- análise e revelação dos múltiplos papéis de uma trajetória de vida como patrimônio imaterial, histórico e um bem ético-moral da nacionalidade brasileira **
por Paulo Baía*
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Jose de Souza Marques (jovem) |
Estudar a
dinâmica da vida social, política e cultural de uma personalidade quase anônima
como José de Souza Marques teve por objetivo maior compreender a educação
cidadã, o combate às intolerâncias, a cultura da paz, o republicanismo democrático
e a ética do trabalho como uma virtude pessoal do empreendedor, estreitando o
contato com comunidades múltiplas e diversificadas por meio de um discurso
acadêmico que valoriza um fazer cotidiano que perde adeptos dia a dia;
contribui para pensar outras questões pertinentes, como o papel das lideranças
locais, educadores e militantes sociais nos processos de construção de
identidades, memórias e representações coletivas de uma nacionalidade
brasileira e o papel de instituições como escolas, igrejas não católicas, micro
e pequenas empresas e a maçonaria como espelhos das múltiplas comunidades
locais e loci de informação,
instrução e construção de uma cidadania periférica aos padrões ibéricos brancos
e excludentes, ao longo da história da sociedade e do Estado no Brasil dos
séculos XIX a XXI.
Vereador no
antigo Distrito Federal e depois Deputado Estadual no Estado da Guanabara, José
de Souza Marques lutou desde seu primeiro mandato pela aprovação de um projeto
de lei que assegurasse o financiamento a estudantes carentes em todos os
níveis, em particular a alfabetização e o ensino básico e médio.
Como vereador do
antigo Distrito Federal, Deputado Constituinte do Estado da Guanabara em 1960,
principal aliado na campanha de Leonel Brizola para Deputado Federal em 1962 e
um dos principais aliados do Deputado Federal Miro Teixeira a partir de 1969,
José de Souza Marques foi um dos principais e mais eficientes construtores das
institucionalidades cariocas e fluminenses dos anos 1940 até 1974, quando
faleceu como Deputado Estadual do antigo Estado da Guanabara, já sob o signo da
fusão com o Estado Federado do Rio de Janeiro.
Como político era
um ativista convicto, que agia de maneira gentil, bondosa e conciliadora. Era
considerado por seus pares um sábio e um magnífico conselheiro. Essa
característica fez com que José de Souza Marques, sem ser contra a construção
da estátua do Cristo Redentor na Floresta da Tijuca em área da União Federal,
articulasse um pacto de tolerância e respeito ao estado laico e às demais religiões
na cidade do Rio de Janeiro.
O Cristo Redentor
foi inaugurado em 12 de outubro de 1931. Sua construção foi precedida de uma
intensa controvérsia liderada por adeptos da Igreja Batista do Brasil, da
Igreja Metodista do Brasil, de grupos de cidadãos sem religião definida e
militares positivistas da ativa e da reserva que eram contrários à Igreja
Católica Apostólica Romana, hegemônica e majoritária na época, e que até o
início da República Federativa Brasileira em 1889 era a religião oficial do
Brasil.
Apesar das
controvérsias, o vereador do Distrito Federal José de Souza Marques, pastor da
Igreja Batista Brasileira, liderou um acordo entre os diversos grupos de
interesse e o Estado Nacional Brasileiro.
José de Souza
Marques assegurou que o monumento ao Cristo Redentor fosse utilizado e
administrado pela Igreja Católica Apostólica Romana, porém não fosse um
santuário católico, mas um símbolo do humanismo cristão e universalista.
A engenharia
política que teve José de Souza Marques como artífice perdurou até o Século
XXI, quando por decreto papal e do Arcebispo do Rio de Janeiro de 12 de outubro
de 2006 o monumento foi transformado em santuário.
Em 21 de novembro
de 2007 o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio-ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – por intermédio de seu Superintendente Regional Rogério Rocco,
ratifica o decreto papal e do Arcebispo do Rio de Janeiro de 12 de outubro de
2006, que é também referendado pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da
Silva. O monumento humanista e universalista
representado pela imensa estátua de Jesus Cristo – um monumento à paz, à
tolerância e ao humanismo laico da República tornou-se um santuário da
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, referendando o decreto papal e
do Arcebispo do Rio de Janeiro.
As propostas de
Souza Marques são semelhantes as que foram adotadas pelo Presidente Lula ao
implantar o PROUNI e os novos mecanismos do FIES. Paralelamente a isso, José de
Souza Marques mantinha intensa relação política com Martin Luther King e demais
líderes negros das religiões cristãs não católicas nos Estados Unidos,
alinhando seu discurso no Brasil à luta por direitos de cidadania, como a
reforma agrária, a educação em caráter permanente e pública, as liberdades
individuais, coletivas e difusas e uma reforma urbana que democratizasse as
formas de transporte coletivo e moradia, em um país que nos anos 1940 e 1950 já
indicava uma tendência à urbanização acelerada – lembrando que o Brasil tinha
um quase monopólio religioso da Igreja Cristã Católica Apostólica Romana.
Para Souza
Marques, a ideia e o conceito de público estavam vinculados à tradição social e
política dos Estados Unidos da América, onde público é tudo aquilo que
interfere ou tem relação com a sociedade e/ou grupos sociais. Assim, para os
americanos existem vários níveis do que é público, não havendo uma distinção
entre as atividades de estado, governos, entidades não governamentais e
instituições/empresas privadas. Existem atividades privativas de estado, como o
controle e o monopólio das Forças Armadas e dos diversos sistemas de informação
e contrainformação, com o objetivo de assegurar a soberania e ordem social,
política e territorial pelo Estado. Exemplos desse tipo de atividade de estado são
as agências como a CIA, o FBI, as agências reguladoras do meio-ambiente e
outras similares.
No Brasil, a
instauração da República em 1889consagrou o conceito e a ideia de público como
atividades de estado e governo muito amplas e quase universais, tanto que
público no Brasil republicano é quase um sinônimo de governamental e/ou
estatal. Contudo, com a Constituição de 5 de outubro de 1988 o conceito de
público se diversificou, ampliando-se para quatro categorias: o público
estatal, o governamental, o não governamental (ONGs) e o privado (as PPP,
parcerias público-privadas). Esta reconceituação da ideia de público e sua
introdução no ordenamento jurídico brasileiro em outubro de 1988 é
regulamentada pelas reformas do estado brasileiro realizadas no governo
Fernando Henrique Cardoso, sob a égide e comando do cientista social Luiz
Carlos Bresser Pereira como Ministro do MARE – Ministério da Administração e
Reforma do Estado.
