herkomme. 
Ich bin nicht gern, wo ich hinfahre. 
Warum sehe ich den Radwechsel 
Mit Ungeduld?
- Bertold Brecht. "Der Radwechsel". 


A troca da roda
Estou sentado à beira do caminho.
O condutor troca a roda.
Não gosto de estar lá de onde venho.
Não gosto de estar lá para onde vou.
Por que olho a troca da roda
Com impaciência
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 324.


Der Radwechsel
Ich sitze am Straßenhang.
Der Fahrer wechselt das Rad.
Ich bin nicht gern, wo ich herkomme.
Ich bin nicht gern, wo ich hinfahre.
Warum sehe ich den Radwechsel
mit Ungeduld?
- Bertolt Brecht


Amigos
Se viesses em um coche
E eu vestisse um traje de camponês
E nos encontrássemos um dia na rua
Descerias e farias reverência.
E se vendesses água
E eu viesse montado em um cavalo
E nos encontrássemos um dia na rua
Desceria eu a te cumprimentar.
Poeta desconhecido (c. 100 a.C.)
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 146.


Die Freunde
Wenn du in einer Kutsche gefahren kämst
Und ich trüge eines Bauern Rock
Und wir träfen uns eines Tages auf der Straße
Würdest du aussteigen und dich verbeugen.
Und wenn du Wasser verkauftest
Und ich käme spazieren geritten auf einem Pferd
Und wir träfen uns eines Tages auf der Straße
Würde ich absteigen vor dir.
- Bertolt Brecht


Aos que vão nascer
1
É verdade, eu vivo em tempos negros.
Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas 
Indica insensibilidade. Aquele que ri 
Apenas não recebeu ainda
A terrível notícia.
Que tempos são esses, em que
Falar de árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
Aquele que atravessa a rua tranqüilo
Não está mais ao alcance de seus amigos
Necessitados?
Sim, ainda ganho meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso. Nado do que faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Me dá direito a comer a fartar. 
Por acaso fui poupado. (Se minha sorte acaba, estou perdido.)
As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
Mas como posso comer e beber, se 
Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d`água falta ao quem tem sede?
E no entanto eu como e bebo.
Eu bem gostaria de ser sábio.
Nos velhos livros se encontra o que é a sabedoria:
Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
Levar sem medo
E passar sem violência
Pagar o mal com o bem
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.
Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

2
À cidade cheguei em tempo de desordem
Quando reinava a fome.
Entre os homens cheguei em tempo de tumulto
E me revoltei junto com eles.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.
A comida comi entre as batalhas
Deitei-me para dormir entre os assassinos
Do amor cuidei displicente
E impaciente contemplei a natureza.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.
As ruas de meu tempo conduziam ao pântano.
A linguagem denunciou-me ao carrasco.
Eu pouco podiam fazer. Mas os que estavam por cima
Estariam melhor sem mim, disso tive esperança.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.
As forças eram mínimas. A meta
Estava bem distante.
Era bem visível, embora para mim
Quase inatingível.
Assim passou o tempo
Que nesta terra me foi dado.

3
Vocês, que emergirão do dilúvio
Em que afundamos
Pensem 
Quando falarem de nossas fraquezas
Também nos tempos negros
De que escaparam.
Andávamos então, trocando de países como de sandálias 
Através das lutas de classes, desesperados 
Quando havia só injustiça e nenhuma revolta.
Entretanto sabemos:
Também o ódio à baixeza
Deforma as feições.
Também a ira pela injustiça
Torna a voz rouca. Ah, e nós
Que queríamos preparar o chão para o amor
Não pudemos nós mesmos ser amigos.
Mas vocês, quando chegar o momento
Do homem ser parceiro do homem
Pensem em nós
Com simpatia.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956"[seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 212-214.


