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Bruna Beber - a poética do instante

Bruna Beber - foto: Rafael Roncato
ludíbrio 
vou enterrar cada parte
junto ao rasto impreciso
dos mínimos sinais

e sobre cada indício
construir um cemitério
de notícias

qualquer dia apareça
de surpresa
como um soluço.
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.


Bruna Beber (Bruna Beber Franco Alexandrino de Lima) escritora carioca, nascida em 5 de março de 1984, na cidade de Duque de Caxias, um dos municípios da baixada fluminense. Vive, atualmente, em São Paulo. Já trabalhou como redatora publicitária, jornalista e tradutora. Também trabalhou com pesquisa, produção e revisão de conteúdo para livros e roteiros para TV. Publicou, em setembro de 2006, seu livro de estréia de poesia 'A fila sem fim dos demônios descontentes'.
A poesia de Bruna Beber combina de maneira original humor e melancolia para falar dos azares da vida amorosa, revelar breves instantâneos da paisagem urbana brasileira e refletir sobre o próprio ofício de escritora, driblando com igual habilidade o solene e o banal. Seus poemas, reconhecidos entre os mais importantes de sua geração, já foram publicados em revistas e antologias no Brasil, Alemanha, Argentina, Espanha, Estados Unidos, México e Portugal. 



bruna beber, por beta maya
obra de bruna beber
poesia
:: A fila sem fim dos demônios descontentesRio de Janeiro: 7Letras, 2006.
:: Balés. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.
:: Rapapés & apupos. [ilustrações Francine Jallageas]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.
:: Rua da PadariA. Rio de Janeiro: Editora Record, 2013. 

Antologia (participação)
poesia
:: Caos portátil: poesía contemporánea del Brasil. {autores: Elisa Andrade Buzzo-Bruna Beber-Rod Britto-Sergio Cohn-Bruno Dorigatti-Camila do Valle-Angélica Freitas-Izabela Guerra Leal-Augusto de Guimaraens Cavalcanti-André Monteiro-Elza de Sá Nogueira-Ana Rüsche-Virna Texeira}.. [selección de Camila do Valle y Cecilia Pavón; traducción de Cecilia Pavón]. Edición bilingüe. Edições El Billar de Lucrecia, 2007.
:: Poesia do dia: poetas de hoje para leitores de agora. {autores: Alberto Pucheu, André Dick, Bruna Beber, Danilo Monteiro, Diego Vinhas, Elisa Andrade Buzzo, Fabricio Carpinejar, Fabricio Corsaletti, Joca Reiners Terron, Marcelo Camelo, Mario Bortolotto, Paulo Scott, Paulo Seben, Rodrigo Petronio}.. [ilustrações Leandro Velloso]. Coleção Quero Ler São Paulo: Editora Ática, 2008.
:: Traçados diversos - antologia de poesia contemporânea. [organização Adilson Miguel].. {autores: Annita Costa Malufe, Antonio Cicero, Arnaldo Antunes, Bruna Beber, Chacal, Donizete Galvao, Fabiano Calixto, Fabio Weintraub, Fabricio Corsaletti, Fernando Paixao, Heitor Ferraz Melo, Ricardo Aleixo e Ruy Proença}. Coleção Escrita Contemporânea: Rio de Janeiro: Editora Scipione, 2009.
:: Otra línea de fuego. antologia espanhola de poesia brasileira contemporânea. [organização Heloísa Buarque de Hollanda e Teresa Arjón]. Edição bilíngue. Editora Selo Maremoto, 2009.

crônica
:: BlablaBlogue. [organização Nelson de Oliveira]. Editora Terracota, maio 2009
:: Pitanga. [edição independente da loja Pitanga]. Lisboa/Portugal, outubro de 2009.



Bruna Beber - foto: Daniel Barros
poemas selecionadas de bruna beber

As avós e as tias
durante toda minha caminhada
pela bola que uns chamam
de terra e outros de água
ou como carinhosamente
já apelidaram um amigo
balofo no colégio
só consegui
tomar posse
de uma certeza
e por isso gostaria
de dividi-la passem
para os seus filhos:
não há
sequer 
um ser 
humano que caminhe
pela bola – há quem
a diga achatada –
que não tenha
não teve
ou nunca terá 
uma 
toalha 
bordada
é importante 
que seus filhos
passem pros deles
essa verdade
mas se não tiverem
filhos netos tudo bem
sempre terão toalhas
bordadas.
- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA". Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.

§

A violência
vontade constante
de dizer te quero tanto
dela me distraio
mas você me abraça
e de repente todo
o mundo não tem
membros superiores
e então me beija
eu poderia matar
todas as plantas
tenho muito ar
até que sinto
na ponta dos dedos
a coragem de dizê-la.
- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA". Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.

§

barragem
deve ser perigoso
esse gosto recorrente
de incêndio na boca

mas não há saliva pra apagar
e não há saliva que apague
por isso falo pouco

não sei o que de fato queima
fecho a boca e o fogo sai
pelo nariz

respiro mal, meu ar é qualquer fumaça
queria um gosto bom, queria pernas
pra sair correndo.
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§

dotes 
coleciono mas não leio
cartas antigas, anúncios de almanaque
em latas de goiabada nolasco

sei que estou em permanente mudança
porque todos os dias abro e fecho
gavetas e caixas

no entanto aprendi pouco sobre apostas
e temporais, só sei que levam
muito mais do que trazem.
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§


John Cage
partiremos
surgiremos
morreremos

dos barulhos afinados estancados das sirenes do corpo
de bombeiros

surgiremos
morreremos
partiremos

dos assovios noturnos
do vento
nas altas esquadrias

morreremos
partiremos
surgiremos

num palco abandonado
para cantar uma música
e sair.
- Bruna Beber, no livro "A fila sem fim dos demônios descontentes". Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

