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Nelson Rodrigues - a última entrevista

Nelson Rodrigues, por Tito Oliveira

Entrevista de Nelson Rodrigues, concedida em outubro de 1980, ao jornalista Tom Murphy, do jornal “Latin American Daily Post”. O dramaturgo morreria dois meses depois.

Tom Murphy:

Fui recebido por um homem pálido, até mais alto do que eu imaginava, de calça azul mal ajustada pelos largos e famosos suspensórios; um homem lento no andar e na fala. Lento de dar pena. Anos depois conheci Alfredo Machado, dono e cabeça da Editora Record, a quem relatei a experiência daquele dia: “Entrevistei o Nelson Rodrigues dois meses antes da morte dele; ele já estava doente, muito mal mesmo”. O grande mentor de tantos escritores brasileiros riu: “Nelson estava muito mal sempre”. Naquele ensolarado outubro de 1980, tive o privilégio de conversar durante uma hora e pouco — sentado, como tantos de seus personagens, diante da simples mesa de cozinha — com Nelson Rodrigues. O cenário era bem Nelson: um apartamento escuro e assombroso na beira da alegre praia carioca do Leme, um cheiro leve, não do mar, mas de desinfetante. Na época eu trabalhava para o “Latin American Daily Post”, jornal de língua inglesa, que publicou a entrevista dias depois. Foi só em dezembro que eu soube da real dimensão da doença de Nelson, quando ele deu entrada num hospital. No mesmo mês, dia 21, ele morreu, aos 68 anos.

A partir da morte dele, a entrevista, que permanecia inédita em português, virou, para mim, uma grande curiosidade, quase um talismã. Eu fui um dos últimos a falar com Nelson Rodrigues, o famoso e, para tantos, infame e tarado homem das letras — o par de Tennessee Williams e Jean Genet da dramaturgia brasileira. Já no fim, já enfartado e safenado, mas nada manso, era lúcido e atuante, o maior dramaturgo nacional.


Qual é sua visão sobre o papel dos intelectuais no Brasil?

Os intelectuais brasileiros não têm nenhuma importância. Há algumas exceções, como o grande sociólogo Gilberto Freyre, mas estes constituem um grupo seleto.

Os escritores brasileiros, pelo menos, conseguem mostrar a realidade brasileira?

A cultura brasileira não é uma cultura escrita. O pouco que existe hoje da cultura brasileira é estéril. Não se escrevem romances, poemas e ensaios como antes. E só é assim que o escritor tem possibilidade de tocar nos assuntos mais profundos. O que falta entre os intelectuais brasileiros de hoje é paixão. Não dá nem para ler os jornais. As notícias são velhas! Antigamente, até os jornais eram mais dinâmicos. Um jornal como “A Noite” saía com as notícias do mesmo dia! E com muito espírito. Do ponto de vista da cultura, o Brasil hoje vive uma fase de transição. Existe uma literatura aguardando para nascer. Vai nascer cedo ou tarde, pelo menos eu espero. A literatura brasileira aguarda um gênio para tirá-la do tédio. Por enquanto, porém, não há gênio à vista. (Em 1980, os escritores e intelectuais brasileiros pareciam confundir-se com políticos, num país que corria para a mudança do regime militar para a democracia. Nelson Rodrigues criticava essa posição. Ao mesmo tempo, dizia que o mundo estava sendo dominado pelos “idiotas”.)

Qual sua opinião sobre intelectual e política na atualidade brasileira?

O intelectual que entra na política não faz nenhum bem para ninguém. Em primeiro lugar, não entende nada da política. Antigamente, a política era uma profissão para pessoas com determinados conhecimentos e hábitos. Era um dom. Todo mundo virar político é ridículo. Mas, hoje, os intelectuais vão aos comícios. Para quê? Para aparecer, tirar foto e vê-la nos jornais. Para o artista, a melhor maneira de servir a pátria é servindo arte.

Qual é sua avaliação do Brasil de hoje como sociedade?

A verdadeira história do Brasil só vai começar com a chegada em cena de uma grande figura, um Napoleão. Os Estados Unidos tiveram George Washington, a França, Napoleão. Nós tivemos Juscelino Kubitschek, um grande homem, de certa forma, com grandes qualidades, mas quando eu falo de um Napoleão, eu me refiro a algo muito maior do que um Juscelino. A China, por exemplo, teve Mao [Tsé-tung] e Chiang Kai-Shek, homens que correspondiam às necessidades da época.

E o Brasil de hoje?

Antigamente, todos eram idiotas e o sabiam. O mundo tinha milhões de idiotas, todos humildes. Muito sabiamente, eles se consideravam idiotas. Mas hoje em dia, quase todas as pessoas se consideram competentes. Os idiotas querem ser professores, ministros, presidentes. O nosso mundo é dominado pelos idiotas. A única maneira de combater essa onda de idiotice é através de um homem com o magnetismo de um Napoleão. O problema do Brasil é o mesmo de todos os países subdesenvolvidos: a falta de autoestima. Quando um povo não acredita em si mesmo, não acredita em nada. Bom exemplo disso é a mania do povo brasileiro  de massacrar a seleção de futebol. Isso me irrita profundamente. É só a seleção errar em uma coisa e todo o País vem em cima. O brasileiro só sabe torcer pela seleção quando ela está ganhando. Quando perde, vem em cima com chicote.

O sr. disse que o homem competente não tem vez. E o artista brasileiro?

Não. Eu, por exemplo, sempre tive de trabalhar como jornalista. Não que eu  despreze a profissão. Mas, nos Estados Unidos, um escritor lança um best-seller e já pode se aposentar. No Brasil, você tem de trabalhar até o fim da vida. Se eu tivesse escrito tudo nos Estados Unidos que eu escrevo aqui, eu hoje seria um homem milionário. Mas em vez disso, eu ainda tenho de trabalhar para comer.

Eu gostaria que o sr. falasse um pouco sobre a censura e o modo como ela afetou sua carreira.

Tenho muito a falar sobre censura. Sou autoridade no assunto. Nos últimos 35 anos eu tenho sido o autor brasileiro mais censurado. Censura é uma barbaridade, uma monstruosidade. O único papel legítimo para a censura é classificatório, ou seja: pode somente limitar certas coisas para certas faixas etárias. Não pode limitar, de maneira alguma, a criatividade do artista.

O sr. falou de faixas etárias. A propósito, qual a sua opinião sobre a juventude hoje?

Fui recentemente a um programa de televisão e me perguntaram se eu tinha alguma coisa a dizer aos jovens brasileiros, ao que respondi: “Que deixem de ser infantis”, somente. Nunca a juventude foi tão pouco generosa, tão pouco heroica, tão pouco humana. Espero que um dia a juventude tenha um grande renascer. É necessário. Os jovens da França praticamente tomaram o poder em 1968. Deram as costas a De Gaulle. Mas, uma vez no controle das universidades, eles não fizeram absolutamente nada. Descobriram que não tinham nada a dizer. Era tudo puro exibicionismo. Afinal, o que tem a dizer um jovem de 17 ou 18 anos? Nada. São os velhos que detém a sabedoria e que podem assumir a liderança. De Gaulle era velho. Mao era velho. Chiang era velho.

Suas peças foram sempre polêmicas. Por que escolheu temas relacionados ao sexo e à violência, tão controvertidos?

Nas minhas obras eu tento transmitir algo que vem de dentro de mim. É trabalho duro, um sacrifício. E acho que, para escrever bem, o escritor precisa de algumas obsessões, algumas ideias fixas, que sustentam a sua obra. Sem isso, o trabalho vira um caos. Um dos meus temas preferidos é a violência humana. O ser humano é um assassino natural. O ser humano é feroz. É somente isso, uma verdade e, portanto, uma obsessão.

Qual é a avaliação que faz do teatro brasileiro hoje?

Era muito melhor antigamente. Hoje todo autor virou demagogo.

Quais os seus autores favoritos? Brasileiros e estrangeiros.

Meus autores brasileiros prediletos são Gilberto Freyre, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Machado de Assis e Euclides da Cunha. Gosto muito de Dostoiévski. Gosto dele desde jovem. E gosto de Tolstói. A Rússia tem, ou tinha, uma literatura de boa qualidade. Um país onde um escritor pode ser internado num hospital para doentes mentais porque escreveu algo contra o governo não pode ter uma literatura importante. Os Estados Unidos tem um dos maiores dramaturgos do século 20, Eugene O'Neill. Também tem Faulkner e Hemingway. Da França, eu gosto de Gide, Albert Camus e alguns outros. Não suporto Sartre. Ele traiu a condição de escritor quando virou político. Não me entusiasmo muito com Borges. Hoje em dia, eu estou na fase de ler os clássicos de novo. Um livro bom é sempre novo.
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Entrevista publicada pelo jornal “Latin American Daily Post”, em outubro de 1980. E republicada no jornal “O Estado de São Paulo”, em julho de 2002.


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Carlos Drummond de Andrade - entrevista inédita: erotismo - poesia e psicanálise

Carlos Drummond de Andrade (1962)
foto: (...)
Erotismo, poesia e psicanálise em entrevista inédita de Drummond

O poeta Carlos Drummond de Andrade concedeu esta entrevista à pesquisadora Maria Lúcia do Pazo no dia 16 de junho de 1984. Na ocasião, Maria Lúcia estudava o erotismo na poesia de Drummond para uma tese de doutorado em Comunicação, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendida em 1992.


O trabalho nunca foi publicado, mas a pesquisadora doou uma cópia para a Biblioteca Nacional. Esta entrevista, que é parte integrante da tese, permaneceu inédita desde então, arquivada na divisão de Manuscritos da biblioteca. Maria Lúcia tem hoje 80 anos e mora em Botafogo, zona sul do Rio.

*

Carlos, em "Toada de amor", no verso "amor cachorro bandido trem" esse "trem" é linguajar mineiro para "coisa" ou é trem mesmo, com suas implicações de velocidade, possibilidade de descarrilar, bilhete de ida e volta, como no amor?

"Trem", na linguagem mineira coloquial, significava muita coisa. Em primeiro lugar significava mesmo "coisa", indiscriminadamente. Depois significava uma forma depreciativa, e é mais ou menos nessa acepção que eu chamo o amor de cachorro, bandido e trem, como ofensa grave. Se eu não tivesse eliminado até as vírgulas, esse verso exigiria mais ênfase na leitura. Não quis dar essa entonação. Limitei-me a enumerar as palavras. Mas "trem" era tudo -- por exemplo, uma coisa que não era fácil de definir é um "trem", uma "coisa", um "troço" -- "trem" era, portanto, sinônimo de "troço", que veio depois.


Como a interpretação da poesia é muito lata -- a poesia publicada já não pertence exclusivamente ao autor e sim a uma sociedade, a um condomínio entre o autor e o leitor ou leitores -- a interpretação pode ser dada no sentido mais extenso e sugerir, como sugeriu a você, a imagem do trem de ferro, que pode ir pelos trilhos calmamente e pode também descarrilar e produzir os maiores desastres.


Nesse sentido, o amor pode ser considerado trem de ferro, como um itinerário, uma viagem muito atormentada.


No mesmo poema, "Toada de Amor", os dois últimos versos: "Mariquita, dá cá o pito,/ No teu pito está o infinito". Constituem-se numa forma, digamos, coloquial do último verso do poema erótico inédito "Mimosa Boca Errante", que diz: "Já sei a eternidade: é puro orgasmo"?


Cotejada com a palavra "eternidade", realmente apresenta certa similitude. No caso do poema "Mariquita dá cá o pito" -- me recordo muito bem disso -- é mera alusão a um conto de Monteiro Lobato em que ele narra a estória de um vigário do interior muito relaxado, que andava de chinelos, fumava cachimbo, em suma, tinha uma liberdade muito grande de viver na casa dele, quando chega o bispo para uma visita paroquial. Ele então arruma a casa e prepara-se para receber o visitante com toda a cerimônia. A certa altura, o bispo vira-se para ele e pede um cigarro ou um pedaço de fumo de rolo, uma coisa assim. Ele fica satisfeito, assim, e chama a comadre, que estava nos fundos da casa, e diz: dá cá o pito, quer dizer, aquela expressão que ele não se permitiria usar diante de uma autoridade eclesiástica, ficou sendo familiar porque a pessoa autorizava isso.


A ideia que eu tive em mente foi isso, repetir - "Mariquita dá cá o pito" - e acrescentar, já agora como anotação minha sugerindo que o pito era da maior importância, era o infinito, quer dizer, o fumo, o prazer do fumo, do cigarro ou do cachimbo, cria uma espécie de sonho que pode ser considerado uma forma de infinito.