An die nachgeborenen
I
Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten!
Das arglose Wort ist töricht. Eine glatte Stirn
Deutet auf Unempfindlichkeit hin. Der Lachende
Hat die furchtbare Nachricht
Nur noch nicht empfangen.
Was sind das für Zeiten, wo
Ein Gespräch über Bäume fast ein Verbrechen ist.
Weil es ein Schweigen über so viele Untaten einschließt!
Der dort ruhig über die Straße geht
Ist wohl nicht mehr erreichbar für seine Freunde
Die in Not sind?
Es ist wahr: ich verdiene noch meinen Unterhalt
Aber glaubt mir: das ist nur ein Zufall. Nichts
Von dem, was ich tue, berechtigt mich dazu, mich sattzuessen.
Zufällig bin ich verschont. (Wenn mein Glück aussetzt, bin ich verloren.)
Man sagt mir: iß und trink du! Sei froh, daß du hast!
Aber wie kann ich essen und trinken, wenn
Ich dem Hungernden entreiße, was ich esse, und
Mein Glas Wasser einem Verdurstenden fehlt?
Und doch esse und trinke ich.
Ich wäre gerne auch weise.
In den alten Büchern steht, was weise ist:
Sich aus dem Streit der Welt halten und die kurze Zeit
Ohne Furcht verbringen
Auch ohne Gewalt auskommen
Böses mit Gutem vergelten
Seine Wünsche nicht erfüllen, sondern vergessen
Gilt für weise.
Alles das kann ich nicht:
Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten!

II
In die Städte kam ich zur Zeit der Unordnung
Als da Hunger herrschte.
Unter die Menschen kam ich zu der Zeit des Aufruhrs
Und ich empörte mich mit ihnen.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.
Mein Essen aß ich zwischen den Schlachten
Schlafen legte ich mich unter die Mörder
Der Liebe pflegte ich achtlos
Und die Natur sah ich ohne Geduld.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.
Die Straßen führten in den Sumpf zu meiner Zeit.
Die Sprache verriet mich dem Schlächter.
Ich vermochte nur wenig. Aber die Herrschenden
Saßen ohne mich sicherer, das hoffte ich.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.
Die Kräfte waren gering. Das Ziel
Lag in großer Ferne
Es war deutlich sichtbar, wenn auch für mich
Kaum zu erreichen.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

III
Ihr, die ihr auftauchen werdet aus der Flut
In der wir untergegangen sind
Gedenkt
Wenn ihr von unseren Schwächen sprecht
Auch der finsteren Zeit
Der ihr entronnen seid.
Gingen wir doch, öfter als die Schuhe die Länder wechselnd
Durch die Kriege der Klassen, verzweifelt
Wenn da nur Unrecht war und keine Empörung.
Dabei wissen wir doch:
Auch der Haß gegen die Niedrigkeit
verzerrt die Züge.
Auch der Zorn über das Unrecht
Macht die Stimme heiser. Ach, wir
Die wir den Boden bereiten wollten für Freundlichkeit
Konnten selber nicht freundlich sein.
Ihr aber, wenn es so weit sein wird
Daß der Mensch dem Menschen ein Helfer ist
Gedenkt unserer
Mit Nachsicht.
- Bertolt Brecht


Aos que vierem depois de nós
I
Realmente, vivemos tempos sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.

II
Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

III
Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.
- Bertolt Brecht (Tradução Manuel Bandeira)


An die Nachgeborenen

I
Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten! 
Das arglose Wort ist töricht. Eine glatte Stirn 
Deutet auf Unempfindlichkeit hin. Der Lachende 
Hat die furchtbare Nachricht 
Nur noch nicht empfangen.

Was sind das für Zeiten, wo 
Ein Gespräch über Bäume fast ein Verbrechen ist. 
Weil es ein Schweigen über so viele Untaten einschließt! 
Der dort ruhig über die Straße geht 
Ist wohl nicht mehr erreichbar für seine Freunde 
Die in Not sind?

Es ist wahr: ich verdiene noch meinen Unterhalt 
Aber glaubt mir: das ist nur ein Zufall. Nichts 
Von dem, was ich tue, berechtigt mich dazu, mich sattzuessen. 
Zufällig bin ich verschont. (Wenn mein Glück aussetzt, bin ich verloren.)

Man sagt mir: iß und trink du! Sei froh, daß du hast! 
Aber wie kann ich essen und trinken, wenn 
Ich dem Hungernden entreiße, was ich esse, und 
Mein Glas Wasser einem Verdurstenden fehlt? 
Und doch esse und trinke ich.

Ich wäre gerne auch weise. 
In den alten Büchern steht, was weise ist: 
Sich aus dem Streit der Welt halten und die kurze Zeit 
Ohne Furcht verbringen 
Auch ohne Gewalt auskommen 
Böses mit Gutem vergelten 
Seine Wünsche nicht erfüllen, sondern vergessen 
Gilt für weise. 
Alles das kann ich nicht: 
Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten! 