Assim, o Brasil
do tempo presente tem sua estrutura e atividades assentadas em uma concepção de
que existem um público estatal, um público governamental, um público não
governamental e um público privado, como José de Souza Marques já compreendia,
e lutava para que essa ideia fosse introduzida em todas as práticas, ações e
atividades no Brasil, principalmente na educação. Essa noção de público
ampliada também é encontrada em Anísio Teixeira e Victor Nunes Leal,
interlocutores permanentes – principalmente o primeiro – de José de Souza
Marques.
José de Souza
Marques acreditava no potencial da educação e do trabalho como transformadores
da sociedade, e vinculou sua militância político-partidária às teses lideradas
no PTB – Partido Trabalhista Brasileiro – por Leonel Brizola e João Goulart.
Pode-se afirmar
que, além do PROUNI e do FIES adotados pelo Presidente Lula, a ideia da
Universidade da Integração Latino-Americana – UNILA, com sede em Foz do Iguaçu
e com o objetivo de acolher estudantes de todas as Américas como forma de
diminuir assimetrias e mediar conflitos e crises, encontra apoio nas ideias
políticas e sociais de José de Souza Marques já formuladas a partir de 1940 até
1974, data de seu falecimento.
O programa de
crédito educativo (PCE) foi criado em 23 de agosto de 1975 pelo então
Presidente Ernesto Geisel, que não era católico, mas luterano. Este programa
foi transformado, em 1999, pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso no
Programa de Financiamento Estudantil – FIES – que, com adaptações, está em
vigor até hoje como instrumento e mecanismo de governo complementar ao PROUNI.
Ernesto Geisel
leu os projetos de José de Souza Marques, que lhe foram enviados pelo Senador
Petrônio Portela e pelo Ministro da Justiça Armando Falcão.
O programa de
crédito educativo do Presidente Geisel tem 40% de semelhança com o projeto de
José de Souza Marques. Já o PROUNI e o FIES reestruturado do governo Lula são
100% semelhantes às propostas de José de Souza Marques, feitas desde os anos
1950 até 1974.
O processo de construção social do perfil político,
profissional e acadêmico de uma liderança local, como foi José de Souza
Marques, passa necessariamente pela apropriação[1] e
legitimação de uma idéia chave, como um patrimônio imaterial, histórico,
político e ideológico. Passa igualmente pelo reconhecimento de que o ator
social focado na análise exerceu, em um determinado tempo e espaço, uma autoridade
propagadora de valores transcendentes a seu tempo histórico, e de que seus
discursos, práticas, legado, memória social[2],
se transformaram em instituições formais e/ou informais para um segmento da
sociedade brasileira, assim como para o Estado Nacional no Brasil. A ênfase da
presente reflexão é o pensamento social e político de uma liderança do atual Estado
Federado do Rio de Janeiro no século XX, promovendo a identificação, descrição,
análise e avaliação da trajetória de vida dessa liderança local e regional no
antigo Distrito Federal, no antigo Estado da Guanabara e no atual Estado do Rio
de Janeiro, procurando realçar o pensamento social e político de José de Souza
Marques como uma liderança nacional e seu impacto na formação das
subjetividades coletivas, das identidades sociais e o alcance
político-estratégico de suas ações, atitudes e realizações no antigo Distrito
Federal e no Estado Federado da Guanabara, assim como suas conexões com o
Estado Nacional Brasileiro. De maneira focada, essa reflexão sobre as ações e o
pensamento de José de Souza Marques tem como meta promover um olhar sociológico
sobre José de Souza Marques, como afro-descendente pioneiro das ações
afirmativas no Brasil do tempo presente, educador, humanista cristão não católico,
jornalista, empresário, maçom, pastor batista e militante político parlamentar
republicano trabalhista. José de Souza Marques era neto de escravos, filho de
trabalhadores humildes - pai marceneiro e mãe lavadeira - nascido na Zona Norte
da Cidade do Rio de Janeiro em 1893, e criado, dos dois aos dezessete anos, no
distrito de Pinheiral, hoje município, que na época pertencia ao Município de
Volta Redonda. Retornou ao Distrito Federal aos dezessete anos de idade, sem
escolaridade, semi-analfabeto, e prático nas artes da marcenaria e carpintaria,
que aprendera com o pai. Faleceu em 1974, como deputado estadual da Guanabara
pelo MDB, e um dos pioneiros das políticas públicas focadas no combate à
desigualdade social, no combate ao racismo e na promoção de ações pontuais do
que se chama no tempo presente de políticas de ação afirmativa, que objetivavam
criar mecanismos de inclusão e mobilidade social para jovens nascidos nos
subúrbios periféricos e nas favelas, assim como para jovens pobres de ambos os
sexos, com ênfase nos afrodescendentes da cidade do Rio de Janeiro.
As questões acima mencionadas
tomaram forma a partir de minhas reflexões no campo dos estudos multi e
interdisciplinares da ciência política e da sociologia metropolitana, tendo
como âncora teórica as idéias de Carlo Ginzburg[3]
e Maurice Halbwachs[4],
para quem as lembranças sociais e as trajetórias de vida são construções
sociológicas e históricas elaboradas no tempo presente; a história é pensada e
descrita com novos significados ao se olhar do hoje, do tempo presente para o
passado, a partir da interação entre os indivíduos – enquanto atores sociais de
cenários territoriais, geográficos e sociais específicos por sua datação
histórica – que, entretanto, procuram manter coesão e consenso não apenas no tempo
histórico vivido, mas em suas re-inserções políticas, simbólicas e afetivas na
contemporaneidade da vida do agora, do hoje.