Esse poema "Mimosa boca errante" faz parte da coleção de poemas eróticos intitulada "O Amor Natural". Você poderia dizer alguma coisa sobre a sua intenção de não publicá-los no momento e a permissão que me deu, tão gentilmente, para que pudessem ser abordados em minha tese de doutorado sobre o erotismo na poesia de Carlos Drummond de Andrade?



Bem, a autorização e mesmo a sugestão que fiz de lhe mostrar esses poemas para serem aproveitados na sua tese, a meu ver, é uma coisa óbvia porque se o objeto da tese é exatamente o erotismo na minha poesia, não havia nada mais representativo do que esse volume inédito porque ele trata exclusivamente desse tema em suas muitas variações. Já na minha obra completa, publicada, o erotismo aparece aqui e ali de uma maneira mais ou menos intensa ou declarada mas não tem esse sentido assim de tema único que "O Amor Natural" possui.
Drummond na sede do extinto Ministério da
 Educação e Saúde, no Rio, onde era chefe de
 gabinete do ministro Gustavo Capanema, em 1942.
- foto: (...)

Não quis publicar até agora e hesito ainda em publicar -- ou antes, resolvi não publicar -- pela circunstância de que o mundo foi invadido por uma onda de erotismo, logo depois convertida em pornografia, se é que a onda de pornografia não veio antes.


O fato é que hoje não se distingue mais o erotismo propriamente dito e a pornografia, que é uma deturpação da noção pura de erotismo. Se eu publicasse agora o livro iria enfrentar, por assim dizer, um elenco bastante numeroso de livros em que a poesia chamada erótica não é mais do que poesia pornográfica e às vezes nem isso, porque é uma poesia mal feita, sem nenhuma noção poética.


Não quis, no momento em que há maior abertura, publicar esse livro porque não queria ser confundido com outros que exploram esses temas de maneira que eu considero de mau gosto, inferior.


Já me advertiram que a demora em publicar vai importar talvez num futuro próximo, em que meus poemas já não ofereçam nenhuma curiosidade porque o tema já estará tão batido, já se esgotou tanto essa série de assuntos e a educação sexual de uma forma errada ou certa se generalizou de tal modo -- na escola, no rádio, na televisão e na casa de família - que o meu livro de poemas correrá o risco de constituir-se em livro de classe para jardim de infância...


Carlos, em seu poema "Tarde de Maio" referindo-se ao amor, você diz:


"...há tanto lavou a memória

Das impurezas de barro e folha em que repousava"

Esse barro e essa folha seriam alusões, respectivamente, ao barro do qual teria sido feito Adão e à folha de parreira que, dizem, serviu para encobrir o sexo de Eva?


Bem, admito essa interpretação porque, como disse, o texto literário, principalmente o texto poético, é oferecido a diferentes pessoas com sensibilidades e culturas distintas, que podem aproximá-lo de outras ideias ou de outras vivências que tenham tido. Neste caso é perfeitamente razoável comparar este barro e folha do texto àqueles que você citou.


Agora, tanto quanto eu posso me lembrar -- 20 ou 30 anos depois, os autores não se dão conta, não se lembram das circunstâncias em que os versos foram feitos. Às vezes é uma motivação imediata, direta; às vezes é uma sugestão que ocorre como que fantasiosamente e que desperta o poema.


Quer me parecer, tanto quanto posso me lembrar ou esquecer, que aí eu me referia realmente a certas circunstâncias em que a natureza se apresenta na sua forma mais simples: uma estrada e, como eu sou uma pessoa do interior -- meu pai era fazendeiro -- guardo na lembrança as estradas barrentas por onde a gente viajava a cavalo até chegar à cidade onde havia a estrada de ferro, era o caminho do colégio.


A imagem de barro, de folhas caídas das árvores, essas duas circunstâncias estão ligadas na minha memória sentimental e existencial a acidentes da infância e me parece que teria cabimento no caso, associar as duas imagens imediatas à idéia do amor, que evolui entre circunstâncias muito pobres, às vezes num meio hostil, em ambiente humilde ou que não ofereça nenhum aspecto mais agradável.


Donde o barro e a folha devem ser entendidos, a meu ver, como intenção do autor, no sentido literal. Mas pela força que eu disse a você que o poema adquire sendo lido, interpretado, digerido, deglutido pelo leitor, e também porque muitas vezes a intenção do poeta é subliminar, ele não percebe, no momento em que está criando, que na verdade obedeça a umas tantas reminiscências, umas tantas visões da vida, e essa aproximação só pode ser detectada pelo leitor.


Acho que a interpretação pode ser aceita.


A Igreja Católica teve que se decidir a justificar a sexualidade para permitir a reprodução, mas todos nós sabemos das restrições que o cristianismo impôs ao sexo, associando-o com o pecado. Como você vê então, que forçosamente tenha havido incesto na origem do mundo porquanto, Adão e Eva, ou foram irmãos ou foram pai e filha ou ainda mãe e filho, tal como na mitologia universal que é pecaminosa, pelo menos para a Igreja Católica?


Confesso a você que nunca me havia ocorrido essa ideia de que Adão foi incestuoso, mas é realmente curiosa e pode ser sustentada.



Carlos Drummond de Andrade, na casa da rua Joaquim Nabuco,
no Rio de Janeiro (1951) - foto: (...)
O problema do incesto é, a meu ver, cultural. Haverá países ou civilizações em que o incesto era permitido porque não havia a noção de família que nós cultivamos, e que é, por assim dizer, básica na formação da sociedade ocidental. Mesmo nesta, segundo li -- não me recordo onde -- a França é um país onde não há penalidades para o incesto. Não é considerado crime. Só é criminoso, só é passível de penalidade, a pessoa que faz provocação sexual a parentes. Mesmo assim, se esses parentes tiverem, parece, mais de quatorze anos, quer dizer, quando eles já são núbeis, já são adultos, então podem resistir muito bem à provocação.

Há casos de dispensa de vínculo para autorização de casamento de cunhado e cunhada, de tio e sobrinha. O casamento de tio e sobrinha existiu no Brasil até, creio, a Proclamação da República.


Na minha família há numerosos casos de tios casados com sobrinhas, por uma razão muito simples -- o casamento tinha de ser feito dentro da mesma família -- o clã era poderoso, não se admitia a intromissão de elementos estranhos, porque quebravam a tradição da família e principalmente porque entravam no uso e gozo da fortuna que era um bem coletivo da família.


O incesto é muito relativo. Parece que em povos primitivos não há essa noção e ele é permitido. Realmente a Igreja fez disso um cavalo de batalha, como faz de muitas outras coisas. Ainda hoje, para meu pasmo, li nos jornais que o Papa considera, como direi, não digo criminoso, mas considera desaconselhável e reprova a relação sexual entre marido e mulher, que não seja destinada à procriação. Então a liberdade, os prazeres que o casal possa usufruir, ele simplesmente os condena porque são prazeres gratuitos.


Carlos, o escorpião do poema "Signo" é o desejo, mas o escorpião do poema "Confissão" é o pecado. Durante muito tempo associou-se sexo e pecado, hoje, não mais. Por que nos culpamos tanto por termos outrora feito dele um pecado? O excessivo discurso sobre sexo de nossos dias não será um erro para corrigir outro?


Sem dúvida, porque, sobretudo, é um discurso muito confuso, muito enrolado. Com relação ao escorpião, devo dizer a você que o escorpião faz parte da minha vida, porque sou do signo de escorpião e essa palavra -- escorpião -- é terrível para os moradores do interior de Minas onde cidades inteiras eram ameaçadas, invadidas por escorpiões.


Até Belo Horizonte, capital, era famosa pelo número de escorpiões que possuía, tanto que a Prefeitura pagava -- o Nava conta isso nas memórias -- não sei quantos réis, 200 réis ou mil réis, a quem levasse um escorpião. Era o preço base. As pessoas então passavam a caçar escorpiões como meio de vida ou pelo menos para completar o seu orçamento.


O escorpião é muito ligado à minha vida por essa razão, embora eu não acredite na importância dos signos do zodíaco -- acho isso uma coisa mais literária ou mágica do que outra coisa, não é nada racional -- o escorpião de que eu fugia no porão lá de casa, com medo de ser mordido por ele, era paradoxalmente um bicho que eu trazia dentro de mim, por ter nascido dentro desse signo, compreendeu?


Essa é a interpretação que eu dou. Já o poema "Confissão" -- "Escorpião mordendo a alma, o pecado graúdo acrescido do outro de omiti-lo, aflora noite alta em avenidas úmidas de lágrimas, escorpião mordendo a alma da pequena cidade". Aí, tanto quando eu posso me lembrar, era associando à ideia do escorpião, do animalzinho perverso, maligno da nossa cidade, ao escorpião do pecado, à tortura, à angústia que a criança do interior, educada no princípio do século, sentia com a noção de pecado.


Você pode imaginar como nós sofríamos porque não tínhamos ainda bastante lucidez de espírito para julgar na época o que fosse ou não pecado. Se era pecado mastigar a hóstia no ato da comunhão, muito mais pecado seria praticar, digamos, o onanismo, ou tentar ver o nu feminino, o que aliás era impraticável.


Mas essas coisas, essas tentações da idade, da infância e da adolescência, eram todas consideradas pecados graves. Era como se o sentimento desse pecado passasse a ser pecado realmente, porque nós o sentíamos como tal. Isso nos aferroava a alma como um escorpião.


Entendo como uma das características da sua poesia, o movimento de lançadeira, explícito por exemplo, no poema "Ciclo".


"Sorrimos para as mulheres bojudas que passam como cargueiros adernando.

(...) Sorrimos também -- mas sem interesse -- para as mulheres bojudas que passam, cargueiros adernando em mar de promessa contínua".

Em outros poemas do tipo "Bolero de Ravel", o movimento de lançadeira está explicito, mas não tanto:


"Círculo ardente (onde) nossa vida para sempre está presa

Está presa..."

Você admite estabelecer uma relação entre esse movimento de lançadeira e o desejo sexual com base no intermitente mas perene que caracteriza ambos?


Bem, esta é uma descoberta que você fez e que não me havia acudido, sabe? Gosto muito de ver a reação do leitor, porque, às vezes, ele ilumina o autor. O leitor percebe aquilo que o autor não tinha cogitado, de modo que eu admito.


No poema "A um Hotel em Demolição", a imagem sensual e nostálgica expressa nos versos:


"Bonbonniéres onde o papel de prata

Faz serenata em boca de mulheres"

É uma alusão ao bombom "Serenata do Amor" que, à semelhança do Hotel Avenida, faz parte de um passado onde o amor era garoto e a cidade, ao invés de cruel, conseguia ser tradicional?


Não me recordo se tinha em mente este bombom chamado "Serenata do Amor", que se tornou tão popular. É possível que me ocorresse a aproximação. O que me parece que tentei fazer foi apenas criar uma rima interna -- prata, no final do verso, rimando como serenata, dentro de um outro verso -- porque, como você sabe, o bombom é, em geral, embrulhado naquele papel prateado que fazia as delícias da gente na infância. Quantas vezes eu alisava aquele pequeno papel prateado e o guardava não sei pra quê, já que não tinha a menor utilidade...


Mas a serenata, embora de mulheres, é porque as mulheres, gostando de bombons, sentiriam um prazer, a meu ver, correspondente àquele que sentiriam ouvindo a serenata dos seus apaixonados na porta da rua.


Carlos, você podia contar de novo aquele caso de zoofilia do poema "O Sátiro": "Hildebrando insaciável comedor de galinha"?


Não me fale, isso é um dos maiores dramas da minha vida literária que extrapolou para a vida comum. Cometi a imprudência de recordar um fato ocorrido na minha infância, em que um rapaz morador na minha cidade do interior, foi acusado de praticar o ato sexual com uma pobre galinha, se é que não fazia isso frequentemente. Talvez fizesse, pois lhe tinham dado o apelido de Dedê Galo, o que faz supor que a prática era costumeira.


Em suma, com a maior falta de critério, eu contei essa estória sem sequer me dar ao trabalho de trocar o nome da pessoa. Realmente, confesso, foi uma falha minha porque magoei uma pessoa mais idosa do que eu, pois eu era garoto quando ele era rapaz, e isso irritou-o muito.