§

Lusofeelings
quando formiga e arde
o nariz e o olho
engulo

choro com saliva
e o que mais comprometa
a fala

a despedida é tão intrigante
quanto a saudade
desnecessária

banho de água fria
se cura com um balde
de café

beijo a mão e aceno
para o espelho
o dedo do meio
- Bruna Beber, no livro "A fila sem fim dos demônios descontentes". Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

§

o pecúlio
estou sempre indo ao seu encontro
chego de costas pra você achar que estou indo embora
saio de frente pra você achar que estou chegando
estou sempre perdido indo ao seu encontro

é assim a minha vida e o meu calendário
eu estou sempre indo ao seu encontro
não preciso ir mais longe pra saber
que estou sempre indo ao seu encontro.
- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA". Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.

§

paraquedistas
escrever é dedicar
os dedos à marcenaria
de qualquer jardim

desatamos as mãos
e a tontura que dá
vem do alto

o cair das nuvens folhas
passarinho avião papel
picado a lua no mar

silêncio de planta, euforia
de cama elástica, alegria
de piquenique no parque

e tanto carinho
guardo pra você
numa luva de boxe
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§

Rio de Janeth
chovem rios
mas aqui é o mar
quem leva a Princesinha
do Braguinha pra cheirar pó
com o Tom e a Garota de Ipanema
e o Viníciu Em Copacabana
Drummond nos esper
sentado marcando uma hora
para ver as bailarinas
mexendo as mãos no ar
condicionado do Municipal.
- Bruna Beber, no livro "A fila sem fim dos demônios descontentes". Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

§

sentido sem título
quando penso que queria
que caísse sobre nós
a pedra da gávea

dou aquela risadinha
maligna em seguida
aquela choradinha

invisível, atravessada
entre o olho e a garganta
nem piscando passa
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§

Situação
to dormindo no lodo
da vala confortável onde dormem
os apaixonados

e lambendo sabão de cachorro
sorrindo, e sentindo cheiro de maçã
onde não tem

chamando os amigos pra almoçar
e deixando a comida esfriar
pra falar de você.
- Bruna Beber, no livro "A fila sem fim dos demônios descontentes". Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

§

sonata
não me emociona o heroísmo
o que arranha as unhas nas paredes
do precipício deixo cair

a saudade que se sente,
o faz de conta, aquela fantasia
não me emocionam mais

meu coração parou de bater e agora
o que você chama de amor
eu não atendo mais
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§

verbo irregular
pra sempre é passado
é mais uma promessa apostando corrida
com todas as outras
na escadaria da igreja da penha

voltaria atrás
de joelhos
pra chegar primeiro
no futuro

porque se o tempo cura tudo
e o tal futuro a deus pertence
não vou duvidar
que milagres acontecem

mas pra sempre vou achar
não quero me especializar
em ter certezas, em fabricar
situações definitivas
toda vez que me vierem à cabeça
seus lábios de algodão
doce se dissolvendo
nos meus.
- Bruna Beber, no livro "Rapapés & apupos". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.


bruna beber - foto: elisa mendes
fortuna crítica de bruna beber
ARIEL, Marcelo. Beber-blues (A fila sem fim dos demônios descontentes). in: O TeatroFantasma, 13 de março de 2007. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
BEBER, Bruna. Muito prazer, Bruna. 'Correspondência'. in: Instituto Moreira Salles, 20.3.2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
BECKER, Paulo. Balés, de Bruna Beber. in: meusdemonioscantam, 12.4.2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
GUIMARÃES, Raquel Beatriz Junqueira. Poesia, dança e música em Balés, de Bruna Beber. in: Lit Cult, s/d. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
FAGUNDES, Igor. A grande confusão das coisas simples. in: Jornal Rascunho, edição 115, janeiro de 2012. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
LEONES, André de.. Para se esconder da rotina num quarto escuro. (resenha). in: Diário de Cuiabá, especial - DC Ilustrado, e dição nº 11756 - 4.3.2007. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
LEVINO, Rodrigo. Bruna Beber lança seu quarto livro de poesias na quinta-feira em São Paulo. in: Folha S. Paulo, ilustrada - 17.7.2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
MELLO, Ramon. A poesia de Bruna Beber. in: debê produções. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
MENDES, André Di Bernardi Batista. Bruna Beber lança 'Rua da padaria' e confirma seu lugar na poesia brasileira contemporânea. in: Estado de Minas, divirta-se - 11.1.2014. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
PEREIRA, Fabiane. Entrevista Bruna Beber: "Não há só um caminho a seguir. o que tem que fazer é escrever e circular, o resto vem devagar com o tempo, como tudo". in: Heloisa Tolipan, arte e literatura, 8.8.2016. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
SOUZA, Susan. Bruna Beber recorda infância nos anos 1990 com poemas de "Rua da Padaria". in: iG, Último Segundo (são paulo), livros, 28 de julho de 2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
TRIGO, Luciano. Em ‘Rua da Padaria’, Bruna Beber faz da poesia uma janela para o passado. (entrevista). in: O G1/Globo - Máquina de Escrever, 14.7.2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
ZH. Bruna Beber busca o mundo em obra poética. in: Zero Hora, entretenimento, 30 de agosto de 2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).


Bruna Beber em colagem de  Joana Coccarelli
outros cantos: a poesia de bruna beber
:: antônio miranda - bruna beber
:: Blog do caderno-revista 7faces: Três poemas de Bruna Beber
:: Bruna Beber - escritoras suicidas
:: Germina - revista de literatura
:: um livro de poesia por dia (blog) - bruna beber


© Direitos reservados a autora

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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Bruna Beber - a poética do instante. Templo Cultural Delfos, agosto/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Nina Rizzi - cantares poéticos

  • Nina Rizzi - foto: Bruna Sombra


kabuki
com a força de um hímem
os pés apertados de gueixa

me recolho
lanço

bênçãos e espadas.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.