II
In die Städte kam ich zur Zeit der Unordnung 
Als da Hunger herrschte. 
Unter die Menschen kam ich zu der Zeit des Aufruhrs 
Und ich empörte mich mit ihnen. 
So verging meine Zeit 
Die auf Erden mir gegeben war.

Mein Essen aß ich zwischen den Schlachten 
Schlafen legte ich mich unter die Mörder 
Der Liebe pflegte ich achtlos 
Und die Natur sah ich ohne Geduld. 
So verging meine Zeit 
Die auf Erden mir gegeben war. 
Die Straßen führten in den Sumpf zu meiner Zeit. 
Die Sprache verriet mich dem Schlächter. 
Ich vermochte nur wenig. Aber die Herrschenden 
Saßen ohne mich sicherer, das hoffte ich. 
So verging meine Zeit 
Die auf Erden mir gegeben war.

Die Kräfte waren gering. Das Ziel 
Lag in großer Ferne 
Es war deutlich sichtbar, wenn auch für mich 
Kaum zu erreichen. 
So verging meine Zeit 
Die auf Erden mir gegeben war. 


III
Ihr, die ihr auftauchen werdet aus der Flut 
In der wir untergegangen sind 
Gedenkt 
Wenn ihr von unseren Schwächen sprecht 
Auch der finsteren Zeit 
Der ihr entronnen seid.

Gingen wir doch, öfter als die Schuhe die Länder wechselnd 
Durch die Kriege der Klassen, verzweifelt 
Wenn da nur Unrecht war und keine Empörung.

Dabei wissen wir doch: 
Auch der Haß gegen die Niedrigkeit 
verzerrt die Züge. 
Auch der Zorn über das Unrecht 
Macht die Stimme heiser. Ach, wir 
Die wir den Boden bereiten wollten für Freundlichkeit 
Konnten selber nicht freundlich sein.

Ihr aber, wenn es so weit sein wird 
Daß der Mensch dem Menschen ein Helfer ist 
Gedenkt unserer 
Mit Nachsicht.
- Bertolt Brecht 


Canto de uma amada
1. Eu sei, amada: agora me caem os cabelos, nessa vida dissoluta, e eu tenho que deitar nas pedras. Vocês me vêem bebendo as cachaças mais baratas, e eu ando nu no vento.
2. Mas houve um tempo, amada, em que era puro.
3. Eu tinha uma mulher que era mais forte que eu, como o capim é mais forte que o touro: ele se levanta de novo.
4. Ela via que eu era mau, e me amou.
5. Ela não perguntava para onde ia o caminho que era seu, e talvez ele fosse para baixo. Ao me dar seu corpo, ela disse: Isso é tudo. E seu corpo se tornou meu corpo.
6. Agora ela não está mais em lugar nenhum, desapareceu como uma nuvem após a chuva, eu a deixei, ela caiu, pois este era seu caminho.
7. Mas à noite, às vezes, quando me vêem bebendo, vejo o rosto dela, pálido no vento, forte, voltado para mim, e me inclino no vento.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 20.


Gesang von einer Geliebten
1. Ich weiß es, Geliebte: jetzt fallen mir die Haare aus vom wüsten Leben, und ich muß auf den Steinen liegen. Ihr seht mich trinken den billigsten Schnaps, und ich gehe bloß im Wind.
2. Aber es gab eine Zeit, Geliebte, wo ich rein war.
3. Ich hatte eine Frau, die war stärker als ich, wie das Gras stärker ist als der Stier: es richtet sich wieder auf.
4. Sie sah, daß ich böse war, und liebte mich.
5. Sie fragte nicht, wohin der Weg ging, der ihr Weg war, und vielleicht ging er hinunter. Als sie mir ihren Leib gab, sagte sie: Das ist alles. Und es wurde mein Leib.
6. Jetzt ist sie nirgends mehr, sie verschwand wie die Wolke, wenn es geregnet hat, ich ließ sie, und sie fiel abwärts, denn dies war ihr Weg.
7. Aber nachts, zuweilen, wenn ihr mich trinken seht, sehe ich ihr Gesicht, bleich im Wind, stark und mir zugewandt, und ich verbeuge mich in den Wind.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.