Todavia, minha experiência como
pesquisador social em campo revelou que as constantes invenções de tradições e
reconstruções do passado se faz a partir de processos seletivos que, na maior
parte das vezes, indicam e revelam o estabelecimento de um campo de disputas
pelo capital afetivo, político, ideológico e simbólico, contextualização das
lembranças e memórias sociais reconstruídas, negociações dos silêncios,
omissões e dominações de determinados segmentos sociais, micro e macro, sobre
outros que, por sua vez, mantêm em estado latente suas histórias. As leituras
de Pierre Bourdieu[5],
Eric Hobsbawn[6],
Michel Pollak[7],
Gizlene Neder[8],
Carlo Ginsburg[9] e
Maria Luiza Penna[10],
dentre outros, possibilitaram ampliar o meu entendimento sobre o contexto
territorial, cultural, ideológico e político que se me apresenta no empirismo
do trabalho de pesquisa social em campo; enfim, dar conta das particularidades
do cenário e do ator social analisado, destacando que junto ao analista estão
também o aluno, amigo e admirador de José de Souza Marques.
Uma vez que a subjetividade, o
imaginário, as lembranças e memórias individuais e coletivas são elementos
essenciais na constituição de identidades e representações coletivas, estudar a
dinâmica desse processo de socialização e construção social cotidiana torna-se
fundamental para a compreensão do objeto de pesquisa e reflexão sobre José de
Souza Marques. Acredito ser relevante contextualizar tal processo, isto é,
compreender o momento da sociedade carioca, fluminense e brasileira dos dias de
hoje, momento este de caracterização espaço-temporal, onde é possível construir
e reconstruir constantemente identidades coletivas e onde as questões da
experiência, da vivência, do conhecimento passado são determinantes
relativizados nessa dinâmica histórica do tempo passado. E, igualmente aos
processos da história individual e coletiva, essa reconstrução se dá em um espaço
de disputas, negociações, exclusões e dominações. Pensar tal questão a partir
de Stuart Hall[11]
possibilita a referida contextualização e permite compreender a lógica das
ações, tensões e intenções da trajetória de vida de José de Souza Marques.
Um elemento que contribui para
analisar os processos de constituição das dinâmicas sociais - micro e macro -
coletivas e identidades é a reunião de relatos, fatos, documentação e objetos
que configuram quase que um "romance", uma coleção. O processo de
seleção dos documentos, fatos, relatos e objetos – e construção de um discurso
político, social e ideológico a partir deles – se revela um elemento importante
na consolidação de identidades – individuais e coletivas – e na construção e
legitimação da história de vida de José de Souza Marques, especialmente no caso
de grupos e indivíduos comprometidos com um projeto de reconhecimento,
valorização, demanda por direitos e preservação da história de vida de José de
Souza Marques como um patrimônio imaterial e um bem ético-moral da
nacionalidade brasileira. A sociologia política histórica e identidade social e
nacional, enquanto construções, serão, portanto, representadas, reconstruídas e
preservadas como patrimônio imaterial, intelectual, político e ideológico dos
legados institucionais, pessoais, políticos e afetivos do personagem focado
nessa análise e reflexão.
Vale ressaltar que tanto a
constituição de uma trajetória de vida particular quanto a apropriação de um
contexto social, territorial e político são processos que revelam uma função
mediadora entre o visível e o invisível, resultado do deslocamento espacial –
do econômico e utilitário para o espaço dos desejos, interesses de natureza
política e ideológica – e de ressignificações[12].
Além disso, são também o conjunto de práticas sociais e culturais por meio das
quais se constituirão e se transformarão[13].
Compreendo o discurso da cultura política da
tradição e da ideologia como um vestígio, um sinal, um indício, enquanto
reconfiguração da tradição inventada pelo Estado moderno no Brasil do tempo
presente, levando em consideração sua tendência à formalização e a ritualização[14]
– através de práticas e políticas públicas e seus instrumentos específicos,
como as políticas de ações afirmativas e inclusão social, de 1983 até os dias
atuais – e a maior probabilidade de negociação por parte de atores sociais e
políticos envolvidos[15].
As demandas por direito e reconhecimento social[16],
quaisquer que sejam as suas categorias – históricas, sociais, culturais,
ideológicas e políticas – têm como função tentar integrar e também representar
a nação brasileira, mesmo que de forma fragmentada e estigmatizada; seriam,
portanto, uma alegoria[17]
da nação, composta de fragmentos, de vestígios, de ruínas no sentido que lhe é
atribuído por Walter Benjamin[18].
O discurso sobre a trajetória de
uma vida e as discussões sobre seu valor e sobre a importância de sua
preservação e projeção para o futuro surgem dentro de um contexto de
destruição, de perda. Novos líderes, nova ordem democrática necessitam, então,
de legitimação e de referência em um passado reinventado, ressemantizado e
recontextualizado historicamente. As demandas por reconhecimento social e por
direitos no Brasil do tempo presente, promovidas por pobres urbanos,
estabelecem um momento privilegiado e uma dinâmica sociopolítica de
reestruturação, de consolidação de nacionalismos pontuais e regionais, de
disputas mais acirradas pelo capital simbólico, material, econômico, político,
ideológico e afetivo de lutas, fatos, eventos, personagens e conflitos. Momento
novo, que necessita de signos referenciais para assegurar um sentimento de
pertencimento e que sejam, por sua vez, reapropriados e ressemantizados por
diversos movimentos sociais, segmentos populares e militantes políticos em
disputa por micro e macro hegemonias no território nacional brasileiro.
Daí por diante, serão tempos de
estabelecimento dos paradigmas sempre renovados das ciências humanas modernas,
dos seus campos específicos, de interseção disciplinar e limites
epistemológicos-cognitivos. Épocas de aceleração do tempo, encurtamento das
distâncias, novos olhares, novas tecnologias. As crises, oportunidades,
prazeres e desencantos sociais e individuais decorrentes da crescente e
vertiginosa mundialização em tempo real dos conhecimentos produzem influência
sobre a construção de um ou múltiplos novos olhares, ressemantizações de
representações, muitas vezes com formatos e sentidos paradoxais. A experiência,
a vida vivida, disputa lugar com a informação, a versão verossímil e os boatos,
via imprensa[19].
Informa-se e não vive-se[20].
Comunidades procuram ressemantizar os discursos, as falas, resgatar e manter
suas lembranças reconfiguradas, para não perdê-las. As pedras são restauradas
nos sentimentos, nas paixões, nos afetos para reconstruírem cenários, enredos e
dramas de memórias, em perigo pelo processo de homogeneização cultural
manufaturada midiaticamente pela sociedade do espetáculo[21]
– que já se vislumbrava no século XVIII com as celebrações – e pela
reestruturação contínua do espaço físico da cidade do Rio de Janeiro em espaços
europeus, espaços quilombolas[22],
segundas cidades e não cidades.