Nina Rizzi (Campinas SP, 1983), historiadora, tradutora e poeta, vive atualmente em Fortaleza CE (Brasil). Tem poemas, textos e traduções publicados em diversas revistas, jornais, suplementos e antologias. Autora de tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012), caderno-goiabada (prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada (tradução, Edições Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (poesia, Ed. Patuá, 2014),  Romério Rômulo: ¡Ah, si yo fuera Maradona! (versão em espanhol), geografia dos ossos (poesia, Douda Correria, Portugal). Edita a Revista Ellenismos – Diálogos com a Arte, e escreve seus textos literários no  quandos


cantata pra tanto banzo
ainada em sol, vou tocar gaita co’as nuvens
que espargiram da tua vaga.

que é pra ver se seguro esse descansilho
às agudas horas que não me lembra.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.



  • Nina Rizzi - foto: JL Rosa

obra de nina rizzi
poesia
:: Tortografia. Nina Rizzi. [edição Mariza Lourenço e Silvana Guimarães]. Books onLine. Germina - Revista de Literatura e Arte, 2011.
:: Tambores pra n'zingaNina Rizzi[prefácio e posfácio Hercília Maria Fernandes]. selo Orpheu. São Paulo: Editora Multifoco, 2012. 
:: A duração do desertoNina RizziSão Paulo: Patuá, 2014.
:: Geografia dos ossosNina RizziEditora Douda Correria/ Portugal, 2016.
:: Quando vieres ver um banzo cor de fogoNina RizziSão Paulo: Editora Patuá, 2017. 
:: Sereia no copo d'águaNina Rizzi. [posfácio Estela Rosa; orelha do livro Luci Collin]. São Paulo: Edições Jabuticaba, 2019.

Infanto-juvenil
:: A melhor mãe do mundo. Nina Rizzi. [ilustrações Veridiana Scarpelli]. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2022.

prosa ensaística
:: Caderno-goiabada. 
Nina Rizzi. 1ª Fortaleza: Edições Ellenismos, 2013. 
:: Caderno-goiabada. Nina Rizzi[posfácio Heloisa Buarque de Hollanda]. 2ª São Paulo: Edições Jabuticaba, 2022.

edição estrangeira
:: Geografia dos ossos. 
Nina Rizzi'Poesia'. [capa e ilustrações de Hélder Ventura]. Portugal: Editora Douda Correria, 2016.

catalogo
:: Femininas. de Clewton Nascimento & Nina Rizzi. Edições Ellenismos, 2014.

apresentação - prefácios
:: Maravilhas banais. vol. 12. Micheliny Verunschk. [edição Miguel Jubé; apresentação Nina Rizzi; estilista Lucas Mariano]. Martelo Editora, 2017.

edição e organização
:: Água ou testamento lírico a dias escassos. Sara Síntique. [edição Nina Rizzi; posfácio Marcelo Peloggio; ilustrações Raísa Christina]. Coleção Matrióschka. Edições Ellenismos / Expressão Gráfica, 2019.

Nina Rizzi - foto: arquivo da autora

traduções realizadas por nina rizzi

:: Susana Thénon: habitante do nada. [tradução Nina Rizzi]. Fortaleza: Edições Ellenismos, 2014. 
:: ¡Ah, si yo fuera Maradona! - Romério Rômulo. [tradução/versão em espanhol e glossário Nina Rizzi]. Edição bilíngue. Sabará MG: Edições Dubolsinho, 2015.
:: Tratado de sortilégios. Óscar Hahn. 'Poesia'. [tradução Nina Rizzi]. Lumme Editor, 2017
:: Árvore de Diana Árbol de Diana. Alejandra Pizarnik. 'Posia'. [tradução Nina Rizzi]. Fortaleza: Edições Ellenismos, 2017.
:: Este livro é antirracista: 20 lições sobre como se ligar, tomar uma atitude e ir à luta!. Tiffany Jewell. 'Não-ficção. [tradução e adaptação Nina Rizzi]. VR Editora, 2020
:: Então você quer conversar sobre raça / So you want to talk about race. Ijeoma Oluo. 'Não-ficção'.[tradução Nina Rizzi]. Editora BestSeller, 2020.
:: Pássaros sem ninho. Clorinda Matto de Turner. 'Romance'. [tradução Nina Rizzi]. SESC-SP/ Instituto Mojo, 2021. 
:: O inferno musical / El infierno musicalAlejandra Pizarnik. 'Poesia'. [tradução Nina Rizzi]. Fortaleza: Edições Ellenismos, 2021.
:: A garota que não se calou. Abi Daré. 'Romance'. [tradução Nina Rizzi]. TAG-Verus, 2021.
:: Habitante do nada & distâncias. Susana Thénon. 'Poesia'. [tradução Nina Rizzi]. Editora Moinhos, 2022.
:: Mesmo quando sua voz falhar. Ruby Yayra Goka. [tradução Nina Rizzi]. FTD Educação, 2022.
:: Meridian. Alice Walker.  'Romance'. [tradução Nina Rizzi]. Rio de Janeiro: José Olympio, 2022. 
:: Pantalones. Marco Gobello .'Poesia'. [tradução Nina Rizzo]. Edição autor? Espanhol.