Ele resolveu tomar uma desforra. Deu uma entrevista em que acusava minha família de coisas tenebrosas. Chocou-me ele ter colocado na dança minha família, que não tinha culpa nenhuma no cartório, tanto mais que os fatos que ele mencionava tinham sido deturpados. Ainda que houvesse um laivo de verdade, não correspondiam à realidade. Era uma ofensa gratuita. Pelo que, uma das pessoas visadas por ele, meu irmão, pessoa muito briosa e assomada, resolveu comprar a briga, mas não para me defender, e sim defendendo-se e acusando o tal Dedê.

Daí resultou uma troca de cartas muito desagradável e eu fui obrigado, me senti no dever de liquidar o assunto escrevendo ao jornal que havia publicado a entrevista da pessoa.


Pedi-lhe para fazer aquilo que o Eça de Queirós pediu a Pinheiro Chagas. Há um romance de Eça em que o Pinheiro Chagas se sentiu retratado de maneira mordaz. Reclamou, e Eça então escreveu um artigo muito interessante que terminava assim: "Por favor, retire-se da minha personagem". Isso não ficou assim porque, durante um mês ou dois, em seguida, invariavelmente depois do almoço, o telefone tocava e uma voz desconhecida me dizia os piores desaforos. Eu ouvia aquilo com a humildade devida e também porque me parecia que essa pessoa teria algum motivo para se ofender. Não seria um ataque gratuito; ela devia ter-se ferido por alguma coisa que eu fiz.

O poeta no escritório do seu apartamento
da rua Conselheiro Lafayette.
- foto: (...)

Até que afinal liguei os fatos -- certa lentidão mental -- e a última vez que essa pessoa me falou eu reagi com uma série de xingamentos terríveis que nunca mais ele falou. Então exorcizei essa pessoa e parece, pus ponto final na estória, que foi muito desagradável, porque confesso a você que eu não tinha intenção de ferir ninguém. Não custava nada alterar a qualificação dele, o nome e a profissão. Foi mesmo, da minha parte, um erro.


Como você explica a perenidade da sua poesia com imagens para o seio materno, do tipo:


"Sorvetilúnio

Para o resto da vida, queijo, flã
Níveo de gelatina aldebarã".

Imagens das quais transborda uma sensualidade casta que, infelizmente, há muito foi abolida?


Esse sorvetilúnio, o queijo, o flã níveo de gelatina aldebarã, realmente são imagens um pouco desconexas, à primeira vista, surpreendentes. Mas como se referem à criança que viu o eclipse de 1913, o que eu quis fazer foi mergulhar na consciência infantil e despertar nela a ideia de um sorvete do luar e das coisas que as crianças gostam, como o queijo e o flã. Usei aldebarã porque, tratando-se de eclipse, portanto de um episódio ocorrido no espaço celeste, a estrela aldebarã podia ser introduzida aí. São recursos poéticos, um pouco arbitrários, mas que obedecem mais a um objetivo estético do que propriamente à intenção de fazer qualquer referência ao seio materno ou qualquer outra conotação de ordem sexual. Agora, mais uma vez, eu insisto em que o leitor tem o direito.


O Drummond de 1984 combina mais com a sensualidade marota da Elzirardente, uma Elzira que, pelo visto, queimava feito aguardente do poema "O Doutor Ausente", ou com a sensualidade recatada, quase pudor, dos "joelhos em tulipas", das "grades de seda", "da penugem de braço de namorada" e tantas outras imagens do tipo das três relacionadas acima?


A Elzirardente, para ser bem explicada, eu devo assinalar o seguinte: esses versos que você cita são de três livros que eu escrevi com as minhas memórias infantis, quer dizer, são fatos realmente acontecidos, situações verdadeiras que adaptei, naturalmente com as liberdades que o poeta se permite.


Em primeiro lugar, não quanto ao Hildebrando, nos demais fui trocando nomes e situações, para que o fato em si aparecesse sem essa moldura de realidade.


No caso, era um delegado de polícia, formado em direito, excelente homem de boa família, que tinha uma companheira, mulher humilde que vivia com ele. Ao mesmo tempo esse homem, por uma espécie de decadência devida à falta de estímulo intelectual do meio, à vida limitada, sem horizonte, sem nada, começou a beber, e do vinho bom passou à cachaça, que é o uísque dos pobres.


Então, nessa Elzirardente, há uma conotação com aguardente porque a mulher que naturalmente despertava desejos eróticos podia ser considerada uma espécie de cachaça, que ele sorvia a tragos mais ou menos largos, conforme a inspiração.


O elemento surpresa que você introduz em poemas como, por exemplo, "O Quarto em Desordem", pela menção:


"Cavalo solto pela cama

A passear o peito de quem ama."

Fechando um soneto que, eu diria, clássico, pode ser entendido como um dado erótico da poesia modernista?


Em primeiro lugar, confesso a você que não considero clássico o meu soneto porque, repare, ele não tem um esquema de rimas regular. Então dificilmente merece esse nome.


Agora, "o cavalo solto pela cama" é a imagem dos movimentos convulsos, da agitação frenética de uma atividade sexual na cama. É isso que tentei fazer. Se é um dado do Modernismo, eu não poderia ter essa pretensão porque nunca tive em mente estabelecer padrões para a poesia modernista. Sou um beneficiário do Modernismo, uma das pessoas que vieram depois, não um inovador propriamente.


Mas o fato de ser um soneto, que não é sua forma usual de poesia, já não seria um dado diferente?


Realmente o soneto não é frequente na minha poesia, mas eu acho que não é frequente na obra dos poetas modernistas em geral, pelo menos daqueles a partir da geração de 30, a que pertenço.


Você pode folhear toda a obra de um Augusto Frederico Schmidt e não encontra um soneto. Encontra algumas composições em catorze versos com a disposição clássica do soneto, mas sem o espírito dele.


O soneto tem uma estrutura, uma organização interna, a começar pela exigência de métrica e de rima, que os poetas modernos, em geral, não observam. Outro é o Murilo Mendes. Os sonetos de Murilo, que eu saiba, não existem. Se houver algum, como também os do Schimidt, não são sonetos regulares. Na minha obra também, o soneto é pouco frequente. Isso pela razão de que o Modernismo abriu avenidas novas em matéria de versificação. Ele deu um impulso muito grande ao verso livre. É um verso talvez mais difícil de manejar, porque não tem limites, não há legislação técnica sobre o verso livre. Há quem diga que ele alcança o limite do ato de respirar da pessoa. Quer dizer, se a pessoa não consegue enunciar o verso de um simples golpe, ele não é mais um verso, serão dois ou três versos.


Então, o fato de a metrificação comum alcançar, no máximo, doze sílabas -- só os versos chamados "bárbaros", de Carlos Magalhães de Azeredo, que foi nosso embaixador em Roma, é que tinham mais do que doze sílabas -- mas aí já é uma metrificação latina, que não temos na língua portuguesa, oferece ao soneto alguns problemas técnicos que não interessam ao Modernismo.


Por outro lado, é preciso saber fazer um soneto. Acredito que eu tenha sentido certa humilhação, vendo que os meus poemas não eram sonetos e que na realidade eu não os fazia. Então experimentei fazer. Acredito que haja na minha obra toda, no máximo, vinte sonetos. Por outro lado, existe a obra de um poeta modernista chamado Alphonsus de Guimarães Filho, já de uma terceira geração, em que a quase totalidade é de sonetos. Ele se exprime muito mais no soneto do que no verso livre, ao contrário do que acontece comigo, que me sinto mais à vontade no verso livre.


O fato de ser um soneto, a meu ver, significa apenas o seguinte: na ocasião, eu senti um impulso natural para fazê-lo.


Em geral, a composição poética se faz por uma espécie de caminho natural -- a pessoa se deixa levar por um ritmo. De certo modo, antes de escrever o poema ela já traçou um esquema mental pelo qual o poema aparece organizado em alexandrinos, em decassílabos, em oitavas, em décimas, rimado ou não rimado. O que se tem a dizer, normalmente, é condicionado por esse esquema mental que se elabora um pouco misteriosamente.


Acredito que, no meu caso, o soneto possa ser considerado uma exceção.


No poema "Mulher Vestida de Homem" o nome fictício Márgara encobre a personagem de um caso real dessa inclinação para vestir roupas do sexo oposto que Havelock Ellis denominou "eonismo", ou o poeta tirou da imaginação a fascinante mulher-homem que à noite se travestia para compensar a fragilidade na cama?


Não, a Márgara existiu realmente. É um poema de um dos meus livros de poemas da infância, em que as coisas que me impressionaram muito aparecem agora, na idade madura, transportadas para a poesia.


Não tinha esse nome de Márgara porque já então eu devo ter tido bastante experiência para não incidir no erro do "Sátiro" -- não quis dar nome aos bois -- mas era uma coisa que me parecia muito estranha.



Carlos Drummond de Andrade, por Portinari
Constava (e minha mãe mesmo dizia isso com certo assombro) que determinada senhora da sociedade itabirana, à noite se vestia de homem e saía pelas ruas não se sabe bem para fazer o quê -- ela não ia praticar nenhum ato estranho porque não havia condições -- as pessoas todas estavam dormindo. No interior se dormia cedo, não sei se ainda se faz isso, por causa da televisão.

Essa mulher era realmente estranha, porque tinha, não digo a pretensão de parecer-se com os homens, mas é possível que a inspirasse certo sentimento de inferioridade que a mulher experimentava até o começo do século. Sentia-se dependente do homem, obrigada a obedecer aos seus caprichos de toda natureza. E a calça comprida, o paletó, eram símbolos de masculinidade.


Não se admitia que um homem vestisse saia, que usasse aquele saiote escocês dos meus antepassados. Era obrigatório o terno completo.


Uma mulher tentando, à noite, quando todos já estavam dormindo e havia pouca chance de ser descoberta, andar vestida de homem, devia ser o máximo para ela.


Em Machado de Assis, a fixação pelos braços das mulheres é evidente. Em sua poesia, pernas e coxas femininas se destacam. Isso começou em Belo Horizonte quando você era adolescente. Como foi?


Acho, Lúcia, que começou antes. Começou em Itabira, porque não havia a menor informação sobre o corpo feminino. Os vestidos alongavam-se a ponto de esconder até os sapatos, e as pessoas, no máximo, arregaçavam um pouco o vestido para não se sujarem na lama da rua, nas poças d'água. O máximo que se podia ver de uma mulher era o bico do sapato.


Indo para Belo Horizonte já rapazola, com essa imagem precária da mulher, e encontrando ali um veículo muito útil para se recolher informação um pouco maior, que era o bonde, onde as mulheres, para subir, tinham de, contra a vontade, mostrar um pouco da perna, aquilo era uma delícia, pelo menos para pessoas do interior, como eu. Já para os rapazes nascidos em Belo Horizonte, não seria tanto assim.


Note-se que eu não tinha cinema na infância. O cinema chegou precariamente, com sessões no domingo à noite, quando não chovia, quando as estradas não estavam encharcadas e o burrinho, levando a mala do correio, levava também os discos, as latas dos filmes.


Nós conhecíamos pouco da vida e conjecturávamos muito. É como um selvagem que vai à cidade e encontra todas essas máquinas, esses recursos da civilização: fica espantado; a gente se espantava diante da perna, já não direi da coxa, que essa não se via de maneira nenhuma. A palavra coxa, eu a considerava altamente erótica.


A gente se consolava com a perna e notadamente com a barriga da perna, talvez também porque essa expressão -- barriga da perna -- já fazia suspeitar alguma coisa mais além. Eram suspeitas, indícios, conjecturas, que formulávamos em torno do corpo feminino.


Daí o fato de Mário de Andrade ter identificado na minha poesia aquilo de que eu não me tinha dado conta: a quantidade enorme de pernas que passam -- o bonde passava cheio de corpos, mas eu só via pernas na hora de subir. Freud explica isso, não é...


Estamos mesmo em Freud. Segundo Freud, "o amor sexual proporciona as mais fortes sensações de prazer, constituindo-se no protótipo do anseio de felicidade em geral. Todavia, uma pessoa nunca está menos protegida contra o sofrimento do que quando ama e nunca está mais desamparadamente infeliz do que quando perde esse amor". (Wilhelm Reich - "A Função do Orgasmo"). Você mesmo já escreveu no poema "Elegia": "Amor, fonte de eterno frio". Assim sendo, por que queremos todos o amor, a despeito de tudo que possa nos causar de tristeza e dor?


Não creio que, conscientemente, qualquer um de nós procure a tristeza e a dor. Mas há de haver uma força oculta dentro de nós, que acaba paradoxalmente procurando essas coisas. É um sentimento de autodestruição, realmente nebuloso. Não se procura isso conscientemente.