Bertolt Brecht - foto (...)
Da sedução dos anjos 
Anjos seduzem-se: nunca ou a matar.
Puxa-o só para dentro de casa e mete-
-Lhe a língua na boca e os dedos sem frete
Por baixo da saia até se molhar
Vira-o contra a parede, ergue-lhe a saia
E fode-o. Se gemer, algo crispado
Segura-o bem, fá-lo vir-se em dobrado
P'ra que do choque no fim te não caia.

Exorta-o a que agite bem o cu
Manda-o tocar-te os guizos atrevido
Diz que ousar na queda lhe é permitido
Desde que entre o céu e a terra flutue –

Mas não o olhes na cara enquanto fodes
E as asas, rapaz, não lhas amarrotes.
- Bertolt Brecht, 'Da Sedução - Poemas Eróticos'. [com gravuras de Pablo Picasso; tradução de Aires Graça; Revisão de João Carlos Alvim]. 3.ª ed., Lisboa: Editorial Bizâncio, 2004.


Über die Verführung von Engeln
Engel verführt man gar nicht oder schnell.
Verzieh ihn einfach in den Hauseingang
Steck ihm die Zunge in den Mund und lang
Ihm untern Rock, bis er sich naß macht, stell
Ihn das Gesicht zur Wand, heb ihm den Rock
Und fick ihn. Stöhnt er irgendwie beklommen
Dann halt ihn fest und laß ihn zweimal kommen
Sonst hat er dir am Ende einen Schock.

Ermahn ihn, daß er gut den Hintern schwenkt
Heiß ihn dir ruhig an die Hoden fassen
Sag ihm, er darf sich furchtlos fallen lassen
Dieweil er zwischen Erd und Himmel hängt —

Doch schau ihm nicht beim Ficken ins Gesicht
Und seine Flügel, Mensch, zerdrück sie nicht.
- Bertolt Brecht



De todas as obras
De todas as obras humanas, as que mais amo 
São as que foram usadas.
Os recipientes de cobre com as bordas achatadas, e com mossas
Os garfos e facas cujos cabos de madeira
Foram gastos por muitas mãos; tais formas
São para mim as mais nobres. Assim também as lajes
Polidas por muitos pés, e entre as quais
Crescem tufos de grana: estas 
São obras felizes.
Admitidas no hábito de muitos 
Com frequência mudadas, aperfeiçoam seu formato e tornam-se valiosas
Porque delas tanto se valeram.
Mesmo as esculturas quebradas
Com suas mãos decepadas, me são queridas. Também elas
São vivas para mim. Deixaram-nas cair, mas foram carregadas.
Embora acidentadas, jamais estiveram altas demais.
As construções quase em ruína
Têm de novo a aparência de incompletas
Planejadas generosamente: suas belas proporções
Já podem ser adivinhadas, ainda necessitam porém
De nossa compreensão. Por outro lado
Elas já serviram, sim, já foram superadas. Tudo isso 
Me contenta.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 84.


Von allen Werken
Von allen Werken, die liebsten
Sind mir die gebrauchten.
Die Kupfergefäße mit den Beulen und den abgeplatteten Rändern
Die Messer und Gabeln, deren Holzgriffe
Abgegriffen sind von vielen Händen: solche Formen
Schienen mir die edelsten. So auch die Steinfliesen um alte Häuser
Welche niedergetreten sind von vielen Füßen, abgeschliffen
Und zwischen denen Grasbüschel wachsen, das
Sind glückliche Werke.
Eingegangen in den Gebrauch der vielen
Oftmals verändert, verbessern sie ihre Gestalt und werden Köstlich
Weil oftmals gekostet.
Selbst die Bruchstücke von Plastiken
Mit ihren abgehauenen Händen liebe ich. Auch sie
Lebten mir. Wenn auch fallen gelassen, wurden sie doch getragen.
Wenn auch überrannt, standen sie doch nicht zu hoch.
Die halbzerfallenen Bauwerke
Haben wieder das Aussehen von noch nicht vollendeten
Groß geplanten: ihre schönen Maße
Sind schon zu ahnen; sie bedürfen aber
Noch unseres Verständnisses. Anrerseits
Haben sie schon gedient, ja, sind schon überwunden. Dies alles
Beglückt mich.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.