Tradução - infanto-juvenil
:: Meu crespo é de rainha. Bell Hooks. [ilustrações Chris Raschka; tradução Nina Rizzi]. Boitatá/ Editora Boitempo 2018.
:: Minha dança tem história. Bell Hooks. [ilustrações Chris Raschka; tradução Nina Rizzi]. Boitatá/ Editora Boitempo 2019.
:: Amor de cabeloMatthew A. Cherry. [tradução Nina Rizzi]. Galera/ Record, 2020
:: A pele que eu tenho. Bell Hooks. [ilustrações Chris Raschka; tradução Nina Rizzi]. CD-rom. Boitatá/ Editora Boitempo 2019.
:: Gorila, meu amor!Toni Cade Bambará. [tradução Nina Rizzi]. Cinemascope; Darkside, 2022.
:: Pip e Posy: o grande balão: 1. Camilla Reid. [ilustrações Axel Scheffler; tradução Nina Rizzi]. São Paulo: VR Editora, 2022.
:: Pip e Posy: a pequena poça: 2Camilla Reid. [ilustrações Axel Scheffler; tradução Nina Rizzi]. São Paulo: VR Editora, 2022.
:: Pip e Posy: o novo amigo: 3Camilla Reid. [ilustrações Axel Scheffler; tradução Nina Rizzi]. São Paulo: VR Editora, 2022.
:: Pip e Posy: o sapinho de dormir: 4Camilla Reid. [ilustrações Axel Scheffler; tradução Nina Rizzi]. São Paulo: VR Editora, 2022.
:: Como contar até um. Caspar Salmon. [ilustrações Matt Hunt; tradução Nina Rizzi]. São Paulo: VR Editora, 2022.
:: Seu banco / The banch. Meghan, Duquesa de Sussex. [ilustrações Christian Robinson; tradução Nina Rizzi]. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2022.
:: A carta de Moussa / La carta. Roser Rimbau. [ilustrações Rocío Araya; tradução Nina Rizzi]. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2022.
:: Nina - Uma história de Nina Simone / Nina: A story of Nina SimoneTraci N. Todd. [ilustrações Christian Robinson; tradução Nina Rizzi]. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2022.
:: Gente legal está em todo lugar / Sweet people are everywhere. Alice Walker. [ilustrações Quim Torres; tradução Nina Rizzi]. Rio de Janeiro: José Olympio, 2022. 
:: Um presente para você /  This is a gift for you. Emily Winfield Martin. [tradução Nina Rizzi]. São Paulo: Vergara & Riba (VR Editora), 2022.
:: Ayobami e o nome dos animais. Pilar López Ávila. [ilustrações Mar Azabal; tradução Nina Rizzi]. FTD Educação, 2022.
:: Corpo, corpinho, corpão / Mi cuerpo. Mey Clerici e Ivanke (autores e ilustradores).. [tradução Nina Rizzi]. Brinque-book. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2023.