A gente procura o amor como fonte de realização plena, evidentemente. Mas está mais do que provado que essa realização nunca é desacompanhada de grandes tremores de terra, grandes convulsões, e nós sabemos o preço disso, porque há uma história que, dependendo da nossa experiência -- ela vem nos livros, nas óperas, na pintura -- mostra as tristezas do amor. É uma procura talvez masoquista, mas que faz parte da natureza humana. Não creio que alguém aspirasse a um amor puramente tranquilo, celestial, mesmo porque, na prática, está demonstrado que é impossível.


Quais as influências literárias que você foi recebendo desde que começou a fazer poesia?


Olha, essas influências são inúmeras, e não são simplesmente literárias, são de toda natureza. O "Almanaque Bristol" da minha infância foi uma influência que eu senti profundamente. As farmácias antigas tinham um cheiro especial, devido à manipulação de certas essências que exalavam um perfume muito agradável. Esse cheiro vinha acompanhado dos almanaques que a gente ganhava. Almanaques publicados pelos laboratórios, a Bayer e o Elixir Capivarol faziam isso.


A leitura daquilo -- nos almanaques havia anedotas, acrósticos, enigmas, cartas enigmáticas e versinhos também -- foi das primeiras leituras que eu tive. Em seguida as revistas semanais do Rio - "Fon-fon" e "Careta" - que eu pedia emprestado. Já atingindo assim uns dez, doze anos, eu tinha uma pequena mesada. Então, eu mesmo adquiria as revistas com grande orgulho. Colecionava aquilo, guardava com um ciúme louco, ninguém podia pôr as mãos em cima delas. Foram essas as minhas influências literárias.


As revistas já me traziam Olavo Bilac, além dos versos de outros poetas e aí eu já me sentia mais familiarizado com a literatura. Depois vieram os livros que meu irmão mandava para mim. Ele era estudante de Direito no Rio, lia os livros de Fialho de Almeida, Flaubert (em português), Antônio Patrício, poeta português pouco conhecido, de que eu gosto até hoje, Antônio Nobre, outro poeta muito estimado, Eça de Queirós, espécie de autor universal para o Brasil. Não havia brasileiro que se prezasse que não apreciasse Eça de Queirós. As pessoas imitavam-no, usavam suas expressões. Era uma grande influência.


Tive essas influências todas. Depois, através de meu irmão, fui adquirindo um conhecimento maior dos simbolistas franceses, Verlaine, Mallarmé, Rimbaud, etc. E me apaixonei por eles. No Brasil, esses poetas refletiam-se em Álvaro Moreyra, em Eduardo Guimarães, do Rio Grande do Sul, e no nosso velho Alphonsus, espécie de ídolo da mocidade do meu tempo.


Através dos modernistas, atravessando os modernistas, cheguei a Manuel Bandeira e Mário de Andrade que foram, realmente, os dois encontros literários mais importantes da minha vida. A esses devo praticamente tudo, porque foi o gosto da poesia de Bandeira, a delicadeza, o mistério dessa poesia que me encantaram, como foi também a teorização, a abertura de novos pontos de vista críticos que Mário me sugeriu.


A poesia do Mário nunca me influenciou. A de Bandeira, sim. Essas foram as grandes influências literárias da minha vida e influências humanas.


Eu acho que uma pessoa humilde, a minha ama-preta, foi uma influência na minha vida, influência existencial, mas que refletiu na literatura, porque tudo influi na gente, a casa onde se nasceu, os móveis, os objetos, os companheiros de infância...Nós somos realmente um cadinho de influências.


E Machado, como é que ficou?


Acho que houve uma intenção inconsciente minha de eliminar o Machado, porque, de tal maneira ele me persegue que quando estou aqui conversando, de repente há uma interrupção qualquer, por motivo de um café ou coisa que o valha, então eu mergulho na estante, pego Machado e abro em qualquer página. É uma fatalidade na minha vida. Talvez seja por isso que eu gostaria de esquecê-lo.


"Não procede historicamente a afirmação de que as grandes conquistas culturais da humanidade, na arte, na literatura, são frutos da sexualidade reprimida, mesmo porque "não há sublimação, por mais perfeita que seja, que não ameace cortar a fala natural do corpo, expressão que apenas o amor sexual pode transmitir com plenitude." (Gilbert Tordjman - "Chaves da Sexologia"). O que o poeta pensa disso quando o amor, nem sempre correspondido, tem inspirado alguns de seus mais belos poemas?"


Não concordo em que a idéia de criação artística ou literária esteja ligada à circunstância ocasional de repressão. Longe disso. O espírito nunca se aprisiona. Cervantes escreveu uma parte do "Dom Quixote" na cadeia, em Sevilha, como antes escrevera "La Galatea" no cativeiro em Argel.


Por outro lado, não se pode considerar como de vida sexual reprimida a vida de Lord Byron, um grande mulherengo, e a obra dele -- embora não seja muito lida -- é uma grande obra literária. Então eu acho que a plenitude amorosa funciona tão bem quanto a repressão. É um impulso natural do ser humano. Não há essa influência negativa da repressão quanto à criação literária. Esta é uma forma de reagir até contra a opressão. A pessoa proibida, impedida de publicar, de escrever publicamente, de fazer livros, músicas ou teatro, cria de qualquer maneira.

A divulgação da criação é que sofre dificuldades, mas o ato da criação continua livre.

"Porque preciso do corpo

Para mendigar Fulana,
Rogar-lhe que pise em mim,
Que me maltrate...Assim não." (O Mito)

É sabido que até as penitências do religioso da Idade Média, que se impunha cilícios, eram tentativas, nitidamente masoquistas, para atingir a satisfação sexual. A mulher, pela própria tradição cultural -- em que pese a recente liberação de costumes -- é muito mais passiva que o homem nas relações sexuais. Você percebe nessa passividade feminina traços de masoquismo, seja nos gestos de submissão ao parceiro, seja na renúncia aos próprios ideais?


Lúcia, eu acho que isso já acabou, sabe? Não há mais esse estado passivo da mulher. Ela pode tomar a iniciativa, pelo menos encarar a proposta, a sugestão do homem, com bastante liberdade para aceitar ou recusar, ou para ela própria promover, se for o caso.


É realmente como você diz: houve uma repressão de costumes, mas a mulher está, no momento, adquirindo consciência do seu ser como ser humano, sem obrigação de obedecer aos caprichos ou às ordens masculinas.


Na poesia erótica portuguesa o homossexualismo é presença constante. Na sua poesia, as alusões a esse desvio são raras e sutis, sendo que o poema "O Rapto" é um desses poucos exemplos. Você podia falar sobre a figura à qual se refere esse poema?


Pois não. Devo dizer que o homossexualismo sempre me causou certa repugnância, que se traduz pelo mal-estar. Nunca me senti à vontade diante de um homossexual.



Carlos Drummond de Andrade 
- foto: (...)
Com o tempo, havendo agora uma abertura imensa com relação ao desvio da homossexualidade, o homossexual não só ficou sendo uma pessoa com autorização para ir e vir como tal, mas chega a ponto de isto ser exaltado como riqueza de experiência, como acrescentamento da experiência masculina.

Acredito que na minha obra o único caso de poesia referente ao homossexualismo é esse. Mas exatamente por isso, porque o homossexualismo nunca foi um fato que me interessasse poeticamente, nem mesmo na vida real.


Esse "Rapto", exceção na minha poesia, resultou de uma leitura, de uma operação puramente literária. Me lembro ter lido, na mitologia, que Júpiter uma ocasião se apaixonou por um rapaz. Júpiter era terrível, não se podia chamá-lo de homossexual nem bissexual, era pólissexual.


Como deus maior, deus dos deuses, ele se permitia tudo, tinha todas as possibilidades. Apaixonou-se por um adolescente. Há as versões mais variadas. Numa delas esse rapaz era um príncipe, na outra era um pastor. Pois Júpiter encantou-se por ele, e para conquistá-lo, transformou-se numa águia, desceu do Olimpo, bicou o rapaz e transportou-o pelo ar, levou-o para o Olimpo. Lá, transformou-o numa coisa engraçada, no que se chamava de escanção -- homem que serve bebida nos festins -- servia a Júpiter na intimidade e aos deuses na vida social do céu.


Esse tema de Júpiter raptando Ganimedes -- era o nome desse cavalheiro -- é muito explorado pela arte. Nós temos o rapto de Ganimedes por Júpiter em Michelangelo, em Ticiano, em Rembrandt, em outros artistas de que agora não me lembro. Ficou sendo uma situação clássica.


Agora, ao que eu aludo aqui, é também ao homossexualismo no Brasil. Falando "na pérola dúbia das portas de boate", quis significar o movimento noturno do homossexualismo, que é quando ele se manifesta mais publicamente. O homossexualismo sai à noite, à procura de parceiro na boate ou na rua, na avenida ou em qualquer parte.


Em "Poesia e Prosa" encontrei um poema -- "Tortura" -- que aborda a zooerastia e outro - "O Sátiro" - no qual é contado um caso de zoofilia. Da mesma "Poesia e Prosa" constam diversas imagens com bichos e no "Amor Natural" aparecem algumas afinidades com o mundo animal. Se o "sadismo é uma característica do homem, adquirida em período tardio do seu desenvolvimento" (Wilhelm Reich - "A Função do Orgasmo") e considerando "que o homem se distingue do animal não por uma sexualidade menor, porém mais intensiva -- disposição permanente para relações sexuais" (Wilhelm Reich - "A Revolução Sexual") como você vê, Carlos, o fato de que o cruzamento entre macho e fêmea ocorra na natureza sem maiores incidentes enquanto o intercurso sexual entre homem e mulher tem mais de desencontro que encontro, haja vista a frequência, por exemplo, dos chamados crimes passionais?


Não concordo com o nosso amigo Reich quanto a essa afirmação de que "o sadismo é uma característica do homem adquirida em período tardio do seu desenvolvimento". O sadismo é uma característica infantil, por excelência. Posso dizer isso com experiência própria. Num poema de "Boitempo", falo de um gato cujo rabo coloquei um carretel a duras penas, segurando com muita força para impedir que ele me mordesse. O rabo ficou inflamado a ponto de que tirar dele o carretel, foi um problema. Meu irmão é que tirou, eu não tinha condições para isso. Pratiquei esse ato por pura maldade, não tem outra explicação. Foi um ato perverso, sem sentido -- coisa que os animais não fazem -- o animal ataca e mata obedecendo à necessidade de alimentação, de sobrevivência, coisa que o homem não tem porque pode subsistir sem eliminar seu parceiro.


Acho que o cruzamento entre macho e fêmea ocorre realmente sem maiores incidentes, mas, na realidade, o animal irracional é aquele que tem a sabedoria, o privilégio de viver a sua vida praticando sexualidade, sem remorso, sem sentimento de culpa, com naturalidade e na época adequada. Ele está programado. Nós não estamos ou desobedecemos à programação da natureza. Nós nos permitimos um interesse constante, obsessivo, doentio quando, na realidade, a capacidade de satisfação desse desejo não corresponde à obsessão. Imaginamos um ser humano com interesse luxurioso para com as mulheres que passam, como se ele desejasse dormir com todas. Há um excesso de pretensão do animal humano com relação às suas potencialidades.


"A Carne é triste depois da felação" ("O Amor Natural")

"Sessenta e nova vezes boquilíngua" ("O Amor Natural")
A felação, mencionada nesses poemas de "O Amor Natural", é um refinamento erótico ou perversão que, pelo acordo mútuo, transformou-se em desvio como ato ocasional entre parceiros íntimos?

Eu acho que esses casos citados, não são perversões da natureza, estão integradas na natureza. O amor erótico, o amor sexual, o amor carnal é legítimo porque dele depende a conservação da espécie. As formas de realização desse amor não estão codificadas. Não há nenhum livro no mundo que estabeleça que esta forma é normal e outra não. A condição para o ato é exatamente essa -- é aquilo dar prazer, se dá prazer, não é pecado.


São Paulo já dizia: "Amai e fazei o que quiserdes". A perversão seria a tentativa de obter de um determinado ato, determinada variedade de prazer diferente do normal que seria o prazer da dor. Isso sim é o único ato que eu acho vicioso, o ato sexual praticado com intenção de tirar sangue da vítima, de bater-lhe, de humilhá-la, chicoteá-la. Isso já não é natureza, é realmente o desvio do instinto e não pode ser aceito como erotismo.


"Viste em mim teu pai morto e brincamos de incesto.