Do pobre B.B.
1
Eu, Bertolt Brecht, venho da floresta negra. 
Para a cidade minha mãe me carregou
Quando ainda vivia no seu ventre. O frio da floresta 
Estará em mim até o dia em que eu me for.
2
Na cidade de asfalto estou em casa. Recebi 
Desde o início todos os sacramentos finais:
Jornais, muito fumo e aguardente. Desconfiado
Preguiçoso e contente – não posso querer mais!
3
Sou amável com as pessoas. Uso 
Um chapéu cartola segundo seu costume. 
Digo: São animais de cheiro bem peculiar
E digo: Não faz mal, também tenho este perfume.
4
Pelas manhãs, em minha cadeira de balanço
De vez em quando uma mulher faço sentar 
E observando-a calmamente lhe digo:
Em mim você tem alguém em quem não pode confiar.
5
À noite, alguns homens se reúnem à minha volta 
E entre nós, “gentlemen” é o tratamento vigente.
Colocam os pés sobre a minha mesa
Dizem: As coisas vão melhorar. E eu não pergunto: Realmente?
6
Na luz cinzenta da aurora os pinheiros urinam
E seus parasitas, os pássaros, começam o gorjeio. 
Por essa hora eu na cidade, entorno a bebida
Jogo fora o charuto e vou dormir com receio.
7
Habitamos, uma geração fácil
Em casas que acreditávamos eternas
(Assim construímos aquelas imensas caixas na ilha de Manhattan
E as antenas cujos sinais cruzam o mar como invisíveis lanternas).
8
Destas cidades ficará: o vento que por elas passa!
A casa faz alegre o conviva: ele a esvazia. 
Sabemos que somos fugazes 
E depois nada virá somente poesia.
9
Nos terremotos que virão tenho esperança
De não deixar meu “Virgínia” apagar com amargura 
Eu, Bertolt Brecht, chegado há tempo na selva de asfalto 
No ventre de minha mãe, vindo da floresta escura.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 53-54.


Vom armen B.B.
Ich, Bertolt Brecht, bin aus den schwarzen Wäldern.
Meine Mutter trug mich in die Städte hinein
Als ich in ihrem Leibe lag. Und die Kälte der Wälder
Wird in mir bis zu meinem Absterben sein.
In der Asphaltstadt bin ich daheim. Von allem Anfang
Versehen mit jedem Sterbsakrament:
Mit Zeitung. Und Tabak. Und Branntwein.
Misstrauisch und faul und zufrieden am End.
Ich bin zu den Leuten freundlich. Ich setze
Einen steifen Hut auf nach ihrem Brauch.
Ich sage: Es sind ganz besonders riechende Tiere
Und ich sage: Es macht nichts, ich bin es auch.
In meine leeren Schaukelstühle vormittags
Setze ich mir mitunter ein paar Frauen
Und ich betrachte sie sorglos und sage ihnen:
In mir habt ihr einen, auf den könnt ihr nicht bauen.
Gegen Abend versammle ich um mich Männer
Wir reden uns da mit “Gentlemen” an.
Sie haben ihre Füße auf meinen Tischen
Und sagen: Es wird besser mit uns. Und ich frage nicht: Wann?
Gegen Morgen in der grauen Frühe pissen die Tannen
Und ihr Ungeziefer, die Vögel, fängt an zu schrein.
Um die Stunde trink ich mein Glas in der Stadt aus und schmeiße
Den Tabakstummel weg und schlafe beunruhigt ein.
Wir sind gesessen, ein leichtes Geschlechte
In Häusern, die für unzerstörbare galten
(So haben wir gebaut die langen Gehäuse des Eilands Manhattan
Und die dünnen Antennen, die das Atlantische Meer unterhalten).
Von diesen Städten wird bleiben: der durch sie hindurchging, der Wind! Fröhlich machet das Haus den Esser: er leert es.
Wir wissen, daß wir Vorläufige sind
Und nach uns wird kommen: nichts Nennenswertes.
Bei den Erdbeben, die kommen werden, werde ich
hoffentlich Meine Virginia nicht ausgehen lassen durch Bitterkeit
Ich, Bertolt Brecht, in die Asphaltstädte verschlagen
Aus den schwarzen Wäldern in meiner Mutter infrüher Zeit.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.


Eu, que nada mais amo
Eu, que nada mais amo
Do que a insatisfação com o que se pode mudar
Nada mais detesto
Do que a profunda insatisfação com o que não pode ser mudado.
Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956".  [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo, Editora 34, 2000, p. 82.