A cidade do Rio de Janeiro é um
território múltiplo, fragmentado, um território que é a um só tempo uma
totalidade e múltiplas cidades em disputa ou em complementaridade. Ou seja, existem
muitos Rios de Janeiro no mesmo espaço e tempo. Assim, utilizo os conceitos de
Gizlene Neder de cidade europeia que vai se americanizando e cidade quilombada
para dar visibilidade aos invisíveis da história, como muitas favelas e bairros
populares periféricos.
A cidade quilombada, segundo
Gizlene Neder, não é um território que foi no passado um quilombo, mas espaços
sociais e territoriais onde os arranjos sociais, políticos e afetivos são
bastante diferentes dos padrões da cidade europeia que vai se americanizando, e
é a referência dominante na definição do que é o Rio de Janeiro. Para Gizlene
Neder a cidade quilombada tem suas regras, seus arranjos sociopolíticos e
territoriais em contraponto aos padrões dominantes da cidade europeia que se
americaniza.
Estes contrapontos são múltiplos
e podem representar conflitos ou complementaridades subalternas. Os habitantes
de uma favela e/ou de um bairro popular periférico possuem uma dupla
hermenêutica, pois tem que circular em seu território de moradia e ao mesmo
tempo, como trabalhador e/ou desocupado, circulam na cidade europeia que se
americaniza. Para tal constroem para si mesmos ‘personas’ diferentes, uma para sua performance na cidade europeia/americana e outra para os territórios
quilombados.
Os habitantes da cidade
europeia/americana formatam suas ‘personas’
para os cenários europeus/americanos dominantes. Esses habitantes não
necessitam criar papéis sociais para circular nos bairros populares periféricos
e/ou favelas, pois estes espaços estão fora de suas existências. Já os
favelados e os habitantes dos bairros populares periféricos pertencem aos dois
territórios, o que exige deles a construção de personagens diferenciados em
função do território em que estão circulando.
Como pesquisador, incorporo a
análise de Gizlene Neder nesse estudo, porém também denomino as favelas e
bairros periféricos de segunda cidade e a cidade europeia/americana como
primeira cidade, pois essa é a cidade definida como Rio de Janeiro, enquanto
que os demais territórios são estigmatizados pelas invisibilidades ou pela
retórica de que são locais de vândalos e bandidos.
Assim, defino o território da
cidade do Rio de Janeiro como múltiplo, hierarquizado e fragmentado, já que
para os moradores desses espaços existem de fato duas cidades, em particular
para os favelados e moradores das periferias. Existem atitudes e comportamentos
distintos para cada totalidade da cidade do Rio de Janeiro, o que cria tensões
e gera habilidades performáticas de
favelados e periféricos extremamente complexas e criativas, pois estes atores
sociais devem ser europeus/americanos ao mesmo tempo que são favelados e
periféricos, com arranjos sociais, políticos e afetivos em contraponto perene
em suas vidas cotidianas. Incluo ainda os não locais, que chamo de não cidades;
são territórios dos totalmente desvalidos e miseráveis como os lixões, várzeas
de rios e as periferias das periferias. Os
moradores dos lixões são um exemplo emblemático da não cidade.
José de Souza Marques foi um artífice
de pontes, incentivando e formando cidadãos com livre trânsito em todas as
cidades do território da cidade do Rio de Janeiro.
Os guardiões da memória ou estão
mortos ou não têm quem lhes ouça; são todos andarilhos nas cidades europeia,
quilombola e segundas cidades da Região Metropolitana Fluminense. A memória não
seria mais vivida; não há ninguém para ouvir as últimas palavras e a
experiência de um moribundo nas frias e impessoais avenidas e rotas
cibernéticas, televisivas, cinematográficas e visuais do aqui e agora.
É nesse contexto que Gizlene
Neder[23]
e Pierre Nora[24]
identificam o surgimento dos lugares de memória – espaços físicos e simbólicos,
como locais, arquivos, bibliotecas, livros, fotos, objetos, instituições e
celebrações – que garantem ativamente a sobrevida de fragmentos, vestígios,
ruínas do tecido social que são a lembrança restaurada como reconstruída, uma
tentativa de assegurar não só o sentimento de reconhecimento e pertencimento,
mas de continuidade de um passado afetivo, político, ideológico e cultural de
tradições reconfiguradas também. A criação e preservação desses lugares da
memória irão refletir na formatação de uma lógica de lutas políticas por
reconhecimento social, demanda por direitos, ressignificação e ressemantização
dos falares e discursos. Assim é com José de Souza Marques na Igreja Batista,
na maçonaria, nas associações comerciais e industriais da Zona Norte e da Zona
Oeste pobre da cidade do Rio de Janeiro no tempo presente.
Vale abrir um parêntese e
ressaltar que a construção de um discurso sobre uma trajetória de vida, que
caracterize o pensamento social e político de José de Souza Marques, representa
a mensagem de um patrimônio imaterial, histórico e ideológico, que pode ser
apropriado por múltiplos e diversos movimentos sociais, resultando no
surgimento de diversos lugares sociais de memória – onde será possível observar
um processo de negociação para a construção de novos discursos[25]
silenciados pelas hegemonias políticas do tempo passado, muito embora diversos
elementos dessas narrativas sejam coercitivos – que vão procurar atender às
demandas sociais de cada época. Tal discurso constitui-se a partir de algumas
noções, como autenticidade, heroísmo, excepcionalidade e tradição na formação
de subjetividades, imaginários e ideais de nacionalidade brasileira.