A morte entre nós dois tinha parte no coito.
O brinco era violento, misto de gozo e asco
E nunca mais, depois, nos fitamos no rosto" (de "Fugitivo Hotel na Colcha de Damasco" - "O Amor Natural")

O poema citado assinala a passagem do sexo natural para o sexo cultural, sujeito de códigos dentro dos quais, nem mesmo nos jogos amorosos é permitido brincar de incesto?


Sim, realmente há essa passagem que pode ser assinalada. Sobre esse poema aparentemente chocante, devo dizer, como informação, que ele é imaginário. Resultou de uma conversa que eu tive certa vez com uma mulher. Ela declarou ver em mim o pai que já tinha morrido. Isso a fazia sentir-se atraída por mim. Achei curiosa a associação de um defunto com uma pessoa viva.


Tanto em alguns poemas da "Poesia e Prosa" como em diversos de "O Amor Natural" a associação amor/morte está presente:


Ah, coito, coito, morte de tão vida". ("A castidade em que abria as coxas" - " O Amor Natural")


Ovídio já intuiu uma certa cumplicidade entre Eros e Tânatos que, na poesia erótica portuguesa já pretendia - "Seja o amor realmente irmão da morte" ("Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica"). A propósito dessa tônica, o que você tem a dizer?



Drummond - foto: (...)
Isto é um conceito clássico de poesia, a ligação da morte com o amor. Já não é da poesia, é da psicologia. O êxtase amoroso é uma forma de morte porque depois dele os sentidos se apaziguam, ficam como que paralisados, mortos após a realização.

A morte, apesar do aspecto aterrorizante que ela tem para as pessoas vivas, em geral, encerra também certa fascinação, o que explica o ato dos suicidas.


A morte atrai. Como o que se chama de "belo horrível", como um vulcão que atrai para a morte.


Ela tem esse duplo aspecto de espalhar o medo e ao mesmo tempo certa curiosidade que pode se transformar em fascinação. É um conceito tradicional em poesia. Me lembro, não sei que poeta italiano, não sei se foi Leopardi que falava que, no momento do prazer, um desejo de morrer se sente.


"Por que viria ofertar-me

Quando a tarde já vai fria,
Sua nívea rosa preta
Nunca jamais visitada
Inacessível naveta?" ("A Moça Mostrava a Coxa" - "O Amor Natural")

A "inacessível naveta" -- ao invés da consagrada rima dos poetas eróticos portugueses -- foi uma questão de estética ou pudor?


Foi uma questão prática. Convidado a publicar esse poema numa revista de São Paulo -- dessas revistas consideradas para adultos -- pareceu-me que seria talvez chocante empregar a palavra que os portugueses usam, então servi-me dessa -- naveta -- e senti um certo prazer na substituição porque acho a palavra naveta muito bonita. Ela dá um fecho delicado ao poema que poderia chocar de outra maneira.


Você já me disse que nunca precisou do divã do analista. Em que medida a poesia concorreu para isso?


Realmente, mesmo que eu sentisse necessidade do divã seria impossível porque não havia o divã no Brasil. Os divãs existiam, mas divãs comuns. Ninguém se lembraria de deitar neles e dizer coisas da sua infância, coisas tenebrosas, para um especialista.


A figura do analista veio muito depois da minha infância e da minha mocidade. E já agora, a essa altura da vida, acho que nenhum analista me receberia, nem haveria mais necessidade.


De fato, a poesia exerceu sobre mim um papel bastante salubre ou tonificante, procurando sem que eu percebesse, clarear os aspectos sombrios da minha mente.


Tive uma infância bastante confusa e triste, e uma mocidade tumultuada. Sentia necessidade de expandir-me sem que soubesse como. A conversa com os amigos não bastava porque, talvez, eles não entendessem bem os meus problemas. Eram questões que vinham, digamos, de gerações anteriores, de casamentos de tios com sobrinhas, de primos com primas, tudo isso se acumulando na mente, criando problemas de adaptação ao meio, de dúvida, de perplexidade, etc...


Então comecei a fazer versos sem saber fazê-los, por um movimento automático. Foi uma tendência natural do espírito e senti que, pouco a pouco, ia aliviando a carga de problemas que eu tinha. Como se vomitasse. Nesse sentido, a poesia foi para mim, um divã.



Funcionou como catarse, então...
Drummond, Rio de Janeiro (1972)
- foto: Arquivo AE


Sim, como catarse, é a palavra certa.


Carlos, muito obrigada. O que eu pretendi com esse tipo de pergunta foi dar uma panorâmica da sua poesia, tanto através de "Poesia e Prosa" como de "O Amor Natural". Evidentemente, uma panorâmica centrada no erotismo porque os outros aspectos foram desprezados nessa entrevista. Nós estamos pesquisando a sua poesia tendo por motivo o erotismo. Muito obrigada. Acho que você esclareceu bastante. Sempre que for preciso, tomarei a liberdade de voltar a perguntar, mas, por hoje, é só. Muito obrigada.


E eu agradeço a você, porque uma pessoa que se preocupa com a minha poesia e descobre aspectos menos estudados dela, com a paciência, a boa vontade e, ao mesmo tempo, com o seu senso crítico muito agudo, só pode me dar uma grande alegria. Obrigado a você.

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Publicado originalmente em: Folha de S. Paulo, caderno Ilustríssima, em 08 de julho de 2012, por Marcelo Bortolloti (Rio de Janeiro).
Fotos: Acervo CDA/Cosac Naify/Divulgação e Arquivo Agencia do Estado (AE)


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Bibliotecas - tesouros da humanidade



“No Egito, as bibliotecas eram chamadas ‘Tesouro dos remédios da alma’. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras.”
- Jacques Bénigne Bossuet (1627-1704)

Biblioteca (do grego βιβλιοϑήκη, composto de βιβλίον, "livro", e ϑήκη "depósito"), na definição tradicional do termo, é um espaço físico em que se guardam livros.

Bibliotecas no mundo: uma epopéia histórica
Guardar o conhecimento, a cultura, a produção cientifica das Civilizações é uma tarefa difícil, pois o nascimento e a decadência de impérios é uma constante da história. Nesse sentido os mosteiros tiveram um papel fundamental: muito da cultura grega, romana, celta, nórdica e cristã da Antiguidade e Medieval foi preservada pelo trabalho árduo e silencioso dos monges copistas. Não por acaso, no século VIII d.C., já surgiam anexas aos mosteiros: grandes centros culturais, as Escolas Monacais.


Biblioteca Nacional do Brasil – Rio de Janeiro, Brasil
Salão de leitura da Divisão de Obras Raras
A Biblioteca Nacional do Brasil, considerada pela UNESCO uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, é também a maior biblioteca da América Latina. O núcleo original de seu poderoso acervo calculado hoje em cerca de nove milhões de itens é a antiga livraria de D. José organizada sob a inspiração de Diogo Barbosa Machado, Abade de Santo Adrião de Sever, para substituir a Livraria Real, cuja origem remontava às coleções de livros de D. João I e de seu filho D. Duarte, e que foi consumida pelo incêndio que se seguiu ao terremoto de Lisboa de 1º de novembro de 1755.
O início do itinerário da Real Biblioteca no Brasil está ligado a um dos mais decisivos momentos da história do país: a transferência da rainha D. Maria I, de D. João, Príncipe Regente, de toda a família real e da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, quando da invasão de Portugal pelas forças de Napoleão Bonaparte, em 1808.
Acervo da Biblioteca Nacional do Brasil
O acervo trazido para o Brasil, de sessenta mil peças, entre livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas, foi inicialmente acomodado numa das salas do Hospital do Convento da Ordem Terceira do Carmo, na Rua Direita, hoje Rua Primeiro de Março.A 29 de outubro de 1810, decreto do Príncipe Regente determina que no lugar que serviu de catacumba aos religiosos do Carmo se erija e acomode a Real Biblioteca e instrumentos de física e matemática, fazendo-se à custa da Fazenda Real toda a despesa conducente ao arranjo e manutenção do referido estabelecimento. A data de 29 de outubro de 1810 é considerada oficialmente como a da fundação da Real Biblioteca que, no entanto, só foi franqueada ao público em 1814.
Quando, em 1821, a Família Real regressou a Portugal, D. João VI levou de volta grande parte dos manuscritos do acervo. Depois da proclamação da independência, a aquisição da Biblioteca Real pelo Brasil foi regulada mediante a Convenção Adicional ao Tratado de Paz e Amizade celebrado entre o Brasil e Portugal, em 29 de agosto de 1825. 
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Serviço
Sede: Avenida Rio Branco, 219 - Rio de Janeiro - Rio de Janeir
o - Brasil.

Visite o site oficial: Biblioteca Nacional 
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Real Gabinete Português de Leitura – Rio de Janeiro, Brasil
Real Gabinete Português de Leitura
A maior biblioteca de autores portugueses fora de Portugal teve início em 1837 e conta com mais de 350.000 volumes em um acervo que reúne obras raras dos séculos XVI, XVII e XVIII.
O Real Gabinete Português de Leitura é uma instituição notável, não só pelo considerável acervo bibliográfico ou pelas diversas atividades que desenvolve, mas também pelo prestígio nos meios intelectuais. A instituição foi fundada em 1837 por um grupo de quarenta e três imigrantes portugueses para promover a cultura entre a comunidade portuguesa na então capital do Império.
Real Gabinete Português de Leitura - Rio de Janeiro, Brasil
O edifício da atual sede, projetado pelo arquiteto português Rafael da Silva e Castro, foi erguido entre 1880 e 1887 em estilo neomanuelino. Este estilo arquitetônico evoca o exuberante estilo gótico-renascentista vigente à época dos Descobrimentos portugueses. O Imperador D. Pedro II lançou a pedra fundamental do edifício e sua filha, a Princesa Isabel, junto com seu marido, o Conde d'Eu, inauguraram-no em 10 de setembro de 1887.
Aberta ao público desde 1900, a biblioteca do Real Gabinete possui a maior coleção de obras portuguesas fora de Portugal. Entre os 350 mil volumes encontram-se obras raras como um exemplar da edição "princeps" de Os Lusíadas de Camões (1572), as Ordenações de D. Manuel (1521), além de manuscritos do "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, do "Dicionário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias, e centenas de cartas de escritores. Há também uma importante coleção de pinturas de José Malhoa, Carlos Reis, Oswaldo Teixeira, Eduardo Malta e Henrique Medina. Entre os seus visitantes ilustres, do passado, encontram-se os nomes de Machado de Assis, Olavo Bilac e João do Rio.
A história da Academia Brasileira de Letras está ligada à do Real Gabinete, uma vez que as cinco primeiras sessões solenes da Academia, sob a presidência de Machado de Assis, foram ali realizadas.

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Serviço
Endereço: R. Luís de Camões, 30, centro - Rio de Janeiro
Funcionamento: 9h às 18h 
Entrada: gratuito
Site oficial: Real Gabinete Português de Leitura



Biblioteca do Monasterio de Wiblingen, Alemanha
(Wiblingen Monastery Library, Ulm, Germany)
Biblioteca do Monastério de Wiblingen, Alemanha
Antes de entrar na Biblioteca visitantes podem ver a inscrição “Em quo omnes thesauri sapientiae et Scientiae”, que significa “Onde são armazenados todos os tesouros do conhecimento e da ciência”, uma citação perfeita para qualquer biblioteca.
A famosa biblioteca do mosteiro Wiblinger tem as dimensões e as sumptuosas amenidades de um salão de banquete sagrado. Ele serviu como salão de residência espiritual, onde os convidados foram recebidos. O salão glorificado com as suas características diversas altamente diferenciados conhecimento humano e da sabedoria divina. O afresco do teto por Martin Kuen e Dominic são Hermenegild Herberger 1750 alegorias esculpidas pontos atrativos de vista da área magnífica.
Sammelband aus der Wiblinger Klosterbibliothek mit
 medizinischen Traktaten und Rezepten gegen
 Leiden wie Schlaflosigkeit, Bauchschmerzen,
Flechten und Fisteln, Verbrennungen oder Würmer.
A biblioteca reune cerca de 15.000 manuscritos, incunábulos chamado - impressões antes de 1500 - e outros documentos. Estes variam de originais, manuscritos, ilustações para revistas e impressão do mundo cotidiano e do sistema escolar. Na Wiblingen encontram-se  Manuscritos do século 15, magníficas no scriptorium estavam na sala escrita monástica, escrito e ilustrado, provavelmente, no trabalho assalariado. Há exemplos importantes da iluminação manuscrito sul alemã do tempo.