antologia (participação)
Nina Rizzi - foto: arquivo da autora
:: A arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua - antologia poética
. [coordenação Amosse Mucavele]. Maputo: Revista Literatas, Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona | Ciedima, Sarl. 2013. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
:: Cult Antologia Poética: Poemas para ler antes das notícias. [curadoria Alberto Pucheu; projeto gráfico Fernando Saraiva]. Ebook. Editora Bregantini, 2019. {participam os poetas: André Luiz Pinto, Tatiana Pequeno, Danielle Magalhães, Bruna Mitrano, Luiz Guilherme Barbosa, Heitor Ferraz, Diego Vinhas, Tarso de Melo, Antônio Moura, Piero Eyben, Jarid Arraes, Heleine Fernandes, Paulo Ferraz, Carlos de Assumpção, Cuti, Lubi Prates, Conceição Evaristo, Nina Rizzi, Eliane Potiguari, Marcia Wayna Kambeba, Josoaldo Lima Rêgo, Reuben, Horácio Costa, Cláudio Oliveira, Natasha Felix, Helena Zelic, Tertuliana Lustosa, Catia Cernov, Bruno Domingues Machado, Pieta Poeta, Letícia Brito, Marcelo Diniz | artistas: PV Dias, Pedro Lemos, Marcelo D'Salete, Marilia Marz, Thiago TeGui, Bea Corradi, Guilhermina Augusti}.
:: Nossos poemas conjuram e gritam. [organização Lubi Prate; capa e projeto gráfico Sílvia Nastari]. São Paulo: Editora Quelônio, 2019. {autoras presentes: Conceição Evaristo, Esmeralda Ribeiro, Jarid Arraes, Lívia Natália, Natasha Felix, Neide Almeida e Nina Rizzi}.
:: 69 poemas: e alguns ensaios [organização Raquel Menezes; ilustrações Clara Zúñiga]. Oficina Raquel, 2020. {Autoras presentes: Adelaide do Julinho, Adelaide Ivánova, Ana Beatriz Domingues (Autor), Ana Kiffer, Ana Rüsche, Ara Nogueira, Ayla Andrade, Bruna Escaleira, Bruna Kalil Othero, Carolina Luisa Costa, Cecília Floresta, Cristiane Sobral, Dani Balbi, Érica Zíngano, Estela Rosa, Eveline Sin), Gabriela Farrabrás, Geruza Zelnys, Helena Zelic, Jorgeana Braga, Julia Raiz, Lila Maia, Lilian Sais, Lindevania Martins), Lizandra Magon de Almeida, Lúcia Santos, Maíra Ferreira, Maria Firmina dos Reis, Maria Isabel Iorio, Maria Lúcia Dal Farra, Mariana Paim, Mariana Queiroz, Marília Flôor Kosby, Micheliny Verunschk, Mikaelly Andrade, Natalia Borges Polesso, Natasha Félix, Nina Rizzi, Pâmela Filipini, Pilar Bu, Ravena Monte, Rita Isadora Pessoa, Roberta Ferraz, Sandra Regina, Sara Síntique, Simone Brantes, Sofia Mathias, Taís Bravo, Tatiana Pequeno, Thalita Coelho e Yasmin Nigri}.
:: Poetas negras brasileiras: uma antologia. [organização Jarid Arraes]. São Paulo: Editora de Cultura, 2021. {escritoras participantes: Conceição Evaristo (poema de abertura), Aline Cardoso, Ana Fátima, Andrea Cristina Garcia, Andrezza Xavier, Benedita Lopes, Bianca Gonçalves, Bianca Chioma, Bruna Barros, Camila Santana, Carina Castro, Cassiane Nascimento, Catita, Cecília Floresta, Cristiane Sobral, Dandara Kuntê, Dayane Tosta, Débora Gil Pantaleão, Eliza Araújo, Esmeralda Ribeiro, Evinha Eugênia, Fabíola Cunha, Fernanda Rodrigues, Georgia Ianka, Gessica Borges, Giovanna Pina, Hilda França, Isabela Alves, Ivy de Lima, Jaisy Cardoso, Jarid Arraes, Jéssica Ferreira, Jéssica Regina, Jhen Fontinelli, Jovina Souza, Juliana Berlim, Juliana Gonçalves Tolentino, Karla Alves, Kiusam de Oliveira, Laís Santos, Lara de Paula Passos, Laura Oliveura, Lorena Ribeiro, Lubi Prates, Luna Vitrolira, Ma Njanu, Maggie Paiva, Magna Oliveira, Maíra Luciana, Mari Vieira, Maria Vitória, Mariana Madelinn, Marília Casaro, Marina Farias, Marli Aguiar, Mayara Ísis, Mel Duarte, Mika Andrade, Natalia Amoreira, Nicole de Antunes, Nina Maria, Nina Rizzi, Orleide Ferreira, Pétala Souza, Priscilla Rosa, Rebeca Victória Rocha, Samantha Machado, Silvia Barros, Stella Almeida, Tainah Cerqueira, Tatiana Nascimento, Thais Andrade, Thamires P. e Zainne Lima da Silva}.
:: Ato poético: Poemas pela democracia. São Paulo: Oficina Raquel, 2020. {autores presentes: Marcia Tiburi, Luis Maffei, MC Carol, Rita Isadora Pessoa, Clarissa Macedo, Horácio Costa, Patrícia Porto, Manoel Ricardo de Lima, Tarso de Melo, Dora Dacosta, Carla Andrade, Zé Luiz Rinaldi, Rodrigo Garcia Lopes, Wanda Monteiro, Elves França, Haroldo Ceravolo Sereza, Carlos Orfeu, Dani Balbi, Alice Ruiz, Thiago Rodrigues, Wilson Alves-Bezerra, Adriane Garcia, Bruna Kalil Othero, Evando Nascimento, Luciany Aparecida, Ismar Tirelli Neto, Leonardo Gandolfi, Paula Glenadel, Natasha Felix, Guilherme Gontijo Flores, Bruna Mitrano, Armando Freitas Filho, Ricardo Vieira Lima, Ana Chiara, Adalberto Müller, Camila Assad, Flavia Rocha, Marcelo Reis de Melo, Priscilla Campos, Márcia Wayna Kambeba, Renato Rezende, Talles Azigon, Tatiana Pequeno, Júlio Machado, Mariano Marovatto, Nina Rizzi, Rafael Zacca, Masé Lemos, .rômulo-silva, Annita Costa Malufe, Hélio de Assis, Maiara Gouveia, Claudio Daniel, Jussara Salazar, Leonardo Tonus, Paulo Franchetti, Ana Kiffer, Sérgio Nazar David, Paloma Franca Amorim, Eliza Araújo, Marcos Siscar, Heleine Fernandes, Roberta Ferraz, Janice Caiafa, Ana Cristina Joaquim, Ronaldo Cagiano, Danielle Magalhães, Rafaela Figueiredo, Leila Danziger, Éle Semog, Beatriz Azevedo, Marcelo Sandmann}.
:: As 29 poetas hoje: várias autoras. [organização Heloisa Buarque de Hollanda]. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. {autoras presentes: Adelaide Ivánova, Maria Isabel Iorio, Ana Carolina Assis, Elizandra Souza, Bruna Mitrano, Rita Isadora Pessoa, Ana Frango Elétrico, Juz Ribeiro, Danielle Magalhães, Érica Zingano, Catarina Lins, Jarid Arraes, Luna Vitrolira, Mel Duarte, Liv Lagerblad, Marilia Floor Kosby, Luiza Romão, Renata Machado, Tupinambá Raissa Éris Grimm Cabral, Cecilia Florestam, Natasha Felix, Nina Rizzi, Bell Pua, Stephanie Borges, Regina Azevedo, Valeska Torres, Yasmin Nigri, Dinha, Marcia Mura.


ensaios/ artigos
RIZZI, Nina. Nina Rizzi fala sobre a tradução de Alejandra Pizarnik. In: Poesia Traduzida, 29 de outubro de 2017. Disponível no link. (acessado em 7.4.2023).



Nina Rizzi - foto (...)

poemas selecionados de nina rizzi


    inéditos

pequena canção de inocência
é preciso agradecer sempre - todas as manhãs
o humor |   o sabor amargo do bolo, das rosas

é preciso não esquecer nunca - todas as manhãs
o amor |        ainda sob um céu de bouganvilles

[sempre e nunca é muito tempo & ainda]
o rumor |                               tudo é ruína
- nina rizzi (blog da autora 'quandos').