Ich, der ich nichts mehr liebe
Ich, der ich nichts mehr liebe
Als die Unzufriedenheit mit dem Änderbaren
Hasse auch nichts mehr als
Die tiefe Unzufriedenheit mit dem Unveränderlichen.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.


Hábitos de amar
Não é exacto que o prazer só perdura.
Muita vez vivido, cresce ainda mais.
Repetir as mil versões prévias, iguais
É aquilo que a nossa atracção segura:

O frémito do teu traseiro há muito
A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil!
E a segunda é, que traz venturas mil,
Que a tua voz presa exija o desfruto!

Esse abrir de joelhos! Esse deixar-se coitar!
E o tremer, que à minha carne sinal solta
Que saciada a ânsia, logo te volta!
Esse serpear lasso! As mãos a buscar-
Me. Tua a sorrir!
                         Ai, vezes que se faça:
Não fossem já tantas, não tinha tanta graça!
- Bertolt Brecht, 'Da Sedução - Poemas Eróticos'. [com gravuras de Pablo Picasso; tradução de Aires Graça; Revisão de João Carlos Alvim]. 3.ª ed., Lisboa: Editorial Bizâncio, 2004.


Liebesgewohnheiten
Es ist nicht so, daß der Genuß nur bleibt.
Oftmals verspürt, steigt er noch oftmals an.
Das noch einmal zu tun, was wir schon oft getan
Das ist es, was uns so zusammentreibt.

Dies kleine Zucken deines Hintern, längst
Erwartet schon! O deines Fleisches List!
Dies angenehme, was das zweite ist
Wonach du mit erstickter Stimme drängst!

Dies Aufgehn deiner Knie! Dies sich Begattenlassen!
Dies Zittern dann, durch das mein Fleisch erfährt
Daß kaum gestillte Lust dir wiederkehrt!
Dies faule Drehn! Dies lässig nach mir fassen
Wenn du schon lächelst!
Ach, so oft man’s tut:
Wär’s nicht schon oft getan, wär’s nicht so gut!
- Bertolt Brecht, 'Da Sedução - Poemas Eróticos'. [com gravuras de Pablo Picasso; tradução de Aires Graça; Revisão de João Carlos Alvim]. 3.ª ed., Lisboa: Editorial Bizâncio, 2004.


Bertolt Brecht - foto (...)
Lista de preferências de orge
Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis;
Conselhos, os inexeqüíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os temporários.
Adeuses, os bem sumários.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.
Meses, Outubro

Elementos, os fogos
Divindades, o Logos.

Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 47.

Orges Wunschliste
Von den Freuden, die nicht abgewogenen.
Von den Häuten, die nicht abgezogenen.

Von den Geschichten, die unverständlichen.
Von den Ratschlägen, die unverwendlichen.

Von den Mädchen, die neuen.
Von den Weibern, die ungetreuen.

Von den Orgasmen, die ungleichzeitigen.
Von den Feindschaften, die beiderseitigen.

Von den Aufenthalten, die vergänglichen.
Von den Abschieden, die unterschwänglichen.

Von den Künsten, die unverwertlichen.
Von den Lehrern, die beerdlichen.

Von den Genüssen, die aussprechlichen.
Von den Zielen, die nebensächlichen.

Von den Feinden, die empfindlichen.
Von den Freunden, die kindlichen.

Von den Farben, die rote.
Von den Botschaften, der Bote.

Von den Elementen, das Feuer.
Von den Göttern, das Ungeheuer.

Von den Untergehenden, die Lober.
Von den Jahreszeiten, der Oktober.

Von den Leben, die hellen.
Von den Toden, die schnellen.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.


Para ler de manhã e à noite
Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 135.


Morgens und abends zu lesen
Der, den ich liebe,
Hat mir gesagt,
Daß er mich braucht.
Darum
Gebe ich auf mich acht
Sehe auf meinen Weg und
Fürchte von jedem Regentropfen
Daß er mich erschlagen könnte.
- Bertolt Brecht


Perguntas de um trabalhador que lê
Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia, várias vezes destruída – 
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas 
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem 
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio 
Tinha somente palácios para os seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida, 
Os que se afogavam gritaram por seus escravos 
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada 
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada pagina uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias.
Tantas questões.
- Bertolt Brecht, em "Poemas 1913-1956". [seleção e tradução de Paulo César de Souza], São Paulo: Editora 34, 2000, p. 166.