Finalmente, vale ressaltar que a
construção de um discurso acadêmico-sociológico da trajetória de vida de José
de Souza Marques, assim como de outros líderes locais e regionais, desvelando
seus pensamentos sociais e políticos, representa uma estratégia da qual fazem
parte intelectuais e militantes políticos sociais comprometidos com um projeto
coletivo[26]
de uma República democrática que visa construir uma nova representação social e
política da nacionalidade brasileira. As considerações de Halbwachs, Gizlene
Neder, Gisálio Cerqueira, Eli Napoleão, Carlo Ginzburg e Lívia Buxbaum acerca
das representações sociais e memórias políticas construídas em um quadro social
determinado pelo silêncio e pela invisibilidade promovidos pelo Estado ibérico
e branco no Brasil podem lançar luzes à análise das especificidades desse
processo de construção de uma nova nacionalidade brasileira[27],
que efetivamente seja multiétnica e pluricultural, ao trazer como protagonistas
os silenciados e invisíveis da memória nacional, bem como das categorias
constituidoras do discurso acadêmico e político hegemônico que construiu e deu
visibilidade à idéia, ao imaginário, à memória e às lembranças fabricadas de
uma nação mansa, ordeira, pacífica, não violenta, legalista, onde o racismo, a
discriminação e o preconceito não existem, com coesão e o consenso de uma
população de milhões de brasileiros "iguais".
A escolha do objeto para
desenvolver a temática proposta partiu de algumas de suas características: a
percepção da influência de José de Souza Marques em minhas escolhas
profissionais, políticas e ideológicas; sua identificação como um guardião da
memória de afro-descendentes que ascenderam socialmente no Brasil e, por um
período determinado, obteve a colaboração da comunidade local; as Zonas Norte e
Oeste da cidade do Rio de Janeiro, o Colégio Souza Marques, a Faculdade Souza
Marques, a maçonaria, templos da Igreja Batista, associações comerciais e
industriais da Zona Norte e Zona Oeste, o Parlamento como lugares de memória,
assim como centenas de micro e pequenas empresas que existem e se nutrem das
ideias de empreendedorismo, prosperidade e sucesso da ética de trabalho
protagonizada por José de Souza Marques como empresário, pastor batista,
educador e líder político local, ao mesmo tempo universal.
Sendo assim, é
objetivo geral deste estudo analisar a trajetória de vida de José de Souza
Marques, suas propostas políticas e práticas de construção de uma cidadania
dirigida para pobres, suburbanos e afro-descendentes, a dinâmica de apropriação
do republicanismo trabalhista via Igreja Batista, maçonaria e ideia religiosa
norte-americana. Como objetivos específicos, a reflexão procurou analisar as relações
entre indivíduo, sociedade e instituições de cultura política e ensino nos
caminhos da trajetória de José de Souza Marques; identificar os valores,
ideologias, desejos, interesses e projetos, assim como os significados
atribuídos a José de Souza Marques ao longo de sua vida; investigar sobre as
ações de memória produzidas por José de Souza Marques – uma auto-biografia e um
livro intitulado 'Pensamentos para você pensar'; e ao estudar
depoimentos, fatos, versões e eventos, analisar a relação da comunidade local
com os espaços, procurando identificar se o Colégio e a Faculdade Souza Marques
são loci de práticas de construção e
consolidação de um sentimento de reconhecimento político e social de José de
Souza Marques e para pobres e afro-descendentes; analisar o conjunto de
representações que compõe o discurso múltiplo de José de Souza Marques;
compreender o processo de institucionalização de um acervo particular consorciado
com arquivos privados como a Maçonaria e públicos de estado e governo, como os
da ALERJ, da Biblioteca Nacional, Arquivos Públicos Nacional, Estadual e
Municipal, ao compor um panorama da preservação de sua trajetória de vida como
um patrimônio imaterial e histórico do Rio de Janeiro e do Brasil.
Procuro
compreender a trajetória de vida de José de Souza Marques a partir de alguns
pressupostos, a saber:
1 – a construção e os sentidos do
discurso humanista, cristão não católico, político, ideológico e social
configura um processo de invenção de uma nova tradição, pautada na busca pelo
consenso sobre algumas questões, como a importância da mobilidade social, a
luta contra o racismo, a educação como valor republicano, a proteção social de
pobres e afro-descendentes como valores
patrimoniais afetivos e simbólicos relacionados às elites – e a sua capacidade
de representar, de simbolizar a nação como uma totalidade;
2 – os usos, apropriações e
valorizações da trajetória de vida de José de Souza Marques revelam relações de
poder, e conflitos aparentes envolvendo distintos segmentos sociais na cidade
do Rio de Janeiro como capital da República e no Estado da Guanabara;
3 – os distintos segmentos sociais
envolvidos no processo revelam um conflito entre interesses, de ordem
ideológica, política, cultural, econômica, simbólica e afetiva;
4 – como militante político,
religioso, educador e líder local envolvido com um processo civilizador e
pedagógico, tem um controle maior sobre os sentimentos e, por isso, pode
determinar estrategicamente os usos políticos e ideológicos na sociedade
carioca e fluminense a que tem acesso e influência;
5 – as transformações ocorridas no
discurso político e social na atualidade seriam decorrentes de ações do tempo
passado de lógica política e ideológica intencional e prospectiva, isto é, para
legitimar a aquisição de poder e prestígio de determinada parcela da população
carioca, fluminense e brasileira composta por pobres, suburbanos e
afro-descendentes;
6 – o passado é resultado do
acúmulo de experiências, onde há espaço para ação, coerção e negociação,
partindo da noção de estruturas estruturadas e estruturantes[28];
7 – para compreender
as possibilidades e práticas de apropriação e ressignificação das trajetórias
de vida por parte da sociedade e do Estado no Brasil do tempo presente, procuro
orientação a partir dos trabalhos de Gizlene Neder, Gisálio Cerqueira, Lívia
Buxbaum, Maria Luiza Penna, Eli Napoleão, José Reginaldo Gonçalves, Márcia
Contins, Carlos Alberto Medeiros, Miro Teixeira, Abdias do Nascimento, Jorge da
Silva, Joel Rufino, entre outros.