§

toré na cidade cheia de olhos
umas horas y listo
quedas para o alto
um rio pra narciso

uns lugares sem olhos y
me exorbita todo sangre
- - até a pura água negra

fios brancos encarnados esparramados
pela casaoca – y  canta a casaoca óóca
o coyote ri! é um selvagem y uiva y ri
- nina rizzi (blog da autora 'quandos').

§

aurora sobre o rio angicos
há em meus olhos a beleza mais colorida.

tão inesquecível quanto o crepúsculo
da memória ganhada, me ergo, arregalada.

e já não há nada dorido em meus olhos
se pareço chorar fácil, é verdade
diante do que de fato importa

o sol, amarelo e vagaroso
rasgando mil nuvens de paz
sangrando o rio e meu peito
estio, alvoroço.
- nina rizzi (blog caderno-revista 7faces).


§

de "a duração do deserto"



I take care, I fit, come to me, come ye, jot
tenho o útero partido
metade polvo, agarro as presas, desejo

a mais cuidadosa das mães
definho, para que viva, amor

um outro tanto, descuido
a capacidade de hiena
riso, esfaimento, abandono

encontro em sua arte, a parte
que me une a mim e ao todo, dialógica

matéria repleta de tentáculos
mordo teus lábios no banheiro

imaginário, onde nada é estrangeiro
como tudo; e guardo teu silêncio
minha língua, angústia e fim

[eu te cuido, eu te caibo,...]
- nina rizzi, no livro "a duração do deserto". são paulo: patuá, 2014.

§

pastoral de yansã e a mulher que não se sabe
eu gostava de me perder e lambuzar
no acidente entre suas pernas, adorava

inspirava o ar que lhe saía das narinas
como o enfim deixar de respirar sofrido

depois, quando minha carne tremia, disse

- quando eu te amo, venta

e nunca mais parou a ventania.
- nina rizzi, no livro "a duração do deserto". são paulo: patuá, 2014.

§

de "quando vieres ver um banzo cor de fogo"


quando vieres ver um banzo cor de fogo

3.

quando vieres ver um banzo cor de fogo

minhas mãos nunca mais terão tocado a lama
nenhuma sede ou qualquer cheiro

só um souvenir, como precisão
de palavra bonita mais que poema

um e outro relicário:

porque as minhas mãos não
fizeram isto. quiçá o sim, o nome antes

diz-me ainda a minha sinto:

 sim. amor e palavras são
para guardar até quem sabe talvez

ardo uma dicção inventada para dizer
você pode sentir o meu abraço?
- nina rizzi, no livro "quando vieres ver um banzo cor de fogo". Editora Patuá, 2017. 



Nina Rizzi - foto (...)

de "tambores pra n'zinga"

                            quandos


roteiro
a ave voa de dentro do poema, gargalhando, pra o meu ninho
malemolente.

lentos, dentes. dilacera.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

chaos
de onde vim - belezas
destroços, suam intensamente
tudo existe, dorme. até
que doa o útero em desio
gozam a doer profundamente, verdade

no rasgar das manhãs
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

caso apolínea, mesmo ellenía
sonharíamos coisas lindas.
e quando acordava o gosto era bem doce.

eu te cantaria mais lindo que dorival caymmi morto em pessoa.
mais poético que os calcanhares da adriana no porto.

contava carneirinhos e te mostrava o fogo.
círculos ininterruptos. rodas. giram milhares de arrebóis.

eu até te bordava coisas assim. pra que nosso sono fosse
acordado.

grudado. e nada mais o fado.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

demmens
você me pegava as mãos quando eu menos esperava. e eu
nunca via mais que um dostoiévski em teus
lábios. teus e não seus.

o que diziam nossas veredas bifurcadas? uma senda
entre teus nimbos-nimbos e meus cirros. branco, breu.
caminhávamos, ladoalado caminhávamos e ria
que eu poda cair. e eu ria que podia
me segurar. e ríamos de quem
nos chorava o medo.

eu podia te ver chegar. você dizia
uma saudade e seus braços cruzados
outra coisa, que eu não podia
entender. seus lábios, seus e não
teus, são cerrados pra o que não
é contradição.

eu chorava. eu acordava com a media
luz e chorava a sua sinceridade, não querer
e querer é sempre a mesma coisa. eu chorava
o seu gozo em minha língua, os desenhos das tuas mãos
que tanto falavam de mim, um brinco

perdido, meus cabelos emaranhados no edredom.

aí você queria me ver nas esquinas dos mais largos
bulevares, que seria um perigo eu me perder
em teu buraco negro.
e tomamos caldo. você verde
eu de cebola. torradas. e eu não podia
me embriagar do chileno e seco
vinho que você fazia questão de me pagar. eu não
me embriagava e te via partir no metrô, ônibus,
vontade. nossos lábios lábios se tocavam quase
-sem-querer. nossas mãos não queriam se
desgrudar, mas não eram nossos os nossos
corpos que não se queriam e eu te via
partir e você não me via icar.

e quando eu parti você me mandou
girassóis mortos pr’eu me contentar e eu
mijei sobre eles, pensando em tua namoradinha
inglesa. e eu sou mediterrâneo-africana.
depois, faminta da tua ausência e miséria, comi, tua

lembrança, intratável.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

lastro
a poesia dizia que a gente não ia mais parar
de se olhar. nunca mais, nunca mais.
e eu não li mais nada. quiçá viouvi. amiúde

deixei de me derramar também. hoje,

eu dou umas risadinhas como as suas. umas
risadinhas assim, meio de leve, de olhar buendía. de você
peguei isso, assim, sem querer. você

me dá vontade de chorar
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

goiabada pra um livro de marianina
os homens tocam, esquartejam.
tocam

por que é um dia bom

elas, em ânsia de dizer,
calam.