Fragen eines lesenden Arbeiters
Wer baute das siebentorige Theben?
In den Büchern stehen die Namen von Königen.
Haben die Könige die Felsbrocken herbeigeschleppt?
Und das mehrmals zerstörte Babylon -
Wer baute es so viele Male auf? In welchen Häusern
Des goldstrahlenden Lima wohnten die Bauleute?
Wohin gingen an dem Abend, wo die Chinesische Mauer fertig war 
Die Maurer? Das große Rom
Ist voll von Triumphbögen. Wer errichtete sie? Über wen 
Triumphierten die Cäsaren? Hatte das vielbesungene Byzanz
Nur Paläste für seine Bewohner? Selbst in dem sagenhaften Atlantis 
Brüllten in der Nacht, wo das Meer es verschlang
Die Ersaufenden nach ihren Sklaven.
Der junge Alexander eroberte Indien.
Er allein?
Cäsar schlug die Gallier.
Hatte er nicht wenigstens einen Koch bei sich?
Philipp von Spanien weinte, als seine Flotte 
Untergegangen war. Weinte sonst niemand?
Friedrich der Zweite siegte im Siebenjährigen Krieg. Wer 
Siegte außer ihm?
Jede Seite ein Sieg.
Wer kochte den Siegesschmaus?
Alle zehn Jahre ein großer Mann.
Wer bezahlte die Spesen?
So viele Berichte.
So viele Fragen.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.


Um trabalhador, ao ler, pergunta...
Quem construiu a heptápila Tebas?
Nos livros há só nomes de reis.
Foram os reis quem transportou as pedras?
E a tantas vezes destruída Babilónia –
Quem tantas vezes a reconstruiu? E em que casas
De Lima, a cintilante de oiro, os construtores moraram?
Para onde foram, na tarde em que acabaram a Muralha da China
Os alvanéis? A grande Roma
Está cheia de arcos triunfais. Quem os ergueu? E sobre quem
Triunfaram os Césares? Tinha a celebrada Bizâncio
Só palácios para os habitantes? Até na Atlântida fantástica
Gritava, na noite em que o mar a engolia,
Quem se afogava, pelos seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Índias.
Sozinho?
César bateu as Gálias.
Não tinha com ele sequer um cozinheiro?
Filipe de Espanha chorou, quando a Armada
Foi ao fundo. Mais ninguém chorou?
Frederico II ganhou a Guerra dos Sete Anos. Quem a ganhou para ele?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhou o banquete triunfal?
Cada dez anos um grande Homem.
Quem pagou a conta?
Tantas histórias.
Outras tantas perguntas.
- Bertolt Brecht/ Jorge de Sena, Poesia do Século XX (De Thomas Hardy a C. V. Cattaneo), Antologia, tradução e notas de Jorge de Sena, Editorial Inova, Porto, 1978.


Fragen eines lesenden Arbeiters
Wer baute das siebentorige Theben?
In den Büchern stehen die Namen von Königen.
Haben die Könige die Felsbrocken herbeigeschleppt?
Und das mehrmals zerstörte Babylon -
Wer baute es so viele Male auf? In welchen Häusern
Des goldstrahlenden Lima wohnten die Bauleute?
Wohin gingen an dem Abend, wo die Chinesische Mauer fertig war 
Die Maurer? Das große Rom
Ist voll von Triumphbögen. Wer errichtete sie? Über wen 
Triumphierten die Cäsaren? Hatte das vielbesungene Byzanz
Nur Paläste für seine Bewohner? Selbst in dem sagenhaften Atlantis 
Brüllten in der Nacht, wo das Meer es verschlang
Die Ersaufenden nach ihren Sklaven.
Der junge Alexander eroberte Indien.
Er allein?
Cäsar schlug die Gallier.
Hatte er nicht wenigstens einen Koch bei sich?
Philipp von Spanien weinte, als seine Flotte 
Untergegangen war. Weinte sonst niemand?
Friedrich der Zweite siegte im Siebenjährigen Krieg. Wer 
Siegte außer ihm?
Jede Seite ein Sieg.
Wer kochte den Siegesschmaus?
Alle zehn Jahre ein großer Mann.
Wer bezahlte die Spesen?
So viele Berichte.
So viele Fragen.
- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.