A Abadia de Wiblingen
Alemanha, foi uma abadia beneditina, hoje abriga a Faculdade de Medicina da Universidade de Ulm. A abadia faz parte da rota do barroco pela Suabia superior. O Mosteiro foi fundado em 1093, durante a Idade Média Wiblingen foi famosa por sua erudição, qualidade de sua educação e lugar exemplar de disciplina monástica. 
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Mais informações visite Site Oficial: Biblioteca do Monastério



Biblioteca Anna Amalia, Weimar - Alemanha
(Herzogin Anna Amalia Bibliothek Weimar, Germany)
Biblioteca Anna Amalia, Weimar, Alemanha
A Biblioteca Anna Amalia, tem um maravilhoso interior rococó dos tempos do barroco alemão, uma verdadeira jóia do Castelo Verde era a sala ovalada, a Rokokosaal, de onde se erguiam os andares com prateleiras e estantes cheias de livros e partituras musicais, juntadas desde 1691 pelo duque Guilherme da Saxônia-Weimar. A decoração interna coube aos pintores Kraus, Schmeller e Tischbein que fizeram os retratos dos grandes artistas de Weimar, enquanto bustos em mármore da duquesa, dos poetas Weiland, Goethe, Schiller e de Herder, colocados um ao lado do outro, davam um ar sagrado ao recinto: a Biblioteca Anna Amália era uma espécie de santuário da cultura universal.
O impulso para fazer de Weimar um lugar excepcional para as letras e artes da Alemanha inteira deu-se quando a duquesa, Protetora dos Poetas e Pensadores, enviuvou em 1759.
O seu mais famoso convidado foi Goethe, homem cosmopolita, um gênio que, além das línguas modernas, dominava meia dúzia de idiomas antigos. Ainda que assumindo o pequeno teatro local, por igual encarregaram-no da biblioteca, sendo seu diretor de 1797 até a sua morte em 1832. Tornou-a – a Biblioteca Central dos Clássicos Alemães -, referência obrigatória para o mundo culto germânico, ao tempo em que o ducado de Weimar ganhou fama como a Atenas da Alemanha. Mais recentemente, a UNESCO promovera a biblioteca a patrimônio da humanidade.
A biblioteca é especializada em literatura alemã do período entre 1750 e 1850. Ela abriga várias primeiras edições raras e a maior coleção mundial do Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe. O mais famoso poeta alemão dirigiu a biblioteca de 1797 até a sua morte, em 1832.
A biblioteca de Nietzsche e a biblioteca do antigo Arquivo-Nietzsche de Weimar são hoje parte efetiva do Acervo-Nietzsche da Biblioteca Herzogin Anna Amalia em Weimar de Weimar.
"Do alto desaba uma onda enfurecida/ De uma tímida gota/ [torna-se] a enchente que explode com raiva"
- Goethe (O Livro das Parábolas, in Divã Oriente-Ocidente, 1819)
Biblioteca Herzogin Anna Amalia, em Weimar 
Em 2004, um incêndio destruiu 50 mil livros e deixou 62 mil obras seriamente danificadas. Trabalho de recuperação do acervo está sendo considerado “milagre” da restauração.
A biblioteca na “capital dos clássicos”, terra dos poetas Johann Wolfgang Goethe e Friedrich Schiller, reabriu em 2007 suas portas após uma recuperação de seus salões em estilo rococó e de seu patrimônio bibliográfico.
Dos 62 mil livros danificados, só 28 mil foram recuperados. Na inauguração, terão voltado às estantes 50 mil volumes, entre os restaurados e os salvos das chamas. Até 2015, graças às mais avançadas técnicas de restauração, mais 10 mil devem voltar às prateleiras. O resto é irrecuperável.
A biblioteca da duquesa Anna Amalia continha volumes dos séculos XVI a XIX, conservava uma ampla amostra de originais de Shakespeare, e a maior coleção do mundo de edições de “Fausto”, com quase 3.900 volumes. Além dos livros, continha 2 mil manuscritos medievais e 8.400 mapas históricos. O acervo incluía coleções privadas de livros das famílias de Franz Liszt e Friedrich Nietzsche.
Localizada no Parque Belvedere, a residência ducal de verão, Schloss Belvedere (1761-6), possui acervo de arte decorativa do período rococó e uma coleção de veículos agrícolas.
Cidade: Weimar, cidade do estado da Turíngia, no leste alemão, fica a 250 quilômetros de Berlim e é o centro cultural da região. A cidade conta com um total de 14 prédios históricos tombados pela Unesco.
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Referências e fontes: Wilamowitz-Moellendorff, Erdmann von. O Acerto de Nietzche na Biblioteca Herzogin Anna Amalia em Weimar. Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 20, n. 27, p. 367-381, jul./dez. 2008.



Biblioteca do Monastério Beneditino de Admont - Áustria


(Library of the Benedictine Monastery of Admont, Austria)

Biblioteca do Monastério Beneditino de Admont, Áustria 

É a maior biblioteca monástica no mundo, no acervo uma das mais antigas coleções científicas. É conhecida por sua arquitetura barroca e as coleções de arte e manuscritos.


O salão da biblioteca, construída em 1776,  projetada pelo arquiteto Joseph Hueber, é de 70 metros de comprimento, 14 metros de largura e 13 metros de altura. Ela contém c. 70.000 volumes de explorações inteiras do mosteiro de c. 200.000 volumes. O teto é constituído por sete cúpulas, decoradas com afrescos de Bartolomeo Altomonte mostrando as etapas do conhecimento humano até o ponto alto da Revelação Divina. A luz é fornecida por 48 janelas e é refletida pelo esquema de cores original de ouro e branco. A arquitetura e design de expressam os ideais do Iluminismo, contra a qual as esculturas de Joseph Stammel de "As Quatro Últimas Coisas" fazem um contraste impressionante.

A abadia possui mais de 1.400 manuscritos, o mais velho dos quais, a partir de St. Abbey Pedro, em Salzburgo, foi o dom do fundador, o arcebispo Gebhard, e acompanhou os primeiros monges para resolver aqui, bem como mais de 900 incunabulae.

A Abadia de Admont


Dedicada a São Brás, Admont Abadia foi fundada em 1074 pelo arcebispo Gebhard de Salzburgo com o legado do falecido Santa Hemma de Gurk  e terminados por monges da Abadia de St. Pedro em Salzburg, sob abade Isingrin. O segundo abade, Giselbert, dizem ter introduzido as cluniacenses reformas aqui. Outro dos abades cedo, Wolfhold, estabeleceu um convento para a educação das meninas de família nobre, e a tradição educacional tem se mantido forte desde então. O mosteiro prosperou durante os Idade Média e possuía uma produtiva scriptorium. Abade de Engelbert Admont (1297-1327) foi um famoso estudioso e autor de muitas obras.

O Monastério beneditino de Admont, Áustria

As guerras contra os turcos e Reforma (Abbot Valentine foi obrigado a renunciar por causa de seus pontos de vista reformados) causou um declínio longo, mas com a Contra-Reforma da abadia floresceu novamente. Além da escola secundária, que mais tarde mudou-se para Judenburg , havia faculdades de teologia e filosofia. Abade Albert von Muchar era bem conhecido como um historiador e professor da Universidade de Graz.

Nos séculos 17 e 18 da abadia atingiu seu ponto alto de produtividade artística, com as obras do mundialmente famoso eclesiástico bordador irmão Benno Haan (1631-1720) e o escultor José Stammel (1.695-1.765).

Em 27 de abril de 1865 um incêndio destruiu quase todo o mosteiro. Enquanto os arquivos monásticos foram todos restaurados. Reconstrução começou no ano seguinte, mas ainda não foi concluída até 1890. 

As crises econômicas da década de 1930 obrigou a abadia a vender muitos dos seus tesouros artísticos, e durante o período do nacional-socialista governo do mosteiro foi dissolvido e os monges expulsos. Eles retornaram em 1946 e hoje a abadia é novamente uma próspera comunidade beneditina.

De 1641 a abadia foi um membro da Congregação Salzburg, que em 1930 foi incorporada pela atual Congregação austríaca da Confederação Beneditina.
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Biblioteca da Abadia de Saint-Florian - Áustria

(The Library of St. Florian Abbey, Austria)
Biblioteca da Abadia de Saint-Florian, Áustria

A construção da ala da biblioteca foi iniciada 1744, por Johann Gotthard Hayberger. A biblioteca dispõe de cerca de 130.000 volumes, entre muitos manuscritos. A galeria contém numerosas obras dos séculos 16 e 17, mas também algumas obras do medieval-tardio da Escola Danúbio, particularmente por Albrecht Altdorfer.

O Monastério Saint- Floriano

O mosteiro, em homenagem a São Floriano, foi fundada no carolíngio período. Desde 1071 que já abrigou uma comunidade de Cônegos Agostinianos , e é, portanto, é um dos mosteiros mais antigos operacionais do mundo após a Regra de Santo Agostinho .

Entre 1686 e 1708 o complexo do mosteiro foi reconstruído em estilo barroco estilo por Carlo Antonio Carlone, de quem São Floriano é considerado a obra-prima. Após sua morte, o trabalho foi continuado por Jakob Prandtauer. O resultado é o maior mosteiro barroco na Alta Áustria. Os afrescos foram criadas por Bartolomeo Altomonte.
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Biblioteca do Monastério de Melk
(Melk Monastery Library, Melk, Austria)
Biblioteca do Monastério de Melk
A Abadia de Melk, ou Convento Melk, é uma das mais célebres entre as escolas monásticas. Fundada em 1089 quando Leopoldo II, Margrave* da Áustria, família que dominava aquela região até a ascensão dos Habsburgos, doou um de seus castelos aos monges beneditinos da Abadia de Lambach (*título do antigo Império Germânico).
No século XII os monges criaram ali uma escola e a partir desse momento a biblioteca ficou muito conhecida pela sua imensa coleção de manuscritos. Em seu scriptorium foram copiados centenas de manuscritos com iluminuras preciosas.
No século XV a abadia tornou-se o centro da Reforma Melk, movimento que revigorou a vida monástica na Áustria e no sul da Alemanha.
Tudo no Convento impressiona. É realmente estupendo. O hall de acesso, todo em mármore, é um espetáculo. Suas paredes são em estuque de mármore, as esquadrias e o piso em mármore da província de Salzburg. Vale à pena descrever seu teto, pintado por Gaetano Fanti (1687/1759): Palas Atena (Minerva) numa biga puxada por dois leões, simbolizando a sabedoria e a moderação, tem a ajuda de Hércules, que está à sua esquerda, para derrotar o cérbero das três cabeças: o inferno, a noite e o pecado.
Mas os dois legados mais importantes dessa construção barroca são a Abadia, com seus belíssimos altares, afrescos e imagens, e a Biblioteca, que guarda incontáveis manuscritos, incluindo uma admirável coleção de partituras.
Monastério de Melk, Áustria
Devido à sua fama Melk conseguiu escapar da dissolução por várias vezes; apesar de invadida e agredida, acabou sempre por resistir. Do reinado de José II, passando pelas invasões napoleônicas até o surgimento do nazismo, quando a escola e a abadia foram confiscadas pelo Estado, Melk sofreu mas resistiu. Aos ditadores não agradam as bibliotecas...
Aos apaixonados por livros, extasia a coleção de livros históricos que preenchem a biblioteca. Ao entrar no salão, aquelas prateleiras que vão até o teto, ocupadas por encadernações deslumbrantes, são de tirar o fôlego. Toda a decoração da biblioteca acompanha os tons dourados do couro trabalhado em ouro: o ambiente resplandece.
O valor artístico de sua decoração mostra o apreço que os monges tinham pela biblioteca. No teto os afrescos de Paul Troger (1731/32) fazem um retrato alegórico da Fé. Ela está no centro, cercada pelas quatro virtudes cardeais: Sabedoria, Justiça, Coragem e Moderação.
As quatro esculturas em madeira, uma de cada lado das duas portas principais, representam as quatro faculdades: Teologia, Filosofia, Medicina e Direito.
Ao todo são doze salas que guardam cerca de 1888 manuscritos, 750 incunabula, 1700 livros do século XVI, 4500 do século XVII e 18000 do século XVIII. Juntando com os livros modernos, são cerca de 100.000 volumes. No salão principal (abaixo), estão aproximadamente 16000 livros.
Curiosidade: sua influência e reputação como centro de aprendizado e cultura foram homenageados por Umberto Eco em seu admirável “O Nome da Rosa”.  A um de seus personagens, na realidade o narrador da história, ele deu o nome de Adso von Melk, como um tributo à abadia e à sua riquíssima biblioteca.
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Site Oficial: Biblioteca de Melk