como o silêncio que tange o sino,

panelas, ovários.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

a um poeta
eu vou te lendo e pouco a pouco
meus olhos verdes, beijo lento, alcançam
o azul das melancolias de picasso;

meu corpo renascentista, fremente, vai

braillando, incendiando como um poema.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

ceciliana
escorre o óleo do mundo - lima
de rícino, reino

mínima grama ou toda
canteiro, fecundo

a poesia é de quem
precisa, disse o carteiro

lhe ria, além a lama
ternas de exílio e poda

te revisito, o mundo - olha

entre as pernas.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

um gato pra apollinaire
caminha por entre os livros, agarrada aos gatos,
a mulher cheia de razão.

quando acorda não me faz café:
esgueira até o banheiro seus dedos de arranhar azulejos;
se ama, se beija, se cospe
antes e depois de mim

não está disposta a nos desperdiçar.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

artaudniana
pra amor camarada

vou colar rascunhos dadaístas, antropófagos,
pra compor ritmos com o corpo.

me embriagar da palavra, morder o poema a seco,
a cru, em longas talagadas de afogamento,
morte instantânea, bela e breve.

urrar pelos cantos dentro um gozo literário
e fazer um museu de tudo.

que é só poesia que posso

te ter inteiro.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

manoelana
transbordam em mim reminiscências:
águas que me secam, redundâncias de me sentir.

se o ocaso está repleto de ciscos, reticências,
serei eu mais que o completo vazio?

guardo meus olhos na sarjeta mais distante e suja.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

crepúsculo sobre o rio acaraú
há em meus olhos uma beleza tão triste:
tamanho o estio, até os carnaubais estão
assim, feito meu peito

árido, ardido.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§
                           tudos

tambores pra n’zinga
um projétil me alcança as retinas

sob o véu da lombra à razão
sob os dedos da turba à cúpula

- bucólica. melancólica.
- erótica. pornográica.

uma lança me rasga o ventre

muito embora se me abram
oráculos, pegadas, pedras, trilhos

sou a minha senhora e soberana,
deusa, cataclismo, umbigada
do mediterrâneo à áfrica central, o novo mundo

me entrego, sim: às suas lanças me rasgo
às contrárias e o patriarcado, com seus dedos
arranco dos meus ovários teus rosários

contas pra meus afoxés, tambores.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

flauta pra n’zinga
pr’essa nêga matamba paranoica não basta dizer:

- está tudo bem.
- eu não ligo.
- vamos seguir juntos.
- há um princípio político [...]

ai, amor, são necessárias rosas de um rosa gritante,
poemas cavalares, históricos,
mais quadrinhas que redondilhos.

pra me amar e ter inteira, riso largo,
a face serena sem expressões franzidas ou teatrais,
é preciso drama, camarada:

os olhos a me caminhar, venerar, buscar;
fazer exigências, oferecer um lenço azul, um título ktke;

há que me torcer o esternoclidomastóideo;

morrer de amor, porre, guerrilha e poesia.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

rhapsodie pour cécilien
shakespeare company, musèe d’orsay;
o sena, os rasos e bulevares.
a torre seguindo a cortar os horizontes, verticais e o arco.

como não icar triste?
no quartier latin há uma menina parecida comigo.
um aceno, au revoir.

da minha varanda os lugares são mais longes quando belos.

quando minha voz cheira outonos, venta.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

cantiga quase-impossível
pra menino cansado e cinzento ser eterno
assopro nos olhos, esquerdos, pra não doer

ternura pras tuas leituras e sentires os mais simples
um canto de uirapuru, dormir

pra menino louco e verão descansar, me ver
basta me olhar umas noites, inteira
até meu cheiro de aurora selvagem indar crepúsculo
minha voz de outono ser ruínas
- há em mim um chamariz de antiguidades

ruí-nas
e meu corpo ser só

duna
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

pastoral em manhã chuvosa
é primavera e as frutas adormecem sobre meu corpo
porisso eu te escrevo com os pés e pinto com a boca:

minhas mãos buscam a justiça de tocar outonos

te respirar sem dar as mãos.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§


ária pra contralto em mi bemol
o fogo que me escorre do lábio, senhor?

a tua mão.
a que me tira o boldo e o gengibre.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

samba de mesa pra folclorista
sobre a ponte metálica, de madeira, dos ingleses,
eu chorei teu nome, mentira.
não era a espada, corajosa, mas os beijos, larva desgraçada.

eu ardi.

sua igura que me atravessou a noite lenta
carvão sobre minha faculdade mais nobre.

triste é ter tempo gasto no vago, pra tanto mais, suas misérias,
que a luta de classes.

ninguém chega a ser dois nessas andanças.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

primeira cantata pra depois do nunca mais
tenho acordado em lágrimas, a pele desiando
como se tivesse perdido alguém que nunca tive.

venho a me transbordar porquê nada existe.

porisso há tanto

- ser triste.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

adágio, larghetto
se em noite de lua cheia chegasse a ser uma
não me chamava lobo, escorria o sangue como queria
- mais espesso e vermelho, verdadeiro.

quisera menos que os dois pés, mais que o nome
quimera e sol, uma palavra que não decifrasse

o engasgo dissoluto, inexistir enfim, em absoluto.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§
                           quases

auto-tempestade nº 1
tenho duas mãos, e o ininito escorrendo delas.
se de um lado peço abrigo, d’outro arranho invectivas
me deixo, lanço, largo.

em cada um dos olhos, claridade e escuridão. o óbvio.
e o que ninguém pode ver.

abissal névoa, navalha
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

desnotícias
então era assim a grande guerra.
a blitzkrieg não declarada me persistia
por todos os fados de esperânsia;
as colaboracionistas perdiam os cabelos
outras poucas, malenas, bustos, muros.