Bertolt Brecht - foto (...)
Reivindicação da arte
A boa, que ao seu amor nada nega
E se lhe entrega com antecipação
Saiba: que não é boa vontade não
Mas talento, o que ele deseja na esfrega.

Mesmo se à velocidade do som
Do sou-tua dela à cópula chega
Não é pressa que o botão dele carrega
Quando às bolas seminais dá vazão.
  
Se é o amor que primeiro atiça o fogo
Precisa ela depois,
Para Inverno amparado
De ser dona ainda de um traseiro dotado.
De facto, mais que o fervor no olhar
(Também faz falta) um truque há que usar:
Coxas soberbas, em soberbo jogo.
- Bertolt Brecht, 'Da Sedução - Poemas Eróticos'. [com gravuras de Pablo Picasso; tradução de Aires Graça; Revisão de João Carlos Alvim]. 3.ª ed., Lisboa: Editorial Bizâncio, 2004.


Forderung nach Kunst
Die Gute, die dem Liebsten nichts verwehrt
Und sich ihm hingibt für den Fall des Falles
Muß wissen: Guter Wille ist nicht alles
Begabung ist’s, was er von ihr begehrt.

Selbst wenn da mit der Schnelligkeit des Schalles
Ihr Ichbindein sich in den Beischlaf kehrt
Er legt so viel nicht auf die Eile wert
Bei der Entleerung seines Samenballes.

Wenn auch die Liebe erst das Feuer schürt
So braucht sie doch, um dann zu überwintern
Durchaus auch noch den talentierten Hintern.
Mehr nämlich als ein seelenvoller Blick
(Der auch vonnöten) ist da oft ein Trick
Prächtiger Schenkel, prächtig ausgeführt.
- Bertolt Brecht


Sobre um Leão Chinês de Raiz de Chá
Os maus temem tuas garras. 
Os bons alegram-se com teu garbo. 
O mesmo 
quero ouvir 
de meus versos.
Bertolt Brecht/ Haroldo de Campos, O duplo compromisso de Bertolt Brecht. In:_____. O Arco-Íris Branco, Rio de Janeiro, Imago, 1997, p. 164-165.


Auf einen chinesischen Theewurzellöwen
Die Schlechten fürchten deine Klaue.
Die Guten freuen sich deiner Grazie.
Derlei
Hörte ich gern
Von meinem Vers.
- Bertolt Brecht




Bertolt Brecht, por AU 2009
ALGUMA BIBLIOGRAFIA SOBRE A OBRA POÉTICA DE BERTOLT BRECHT
BARROSO, Ivo. A poesia utilitária de Bertolt Brecht. in: Gaveta do Ivo, 21.7.2012. Disponível no link. (acessado em 18.6.2015).
BREVE antologia de Brecht. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, abril/junho de 1966, n°. 9-10.
COSTA, Walter Carlos. Três Brechts. Fragmentos, número 25, p. 069/076 Florianópolis/ jul - dez/ 2003. Disponível no link. (acessado em 18.6.2015).
CUNHA, Vasco Soares de Oliveira. Bertolt Brecht (1898–1956).Vida e Obra. Millenium, 45, junho/dezembro 2013. p. 169-179. Disponível no link. (acessado em 17.6.2015).
DANIEL, Claudio. Reflexões brechtianas. in: Vermelho, 8 de novembro de 2013. Disponível no link. (acessado em 18.6.2015).
KONDER, Leandro. A Poesia de Brecht e a História. IEA/USP. Disponível no link. (acessado em 15.6.2015).
PAIS, Carlos Castilho. Noite e dia na tradução dos poemas de B. Brecht. in: univ.ab/pt. Disponível no link. (acessado em 18.6.2015).
PEIXOTO, Fernando. Brecht vida e obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974. 


OUTRAS FONTES DE PESQUISA
:: Arlindo Correia - Bertolt Brecht (poemas eróticos)


© Direitos reservados ao autor/e ou ao seus herdeiros

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske e José Alexandre

____
** Página atualizada em 28.10.2015.




Direitos Reservados © 2023 Templo Cultural Delfos

2 comentários:

Agradecemos a visita. Deixe seu comentário!

COMPARTILHE NAS SUAS REDES