Biblioteca do Monastério Beneditino Kremsmünster
(The Library of the Kremsmünster Abbey, Austria)
Biblioteca do Monastério Beneditino de Kremsmünster
A magnífica biblioteca beneditina da Abadia Kremsmünster, construída entre 1680 e 1689, por Carlo Antonio Carlone. É uma das maiores bibliotecas da Áustria, acervo de 160.000 volumes, além de 1.700 manuscritos e cerca de 2.000 incunábulos.
Um rico acervo de livros, incluindo valiosos manuscritos medievais, como o “Codex millenarius", um livro do Evangelho escrito por volta de 800 na Abadia do Monastério. E uma coleção de tesouros artísticos que caracterizam oeuvres superiores Europeia ourivesaria (Cálice de Tassilo, Tassilo Candelabro) foram preservados em Kremsmünster. A conservação de ambas as estruturas e os tesouros de arte é exemplar. O interessante coleção de objetos de história natural e do observatório são acessíveis ao público, com uma visita guiada.
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Site Oficial: Biblioteca da Abadia Kremsmünster 





Biblioteca Nacional da Áustria
(Wien Prunksaal Oesterreichische Nationalbibliothek)

Biblioteca Nacional da Áustria 

A Biblioteca Nacional Austríaca, localizada em Viena, é a biblioteca nacional da República da Áustria. Fundada na Idade Média pelos Habsburgos, foi chamado de Biblioteca do Tribunal de Justiça (Hofbibliothek) até 1920. Ela está localizada no Hofburg, apesar de parte das coleções estarem localizadas no Palais Mollard-Clary.
Com mais de 7,4 milhões de registros, é uma das mais ricas bibliotecas da Áustria. Contém o depósito legal, a bibliografia nacional, o depósito de trabalhos acadêmicos, e também grandes coleções de incunábulos, mapas e atlas confeccionados em papiro e escritos em línguas artificiais, para alem de vários documentos iconográficos. 
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Site Oficial: Biblioteca Nacional da Áustria




A Biblioteca do Mosteiro de Strahov – Praga, na República Checa
Salão Teológico, da Biblioteca do Mosteiro de Strathov
A história de Strahov e sua Biblioteca é muito longa e rica em episódios e não tenho aqui espaço para tanto. Vamos falar da Biblioteca e de suas duas Salas, a Teológica e a Filosófica. São obras-primas do barroco e seu acervo é invejável sob todos os aspectos.
Infelizmente, hoje em dia não se pode entrar e admirar essas magníficas salas: o visitante fica atrás de uma corda vermelha, o que, dizem, não impede que veja os belíssimos tetos, as estantes recheadas de livros e os demais objetos que adornam o ambiente. Nada mais justo depois de uma reforma que custou muito tempo e dinheiro do Estado.
A Sala Teológica, de meados do século XVI, recebeu as raridades que os monges abrigavam há mais de 4 séculos. Seu teto é coberto por afrescos que descrevem passagens da Bíblia, sobretudo o Livro dos Provérbios. Reparem no trabalho em estuque que emoldura os afrescos, é famoso por sua beleza.
Também na Sala Teológica a “roda da compilação”, encomendada pela biblioteca em 1678 e usada para compilar textos: o escriba distribuía os textos dos vários livros, manuscritos ou códices que lia ou copiava nas prateleiras que giravam conforme sua necessidade: eram feitas de tal modo que os papéis não escorregavam e com certeza poupavam muito trabalho. 
No lado esquerdo da sala está a imagem em madeira de São João Evangelista, exemplo do gótico tardio. São notáveis também os globos terrestres.
Salão Filosófica, da Biblioteca do Mosteiro de Strathov
No final do século XVIII, foi decido que a biblioteca necessitava de mais espaço e ergueram a Sala Filosófica. O espantoso tamanho da sala (comprimento 32m, largura 22m e altura 14 m) é perfeito para o imenso afresco em seu teto, feito pelo pintor vienense Anton Maulbertsch que em 1794 levou seis meses para pintá-lo, com o auxílio de um único assistente.
O tema é “O Progresso Intelectual da Humanidade”: de um lado figuras como Moisés, a Arca da Aliança, Adão, Eva, Caim e Abel, Noé, Salomão e David. De outro, o desenvolvimento da civilização grega até Alexandre, O Grande, pintado ao lado de seu mestre Aristóteles.
Também se vê cenas do Novo Testamento, como São Paulo pregando diante do monumento a um deus desconhecido no Areópago de Atenas. A ciência é retratada nas figuras de Esculápio, Pitágoras e Sócrates.
Sobre os portões em ferro forjado que levam ao espaço que une as duas salas está escrito: Initium Sapientiae Timor Domini (O começo da sabedoria é o temor a Deus).
As estantes em nogueira abrigam um acervo de mais de 200.000 volumes, a maioria impressa entre 1501 e 1800; além de livros de e sobre filosofia, tratados de astronomia, matemática, história, filologia, etc.
A Biblioteca Strahov guarda também a primeira edição da Encyclopédie coordenada por Diderot e d’ Alembert, o que prova a mentalidade evoluida desses monges.
A coleção de manuscritos, mais de 1500, por seu imenso valor, é guardada numa sala especial.
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Localizado em Praga, próximo do Castelo de Praga e da magnífica Colina Petrin, na República Checa.
Mais informações sobre a biblioteca, seus salões - em inglês.


Biblioteca da Abadia de St. Gallen - Suíça
(St. Gallen Abbey Church Library, Swiss)
Biblioteca da Abadia de St. Gallen, Suíça
Em 612 d.C, Gallo e Columba, dois missionários irlandeses que percorriam o continente europeu para pregar sua fé, construíram um abrigo no Vale de Steinach, um belo local com bosques e cachoeira, perto do Lago Constança, na Suiça.
Logo receberam outros missionários que comungavam das mesmas idéias e criaram um convento. Quando Gallo morreu, seu túmulo virou local de peregrinação (Gallo e Columba foram canonizados).
Em 719, Otmar, um padre alemão, tomou a si a liderança da comunidade e ampliou o convento original transformando-o em um monastério que de 747 em diante adotou as Regras de São Bento. Não demorou muito para que a abadia adquirisse fama como local apropriado para quem queria seguir as severas regras beneditinas.
Eis uma delas: “A ociosidade é inimiga da alma; por isso, em certas horas devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual, e em outras horas com a leitura espiritual” (do capitulo 48 das Regras de São Bento).
Não é por outro motivo que todos os mosteiros beneditinos têm bibliotecas, algumas mais valiosas que outras, mas todos cultivam os livros. A primeira indicação que no Vale de Steinach existia uma biblioteca é datada de 820, numa “planta para a abadia” que descreve com detalhes uma construção de dois andares, com uma biblioteca e um “scriptorium” no térreo, parede colada na igreja.
Mosteiro Beneditino St. Gallen, Suíça
A abadia cresceu rapidamente e se tornou um centro cultural e espiritual famoso pelos manuscritos e pelas iluminuras que seus monges faziam. Entre os monges de St. Gallen muitos iluministas, poetas e músicos foram célebres em vida e recebiam muitas encomendas.
O acervo cresceu de tal modo que em 1553 teve que ser transferido para um novo prédio, que também ficou pequeno. Entre 1758 e 1767, foi decidido que seria erguido o magnífico salão barroco decorado pelos mais brilhantes artesãos da região, e que hoje é considerado um dos mais belos no gênero.
As estantes em madeira trabalhada e a luz que penetra pelas 34 janelas tornam o ambiente acolhedor. No teto, afrescos falam dos quatro primeiros Concílios da Igreja; o trabalho em estuque maravilha os visitantes.
Sendo a mais antiga biblioteca da Suíça, e uma das primeiras e mais importantes bibliotecas monásticas, sua extraordinária coleção de livros revela o desenvolvimento da cultura na Europa e guarda documentos que comprovam as realizações culturais da abadia do século VIII até a dissolução do monastério, em 1805.
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Site Oficial: Biblioteca St. Gallen 


Real Biblioteca del Monastério de San Lorenzo de El Escorial 
Real Biblioteca del Monastério de San Lorenzo de El Escorial
"Uma biblioteca é uma das mais belas paisagens do mundo."
- Jacques Sternberg (1923-2006)

O Monastério de San Lorenzo de El Escorial é, sem dúvida nenhuma, uma das edificações renascentistas de maior beleza arquitetônica em todo o mundo. A 50 km de Madrid, ao pé do Monte Abantos, na Serra de Guadarrama, e a 1028m de altitude, quando nos aproximamos, impressiona aquele gigante num local que devia ser ermo à época de sua construção. Ocupa uma área de 33.327m²!
Idealizado por Felipe II na segunda metade do século XVI como um grande complexo monacal e palaciano, desde o fim do século em que nasceu já era considerado a oitava maravilha do mundo.
O que lhe deu essa fama não foram apenas sua beleza e tamanho, mas seu valor como símbolo e guardião da História da Espanha. El Escorial é a cristalização dos sonhos e da determinação de seu criador, um verdadeiro príncipe renascentista.
Monasterio de San Lorenzo del Escorial, Madrid
A construção foi iniciada em 23 de abril de 1563 e completada em 13 de setembro de 1584. Lá dentro estão magníficos exemplos de todas as Artes Plásticas ornando a belíssima Basílica, os salões e as escadarias do palácio, a Cripta dos reis espanhóis, as salas capitulares do Mosteiro e o teto e as paredes que ornam as salas da Real Biblioteca, que é o que nos move hoje. 
Felipe II doou sua coleção particular de valiosos códices para essa estupenda biblioteca; além disso, ele adquiriu bibliotecas completas, estrangeiras e espanholas, o que fez com que seu acervo seja, até hoje, dos mais respeitados entre os pesquisadores e bibliófilos. Numa nave de 54 m de comprimento, 9m de largura e 10 m de altura, estão abrigados 40.000 volumes de altíssimo valor histórico.
Pelo conteúdo de mapas, cartas, crônicas, verdadeiros tratados antropológicos e etnográficos relacionados ao estudo das culturas indígenas da América espanhola, a Real Biblioteca é um verdadeiro tesouro, não tanto pela quantidade como pela qualidade dos documentos chamados “Americanistas”.
Por ter sido a biblioteca real durante os reinados dos Habsburgos aos Bourbons, ela conserva peças de valor excepcional, sempre sob os cuidados dos monges agostinianos, a quem o Mosteiro foi entregue por Felipe II.
Seu teto em abóboda está decorado com afrescos que representam as sete artes liberais, i.e., Retórica, Dialética, Música, Gramática, Aritmética, Geometria e Astrologia. 
O piso é todo em mármore; os globos e a esfera armilar são peças que foram usadas para o estudo das viagens de descoberta a serem feitas e para o relato das viagens já empreendidas. A esfera armilar é de madeira, datada de 1536, e foi feita em Florença por Antonio Santucci. (foto abaixo). As cinco mesas retangulares, em mármore, são do século XVII.
No portal de entrada, uma inscrição ameaça com a pena da excomunhão todo aquele que retirar um livro ou um objeto da sala. Nas estantes vemos miniaturas do século XIII, encadernações em couro gravadas a ouro, assim como incunábulos de valor literalmente incalculável. Há mil manuscritos em árabe, dois mil e novecentos em latim e línguas vernaculares, setenta e dois em hebreu e quinhentos e oitenta em grego.
Em 2 de Novembro de 1984 a UNESCO declarou El Real Sítio de San Lorenzo de El Escorial como Patrimônio da Humanidade.
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Serviço: Avda. D. Juan de Borbón y Battenberg, 1
28200 – San Lorenzo de El Escorial - Madrid, Espanha
Site Oficial: Biblioteca Real
Outras referências: FERNÁNDEZ, José Carlos. A biblioteca o Escorial, um tratado Hermético


Biblioteca do Trinity College, Dublin – Irlanda
(Trinity College Library Dublin)
Biblioteca do Trinity College, Dublin, Irlanda
"Há livros de que apenas é preciso provar, outros que têm de se devorar, outros, enfim, mas são poucos, que se tornam indispensáveis, por assim dizer, mastigar e digerir."
- Francis Bacon