em rastros de bombas se viam quadrinhos
cinemas, propagandas, ideologias tantas.

que haviam de me meter mais medo ou vingar
se levaram meu velho do exílio?

então era assim, eu não morria,

minguava.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

a saliva, o suspiro
houve tempo em que só havia por destilado os caninos.
mascava os beiços até o nariz de francis bacon, o pintor não o
ilósofo, e a orelha de van gogh.

radiação, loucura, a verdade mais pungente, impossível.

de repente, nos pertos do dia, o mundo se me ofereceu pela
cúpula da ópera de paris
- verdi, bizet, stravinski e aqueles todos, a companheira morta de
chagall.

eu sempre preferi os destilados.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

tese xv
enio um a um dos dedos nos dez
mil anos de história, gracejo.

não guardo a perícia no trato com moscas e murisókas
carapanã-pinima, sou um espanto.

como quem prepara o melhor vinho calabrês
pisoteio, levanto a saia, giro espelhos, vos vomito.

que não sou eu, mas a indiferença

o peso morto da história.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.

§

constatação
de constelações e pantomimas pálidas encardi minha palavra.

e silêncio.
- nina rizzi, no livro "tambores pra n'zinga". são paulo: editora multifoco, 2012.


  • Nina Rizzi - poeta

fortuna crítica e traduções de nina rizzi

ALMEIDA, Matheus de Souza. Acerca da obra de Nina Rizzi. in: Quanto ganha por ano em dólares Pedro Velásquez, em Havana 'poesia: tradução e crítica', 7 de março de 2015. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
AUGUSTO, Ronald; FREITAS, Denise. Sons e pausas em tambores pra n'zinga. in: poesia-pau e sísifo sem perdas, 20 de setembro de 2012. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016). 
BARBOSA, Diego. Com nomes cearenses, livro traça panorama da nova geração de mulheres poetas brasileiras. In: Diário do Nordeste, 3 e março de 2021. Disponível no link. (acessado em 7.4.2023).
CARVALHO, Cefas. Nina Rizzi: “Muitos textos feitos por mulheres não poderiam ser escritos por um homem” (entrevista). in: Noticiando, 20 de junho de 2012. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
FARRABRÁS, Gabriela. Poesia contemporânea: A poema de Nina Rizzi. In: Esquerda Diário, 4 de outubro de 2017. Disponível no link. (acessado em 7.4.2023).
FERNANDES, Hercília. Ma-gritte, Nina Ri-se. in Novidades & Velharias, 16 de agosto de 2009. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
FERNANDES, Pedro. A duração do deserto de Nina Rizzi. in: Letras in.verso e re.verso, 20 novembro de 2014. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016). 
GOMES, Davi Pereira; TESTA, Eliane Cristina; MORAIS, Patrícia Karla de. Pra não sentir (auto)piedade, entrevista com Nina Rizzi. In: Revista Humanidades e Inovação, v. 7, n. 3, p. 404-407, 2020. Disponível no link. (acessado em 7.4.2023).
HAHN, Óscar. A morte aos pés da poesia|La muerte a los pies de la poesía. [tradução Nina Rizzi. (n.t.) Revista Literária em Tradução, n. 9, v. 2, set. 2014, p. 91-115.
LAVELLE, Patrícia. Arcas de Babel: Nina Rizzi traduz Alejandra Pizarnik. In: Revista Cult, 29 de junho 2020. Disponível no link. (acessado em 7.4.2023).
LIMA, Carlos Augusto. Preencher o deserto, um excesso (nina rizzi). in: revista pessoa, 10 de abril de 2014. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
NINA rizzi (poemas). in: revista dEsEnrEdoS, ano IV - número 13 - teresina - piauí - abril maio junho de 2012. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
NINA Rizzi, a resistência e o cotidiano. in: Portal Vermelho, 17 de abril de 2015. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
PATRIOTA, Nelson. Um tufão chamado Nina Rizzi. in: Jornal Tribuna do Norte RN - Quadrantes, 14 de março de 2010. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
PIZARNIK, Alejandra. Outros poemas|Otros poemas. [tradução Nina Rizzi]. (n.t.) Revista Literária em Tradução, n. 6, v. 1, mar. 2013, p. 9-23.
RASCUNHOS. Poemas de Nina Rizzi. In: Rascunhos, edição 251, março de 2021. Disponível no link. (acessado em 7.4.2023).
RIGUETO, Ana Luiza. A voz necessária. In: Rascunhos, abril de 2020.  Disponível no link. (acessado em 7.4.2023).
ROLIM, Cândido. Nina Rizzi, uma leitura. in: Suplemento Literário Minas Gerais, edição nº 1.355, julho-agosto, 2014. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
SILVA, Yuno. Corpos poéticos (nina rizzi). in: Jornal Tribuna do Norte RN, Destaques - Notícias, 4.4.2014. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).
SILVA, Yuno. Poesia audiovisual de Nina Rizzi. in: Jornal Tribuna do Norte RN - Caderno Viver, 13 de março de 2012. Disponível no link. (acessado em 10.8.2016).

m. disse, 1
disse que não me conhece 
disse que o coração é uma ave sem plumas
disse que o poema é uma coisa tão nua
- a se confundir a vida coisa uma e coisa outra
disse que já não podia me ver
disse que tenho uns olhos de louca
- olhos de quem nunca existiu
disse uma palavra exata duas
está morta
- nina rizzi (blog da autora 'quandos').


outros cantos: poemas e traduções de nina rizzi
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Nina Rizzi - cantares poéticos. In: Templo Cultural Delfos, abril/2023. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 9.4.2023.
* Página original AGOSTO/2016.




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