O estudo pretende contribuir com
dados e reflexões para o enriquecimento das discussões acerca da temática da intolerância,
desigualdade social, pobreza, mobilidade social, republicanismo, educação, empreendedorismo,
relações interétnicas, racismo e políticas de ações afirmativas no Brasil do
tempo presente. Analisei cuidadosamente o modo e as condições como uma
estratégia de vida contribuiu para que diferentes setores da sociedade carioca,
fluminense e nacional interagissem como agentes de mudanças pontuais nos
governos federal, estadual e municipal, na educação, no mundo do trabalho, nas
políticas públicas, nas comunidades locais, dentre outros. Esse estudo, mesmo
limitado nos paradigmas da linha de pesquisa, estabeleceu conexões
interpretativas que buscaram revelar os múltiplos papéis de uma trajetória de
vida como patrimônio imaterial, político e histórico, gerador de apropriações e
ressemantizações por parte de múltiplos grupos envolvidos, uma vez que partiu
de uma perspectiva compreensiva em que se priorizou a análise dos conflitos,
disputas, hierarquizações e exclusões que fazem parte dos processos de
constituição e legitimação de pobres, suburbanos e afro-descendentes, em uma
sociedade e Estado altamente hierarquizados e excludentes. Compreendo o
desenvolvimento do tema a partir de uma perspectiva sociológica e política
preocupada em caracterizar e analisar as relações entre os distintos segmentos
sociais envolvidos no contexto estudado, a trajetória de vida de José de Souza
Marques.
Parto da perspectiva
de Clifford Geertz, antropólogo de orientação culturalista, para quem a
compreensão das construções coletivas, transmitidas historicamente, só pode ser
feita a partir da malha de significados que a sociedade produziu[29].
Procurei em tempo contínuo interpretar o processo de construção e apropriação
de um determinado sistema de concepções.
A partir da
análise que efetuei, indico que estudar a dinâmica da vida social, política e
cultural de uma personalidade como José de Souza Marques, teve por objetivo
maior desenvolver tanto a educação cidadã quanto o republicanismo democrático,
além de estreitar o contato com comunidades múltiplas e diversificadas por meio
de um discurso acadêmico que valoriza um fazer cotidiano que perde adeptos dia
a dia, mas que contribui para pensar outras questões pertinentes, como o papel
das lideranças locais, educadores e militantes sociais nos processos de
construção de identidades, memórias e representações coletivas de uma
nacionalidade brasileira e o papel de instituições como escolas, igrejas não
católicas, a maçonaria, associações comerciais e industriais da Zona Norte e da
Zona Oeste pobre da cidade do Rio de Janeiro, assim como uma rede de micro e
pequenas empresas tocadas pela coragem de empreendedores individuais e/ou
familiares tendo a ética do trabalho como eixo motivador para o sucesso, a
prosperidade e o reconhecimento social como espelhos das múltiplas comunidades
locais e loci de informação,
instrução e construção de uma cidadania periférica aos padrões ibéricos brancos
e excludentes, ao longo da história da sociedade e do Estado no Brasil dos
séculos XIX a XXI[30].
No governo Luiz
Inácio Lula da Silva um conjunto de incentivos foram dados às empresas
individuais, às micro e pequenas empresas, via financiamentos do BNDES, do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, bem como implementaram-se modelos
de simplificação no pagamento de impostos e regularização de empresas. No
governo Lula as ideias de José de Souza Marques sobre empreendedorismo e ética
do trabalho também ganham formato e inúmeras atividades por intermédio do
SEBRAE.
A perspectiva do
trabalho foi compreender o sentido atribuído a algumas categorias, a saber:
trajetória de vida como patrimônio imaterial e histórico, memória nacional
brasileira, memória local, memória histórica de invisíveis[31],
anônimos e silenciosos, espaço urbano, território, Estado, sociedade e
comunidades, dentre outras, para dar conta da caracterização e análise das
reapropriações e ressemantizações das referidas categorias por parte dos
diversos segmentos sociais que participam da trajetória de vida, reconhecimento
e preservação da memória de José de Souza Marques como um bem de valor
histórico para a nação brasileira no tempo presente.
Parto do pressuposto de que a
trajetória de vida como patrimônio imaterial, político, ideológico e histórico
é preservada não somente por algumas políticas públicas. O patrimônio e o
legado de uma vida vivida é construído e preservado através de relações entre
os distintos segmentos sociais que, dependendo do valor que atribuem a ele, dos
seus interesses em relação a ele e dos sentimentos de afeto e pertencimento que
ele lhes desperta, vão facilitar ou dificultar sua preservação. Como
anteriormente mencionado, nessas relações é possível observar a construção de
um campo de disputas, negociações, omissões, distorções, silêncio, boatos e
exclusões, considerando os diversos interesses em jogo.
Sendo assim, quando observei e
analisei as relações de sociabilidade, conflitos e negociações entre guardiões
das memórias, militantes sociais, comunidades locais e de interesses e os
lugares da memória foi uma tarefa, uma missão político-ideológica, que
ultrapassou o campo do concreto, do dado material, escrito e documentado. Foi
necessário buscar e identificar dados e informações que se encontram no campo
da subjetividade, do imaginário, dos desejos e das escolhas, revelados pelos
aspectos simbólicos das relações de sociabilidades entre os atores envolvidos
nas disputas políticas, ideológicas, culturais, econômicas, simbólicas e afetivas.
Nesse sentido, procurei, orientado pelas idéias de Clifford Geertz, Gizlene
Neder, Gisálio Cerqueira Filho, Guerreiro Ramos e outros, interpretar os
conjuntos de símbolos inseridos no contexto social e psicológico.
As entrevistas abertas foram realizadas por estudantes
de ciências sociais e psicologia da UFRJ, supervisionadas pela jornalista e
socióloga Lívia Buxbaum, com contemporâneos políticos, religiosos, com a
maçonaria e com maçons que conheceram e trabalharam com José de Souza Marques,
parentes e ex-alunos.
Tive longas conversas com o Deputado Federal Miro
Teixeira, que foi amigo de José de Souza Marques, com suas filhas e neta.
Também conversei com lideranças maçons e com Leonel de Moura Brizola.
O historiador Peter Burke[32],
sobre a obra de Norbert Elias, destaca que a
noção do cotidiano é menos precisa e mais complicada do que parece. É
quando a inerente subjetividade das fontes – sejam de natureza oral ou escrita
– se nos apresenta. Todavia, como toda construção é uma interpretação variável,
considerando seus pontos de partida, enfoques e questões mais ou menos
relevantes, uma das metas a alcançar através da metodologia escolhida é colher
as informações ditas, bem como as não ditas. Na pesquisa empírica com as fontes
orais, procurarei observar aquilo que o narrador diz com palavras, com
silêncios, com hesitações, com gestos mais ou menos marcantes, com o olhar –
que a sabedoria popular nos indica ser o reflexo da alma – com o corpo, para
captar algo que suas palavras não exprimiram.
Com efeito, para que a utilização das entrevistas
abertas feitas pelos estudantes de ciências sociais e psicologia da UFRJ como
método de pesquisa empírica neste trabalho obtivessem os resultados desejados
nos objetivos da pesquisa, o método de observação participante foi fundamental.
Isso foi feito por mim e acarretou em visitas constantes e permanências ao
bairro de Cascadura, onde se localizam o Colégio Souza Marques, a Fundação
Técnica Educacional Souza Marques e todo o acervo pessoal de José de Souza
Marques, além de suas filhas, netas, netos e muitos amigos antigos. Miro
Teixeira e Estela Souza Marques foram as principais âncoras de minhas
entrevistas em profundidade e das conversas mais abrangentes e pormenorizadas.
Além das
referidas visitas ao bairro de Cascadura, ao longo da pesquisa tive conversas
profissionais com religiosos da Igreja Batista do Engenho Novo, igreja que foi
construída por José de Souza Marques e frequentada, até o tempo presente, por
toda sua família. Também foram necessárias visitas frequentes ao Palácio Maçom
da Rua do Lavradio, onde existe um "espaço de memória", um auditório
denominado Salão Nobre Pastor José de Souza Marques e um retrato pintado a óleo
de José de Souza Marques, que foi presidente do Superior Tribunal Maçom por
décadas.
Realizei visitas, conversas, entrevistas e
consultas no Colégio Batista da Tijuca, onde José de Souza Marques se
alfabetizou, trabalhou como faxineiro, inspetor de alunos, professor e
vice-diretor. Consultei os arquivos da antiga Assembléia Legislativa do Estado
Federado da Guanabara, hoje localizados na ALERJ; aos arquivos públicos do
Município do Rio de Janeiro e ao Arquivo Nacional, sobre o período do Rio de
Janeiro como Distrito Federal, e aos arquivos do Conselho Estadual de Educação
e do Ministério da Educação; aos arquivos do Tribunal Superior Eleitoral e da
Igreja Batista do Engenho Novo; a coleção de objetos, documentos, jornais e
revistas, fotos em poder da família Souza Marques; aos arquivos do Colégio
Batista da Tijuca.
A pesquisa foi realizada de março de 2009 até
novembro de 2011.
Acredito que a técnica da observação participante e
das conversas em profundidade foram fundamentais para a reunião de um conjunto
de dados que me permitiu uma compreensão – com profundidade – acerca do
universo da pesquisa e reflexão sobre a trajetória de vida de José de Souza
Marques. Somente através do trabalho de campo foi possível identificar as
transformações dos espaços geográficos físico e simbólico da cidade do Rio de
Janeiro devido à reestruturação do espaço urbano onde José de Souza Marques
viveu e agiu, e como tal processo afetou as relações entre os múltiplos
segmentos sociais em que José
de Souza Marques circulou e interveio.
Para responder às questões norteadoras do estudo, foi
necessário coletar – nas entrevistas temáticas e de vida, bem como durante a
observação participante e as conversas profissionais em profundidade – dados
acerca da vida, das ações, dos projetos e das práticas sociais, políticas,
culturais, de lazer e outras de José de Souza Marques.
Para
que a pesquisa obtivesse um corpo teórico que sustente as argumentações aqui
discutidas, foi necessário um consistente estudo bibliográfico acerca da
relação entre história de vida, história oral, observação e pesquisa documental
nos processos de constituição de representações e identidades sociais;
construção de discursos políticos, de educação, de nacionalidade, de políticas
sociais e demandas por direitos, ideologias e relações sociais enquanto atores
sociais em disputas e tensões. Para realizar esta etapa da pesquisa, fiz um
levantamento bibliográfico e documental sobre a temática em questão que revelou
as relações estabelecidas entre os guardiões da memória e a trajetória de vida
de José de Souza Marques.
Vale ressaltar que, para
eleger as bases de um quadro referencial teórico capaz de desenvolver e
responder às questões norteadores da pesquisa, foi necessário lançar-se a campo
e recolher alguns dados acerca do objeto que me permitiram constituir um perfil
preliminar. Sendo assim, para o estudo dos processos e práticas de constituição
de uma trajetória de vida como um patrimônio imaterial, político, ideológico,
cultural e histórico tive a perspectiva de dialogar com a tradição sociológica,
antropológica e histórica dos estudos de memória, dinâmicas políticas,
ideologia e análise de discursos, lançando mão dos discursos de Maurice
Halbwachs, Gizlene Neder, Gisálio Cerqueira Filho, Carlo Ginsburg e Pierre
Nora, uma vez que os autores nos apresentam a discussão da operação da memória
enquanto reconstrução do tempo presente e fruto das relações sociais, sendo a
memória, ao mesmo tempo, um processo constituído e constituidor. Esse processo
lançou luzes para compreender e analisar os enquadramentos de memória e as
memórias subterrâneas daqueles que perderam a disputa pelo espaço ou pelo
capital simbólico; para compreender o contexto atual de valorização da memória
e as práticas de patrimonialização imaterial cada vez mais presentes no país;
para analisar a construção dos discursos sociológicos sobre memória –
Malinowski; para compreender o discurso do patrimônio imaterial, intelectual e
histórico enquanto construção sem, a princípio, conflitos e questionamentos
aparentes – Joel Candau, Ecléa Bosi, Stuart Hall, Gilberto Velho, Luis César
Baía, Olívia Galvão, Carlos Alberto Medeiros, Lívia Buxbaum –, no sentido de
articular especialmente as noções de memória, identidade, nação e trajetória de
vida.
Para tratar da categoria lugar da
memória – e compreender suas transformações e ressignificações – lancei mão das
reflexões de Mary Douglas, Tereza Scheiner, Mathilde Bellaigue, Neil Postman,
Gizlene Neder, Edgar Morin, Zygmunt Baumann, Pierre Bourdieu, Norbert Elias e Roberto
Cardoso de Oliveira.
As categorias coleções e objetos foram
pensadas com base em
Marcel Mauss , Krysztof Pomian, Eli Napoleão, James Clifford, George
Simmel, Walter Benjamin e Luiz Roberto Cardoso de Oliveira.
Sociedade e comunidade foram
categorias desenvolvidas a partir das considerações de Florestan Fernandes,
Oraci Nogueira, Gisálio Cerqueira Filho, Guerreiro Ramos, Zygmunt Baumann,
Pierre Bourdieu, Norbert Elias, Contardo Caligaris, Lavoisier Zizek, Darcy
Ribeiro, Gilberto Freire, José Murilo de Carvalho e Antônio Cândido, para os
quais o indivíduo, constituído pelo campus,
irá disputar pelo capital simbólico e afetivo.
Finalmente, espaços e
territórios, enquanto loci geográficos de hierarquizações, disputas e
negociações, foram categorias desenvolvidas e amparadas nas considerações de
Milton Santos, Bernard Bachelet, Michel de Certeau, Henri Lefebvre, Luiz César
Queiroz, Paul Singer, Manuel Castells e Benício Vieira Schmidt.
NOTAS
[1]
Compreendo a ação “apropriação” enquanto atitude de poder e controle sobre o
objeto apropriado, que implica em um processo de identificação. GONÇALVES, José
Reginaldo dos Santos. A retórica da
perda. Rio de Janeiro: Rio de janeiro: Editora UFRJ/IPHAN, 2002.
[2]
GONÇALVES, ib, ibidem.
[3] GINZBURG, Carlo. Mitos,
emblemas, sinais – morfologia e história. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.
[4]
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva.
São Paulo: Vértice Editora, 1990.
[5]
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
[6] HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (org.).
A invenção das tradições
Rio de Janeiro: Paz e terra, 1984.
[7] POLLAK, Michel. Memória,
esquecimento e silêncio. In: Estudos Históricos, v.2, nº3, Rio de Janeiro: Associação de
Pesquisa e Documentação Histórica, 1989, p.3-15.
[8] NEDER, Gizlene. “Cidade, Identidade e
exclusão social”. In: Tempo. Vol 2,
nº 3. pp. 106‑134. Rio de Janeiro, 1997.
[9] GINZBURG, Carlo.
Mitos, emblemas, sinais –
morfologia e história. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.
[12]
POMIAN, Krzyzstof.
Coleção. In: Enciclopédia Einaudi. Vol. 1, Memória e História. Edição Portuguesa:
Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1997, p. 51-86.
[13]
GONÇALVES, José Reginaldo dos Santos. Coleções, museus e teorias antropológicas
reflexões sobre o conhecimento etnográfico e visualidade. In: Cadernos de antropologia e Imagem, nº8,
Rio de Janeiro, 1999, p.21-34.
[14] HOBSBAWM,
Eric, op. cit.
[15] BAÍA, Paulo. A tradição reconfigurada: mandonismo local, municipalismo, lumpen-elite e cultura política (tese). Seropédica:
UFRRJ, 2006.
[16] HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática
moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.
[17]
GONÇALVES, José Reginaldo dos Santos. A
retórica da perda. Rio de Janeiro: Rio de janeiro: Editora UFRJ/IPHAN,
2002.
[18]
BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco
alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
[19]
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Obras escolhidas – magia e técnica, arte e política. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
[20] WOLTON,
Dominique. Pensar a comunicação. Brasília: UNB, 2004.
[21] DEBORD,
Guy. Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.
[22]
NEDER, Gizlene. “Cidade, Identidade e
exclusão social”. In: Tempo. Vol 2,
nº 3. pp. 106‑134. Rio de Janeiro, 1997.
[23]
NEDER, Gizlene, ib., ibidem.
[24]
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Revista História, nº 10, São Paulo: PUC, 1993, p.7-28.
[25]
Compreendidos aqui a partir de sua relação estreita com os grupos dominantes,
de valores como civilização e cultura e da intenção de representação de uma
totalidade. GONÇALVES, José Reginaldo dos Santos. “Monumentalidade e cotidiano:
os patrimônios culturais como gênero de discurso”. In: Cidade: História e
Desafios. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.
[26] GUERREIRO RAMOS. Introdução crítica à sociedade brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.
[27] DOMINGUES,
José Maurício. Criatividade
social, subjetividade coletiva e a modernidade brasileira contemporânea. Rio de
Janeiro: Contra Capa, 1999.
[28] BOURDIEU, Pierre, op. Cit.
[29]
GEERTZ, Clifford. A interpretação das
culturas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1978.
[30] BAÍA,
Paulo. A tradição reconfigurada: mandonismo local, municipalismo, lumpen-elitee cultura política (tese). Seropédica: UFRRJ, 2006.
[31]
PERROT, M. Os excluídos da história – operários, mulheres e prisioneiros. São
Paulo: Paz e Terra, 2001.
[32]
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* Nota biográfica
Paulo Baía, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976), mestre em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (2001) e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006). Atualmente é professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenador do Núcleo de Sociologia do Poder e Assuntos Estratégicos, pesquisador associado sênior do Laboratório Cidade e Poder da UFF, do Laboratório de Estudos de Gênero do IFCS/UFRJ e do Núcleo de Inclusão Social (NIS) - UFRJ. Tem experiência nas áreas de Sociologia e Ciência Política, com ênfase em sociologia política, atuando principalmente nos seguintes temas: pensamento social brasileiro, estudos estratégicos, teoria política, cultura política, pensamento social, defesa nacional, segurança pública, desigualdades sociais, cidadania, violência, direitos humanos, eleições, estudos urbanos, sistemas de informação/contra-informação/inteligência e boato. (CV Lattes). E-mail: paulorsbaia - e - paulorsbaia-ifcs.
BAIA, Paulo Rogério dos Santos. Pensamento Social e Político de José de Souza Marques: análise da trajetória de vida de um afro-descendente pioneiro das ações afirmativas no Brasil. Passagens: Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, v. 5, p. 102-125, 2013. Disponível no link. (acessado em 8.11.2013).
- Núcleo de Inclusão Social – IFCS/UFRJ
- Laboratório Cidade e Poder - UFF
*** Autorizada a reprodução deste artigo integral ou parcial, desde que citados os devidos créditos e a fonte.
ELFI,
ResponderExcluirestou chegando agora de um passeio meio longo, mas prometo que irei devorar mas este seus trabalho .
Um abração carioca.