A Universidade da Irlanda, mais conhecida como Trinity College, foi fundada em 1592 por Elizabeth I. De início só eram admitidos alunos anglicanos para os cursos de graduação, mestrado, doutoramento; também para as congregações de docentes e para a obtenção de bolsas. Mas, em 1873, essas exigências religiosas foram eliminadas.
A Biblioteca do Trinity College, localizado em Dublin, é a maior biblioteca na Irlanda. Tem direitos de depósito legais do material publicado na República da Irlanda. A biblioteca tem mais de 4,5 milhões de volumes de livros.
As suas maiores atrações são a Old Library, biblioteca com 200.000 volumes decorada com bustos de acadêmicos, a harpa mais antiga da Irlanda e o Livro de Kells.
Guardiã de iluminuras, manuscritos, códices, in-folios e livros que são parte importante da herança ocidental, ela contém hoje, 5 milhões de volumes impressos, inclusive uma impressionante colecção de jornais, mapas e partituras que nos ajudam a percorrer mais de 500 anos do desenvolvimento acadêmico europeu.
Trinity College Library
O prédio original, conhecido como Biblioteca Antiga, localizado no coração de Dublin, leva os visitantes de volta ao século XVIII, quando a maravilhosa edificação estava sendo erguida. Em 12 de Maio último, comemorou-se o seu tricentenário.
O salão principal, chamado de Long Room, com quase 65 metros de comprimento, guarda os mais antigos livros do acervo da biblioteca, cerca de 200.000.
Quando foi construído, entre 1712 e 1732, as prateleiras ocupavam o andar térreo apenas. Em 1850 essas prateleiras estavam completamente ocupadas e em 1860 o telhado foi levantado para permitir a construção de um teto abobadado e de uma galeria com mais prateleiras.
Ao longo do salão, ficam os bustos de mármore que são uma das marcas da biblioteca. Coleção iniciada em 1743, inclui bustos de filósofos, escritores ocidentais e de personalidades de algum modo ligadas ao Trinity College, sendo que o mais valioso é o de Jonathan Swift, feito pelo escultor Louis François Roubiliac.
Outros tesouros incluem uma das poucas cópias da Proclamação da República da Irlanda, de 1916, e uma harpa irlandesa que é a mais antiga de seu tempo, provavelmente do século XV, feita em carvalho e salgueiro, com 29 cordas. Essa harpa foi o modelo para o emblema da Irlanda.
Mas a sua maior riqueza é o Livro de Kells (em inglês: Book of Kells; em irlandês: Leabhar Cheanannais), também conhecido como Grande Evangeliário de São Columba, um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800 DC, no estilo conhecido por arte insular. 
Por sua grande beleza e pelo primoroso acabamento, o manuscrito é considerado por historiadores e especialistas como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval, além de ter a importância de ser a peça principal do cristianismo irlandês. Povo, como sabemos, extremamente religioso.
Escrito em latim, o Livro de Kells contém os quatro Evangelhos do Novo Testamento, além de notas preliminares e explicativas, e numerosas ilustrações e iluminuras coloridas.
Apesar de instituição secular, a biblioteca emprega métodos modernos para facilitar a pesquisa, o aprendizado e o ensino.
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Para ver a beleza acesse o link aqui.



Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, Portugal

Biblioteca Joanina de Coimbra

O Conde Athanasius Raczinsky, embaixador da Prússia em Lisboa, homem muito culto e colecionador de raridades bibliográficas que guardava em seus palácios, um dos quais viria a ser o célebre Reichstag de Berlim, foi um dos mais conceituados críticos de arte do século XIX. Em suas notas sobre o tempo que viveu em Portugal e as obras de arte que lá encontrou, deixou registrado sobre a Biblioteca Joanina: "la bibliothèque la plus richement ornée que j'aie jamais visitée".

Não há exagero algum nas palavras do conde. É uma joia magnífica da qual a Universidade de Coimbra muito se orgulha e da qual cuida com enorme carinho.
Seu início foi semelhante ao de outras bibliotecas universitárias. No século XV, sua sede era em Lisboa. Enviada para o Paço Real de Coimbra, onde o então chamado Estudo iria se instalar, ocupa a sala do guarda-roupa, vizinha à Sala Grande (hoje Sala dos Capelos), passa a ser chamada de Casa do Livro e é confirmada como biblioteca pública.

Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra

O que não dura muito: com a Reforma Católica do Concílio de Trento, a biblioteca deixa de ser pública, apesar dos sucessivos estatutos assim insistirem.



Durante muito tempo, as bibliotecas importantes eram as dos colégios universitários, como o da Companhia de Jesus ou o de São Pedro, onde os autores e pesquisadores estudavam e se alojavam.



Foi só no final do século XVII, com a criação dos chamados Gerais Universitários, que a existência da biblioteca de Coimbra seria consagrada.

Mas era preciso reformar e ampliar a sala onde se encontrava, em um palácio já com 700 anos! Os livros foram então recolhidos ao segundo andar, à espera do término das obras e nisso se passaram muitos anos até que, em 1716, o reitor se dirige ao rei D. João V e lhe faz ver que ao contrário do que os Estatutos da Universidade rezavam, Coimbra não tinha uma sala à altura do acervo acumulado.

Biblioteca Joanina

Obtida a autorização do rei, foi nesse ano que começou a construção dessa que é, sob todos os aspectos, uma das mais importantes bibliotecas do mundo,no Largo da Porta Férrea, Coimbra.

Em seu riquíssimo acervo encontram-se “A Bíblia Latina de 48 linhas”, editada em 1462; o “Livro das Horas”, manuscrito com iluminuras, de meados do século XV; “Mensagem”, único livro de Fernando Pessoa a ser editado em vida do poeta, em 1934 (o exemplar é conservado na brochura original e tem dedicatória manuscrita do Autor); “Paesi novamente retrovatti”, organizado por Francesco de Montalboddo, impresso em 1507, compila relatos de viagens de descoberta (ou redescoberta) empreendidas por portugueses, espanhóis e italianos.

Trata-se da primeira vez que se editou em italiano a terceira viagem de Américo Vespúcio. Inclui um dos primeiros relatos publicados sobre a viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Despertou grande interesse e com a presteza possível naquele tempo, foi editado também em latim e em alemão.

Panorâmica da Universidade de Coimbra acesse o link aqui.



Biblioteca do Convento de Mafra - Portugal
Biblioteca do Convento de Mafra, Portugal
O maior tesouro de Mafra é sua biblioteca (c.1730) que, juntamente com a biblioteca de Coimbra, representam o que de mais belo e elegante há nesse tipo de arquitetura em Portugal.
As prateleiras, feitas em madeira brasileira, medem, ao todo, 83 metros de extensão. Entalhadas em estilo rococó, as estantes abrigam mais de 40 mil obras; entre elas vemos verdadeiras raridades bibliográficas, como os incunábulos.
Todas as encadernações em couro marroquino gravado a ouro, são prova viva de que as bibliotecas antigas são, na verdade, porta-jóias que guardam jóias.
A sala imensa, com 88 m de comprimento, 9,5m de largura e 13m de altura, recebe iluminação natural que até hoje impressiona pela perfeição com que a luz do dia foi aproveitada, invadindo o salão e iluminando o piso principal e a galeria, através de enormes janelas que além de funcionais, são muito belas.
A biblioteca tem planta em cruz; na parte mais a sul, ficam os livros religiosos, com manuscritos religiosos ainda em pergaminho. Prática habitual nas bibliotecas antigas, os códices e incunábulos eram acorrentados, como podemos ver na foto à esquerda.
No centro, encontramos os livros sobre os quais a inquisição tinha reservas, que vão da filosofia à anatomia, e entre eles uma preciosa relíquia: o manuscrito do “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente.
Na parte a norte da cruz, perto da entrada, estão os livros de arquitetura, direito, medicina e música. Ali fica uma primeira edição de "Os Lusíadas", impressa em 1572.
Na foto abaixo uma mesa especial para o estudo e desenho de mapas; não consegui descobrir seu nome, e olhem que já fui a Mafra algumas vezes... E quantas mais pudesse ir, iria: tudo lá é um verdadeiro deslumbramento!
Tertúlia Bibliófila
"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
- Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»
O Palácio
Convento de Mafra, Portugal
Dom João V fez o voto de construir um convento, voto que cumpriu em 1711, ao mandar erguer, na Vila de Mafra, o convento dedicado a Nossa Senhora e a Santo Antonio, para ser entregue à Ordem dos Frades Arrábidos.
O convento, originalmente, estava destinado a abrigar 13 frades, mas ao longo dos anos cresceu e tornou-se um palácio-mosteiro com capacidade para 300 monges.
Conhecido como o Palácio Nacional de Mafra, sua construção, com exceção da bela pedra branca de Lioz, típica de Portugal, foi quase toda feita com material importado da Itália, Holanda, França, Antuérpia e Brasil. Daqui foram todas as madeiras utilizadas e o nosso ouro pagou por tudo o mais: mármores, cristais, baixelas, sinos, órgão, imagens, alfaias, artistas, artesãos, e um imenso e longo etc.
Todo o palácio é belíssimo. Chamam a atenção a Basílica e seus dois carrilhões com um total de 92 sinos que pesam mais de 200 toneladas e são considerados os maiores e melhores do mundo; as dependências para abrigar os doentes, sobretudo os que sofriam de doenças mentais; as escadarias; a proporção de seus ambientes; e o lavrado das pedras, realmente primoroso.
A 22 de Outubro de 1730, embora as obras ainda estivessem atrasadas, decidiu El-Rei que se celebrasse a cerimônia de Sagração da Basílica, presidida pelo Cardeal Patriarca D. Tomás de Almeida, participando toda a Família Real, Corte e representantes de todas as Ordens.
O Convento
O convento dos Premonstratenses (ordem religiosa fundada por São Norberto no ano 1120 d.C. em Prémontré, França) do qual faz parte a Biblioteca Strahov, foi criado em Praga, em 1143, pelo Bispo de Olomuc com apoio do arcebispado de Praga e do Príncipe da Bohemia (depois Rei) Vladislav e sua mulher Gertrude. A origem do acervo da biblioteca data da fundação do mosteiro.
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Biblioteca do Castelo de Chantilly - França
(Bibliothèque et Archives du Château de Chantilly)
Biblioteca do Castelo de Chantilly
A Biblioteca do Castelo de Chantilly, no Petit Château, abriga mais de 1300 manuscritos e 12.500 obras impressas, incluindo a Bíblia de Gutenberg e cerca de 200 manuscritos medievais. Essa Biblioteca é parte de uma propriedade de franceses que também inclui uma das mais importantes galerias de arte da França.
Castelo de Chantilly
O Castelo de Chantilly (em francês: Château de Chantilly) é um palácio localizado em Chantilly, Oise, no Norte da França, no vale do rio Nonette, afluente do rio Oise.
Monumento histórico ligado à personagem de François Vatel (1631-1671), que aqui teria criado a receita culinária do creme de chantilly, compreende dois edifícios principais: o Grand Château e o Petit Château. Mais tarde, em 1781, a seu respeito, Louis-Sébastien Mercier referirá:
"Nunca encontrei nada comparável a Chantilly nos arredores da capital. (...) Trinta viagens neste lugar encantado não diminuiram a minha admiração. É o melhor casamento feito entre a arte e a natureza".
Castelo de Chantilly
O palácio ocupa o lugar de um castelo medieval. As grandes cavalariças, construídas entre 1719 e 1740, são uma obra prima do arquitecto Jean Aubert e abrigam, atualmente, o Musée vivant du cheval (Museu vivo do cavalo). Os jardins são uma das mais notáveis criações de André Le Nôtre.
À exceção do Petit Château, construído por volta de 1560 por Jean Bullant para Anne de Montmorency, o palácio foi destruído durante a Revolução Francesa e reconstruído na década de 1870, segundo planos do arquitecto Honoré Daumet, para o último filho do Rei Luís Filipe I, Henrique de Orleães, Duque d'Aumale (1822-1897), herdeiro do domínio de Chantilly, que aqui instalou as suas coleções de pintura, desenhos e livros antigos. Este proprietário viria a legar o conjunto ao Instituto de França, sob o nome de Museu Condé. A cidade de Chantilly desenvolveu-se para Oeste do palácio durante e depois da Revolução Francesa.
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Biblioteca Bodleian da Universidade de Oxford
 (Duke of Humfrey’s Library, Bodleian, Oxford University, England)
Biblioteca Bodleian da Universidade de Oxford
A biblioteca da Universidade de Oxford (1602), uma das mais antigas da Europa, na Inglaterra só perde em tamanho para a famosa British Library do Museu Britânico, Londres. Seu nome é Bodleian Library, mas o mundo acadêmico de Oxford a chama de Bodley ou simplesmente pelo apelido, the Bod.
É uma das cinco bibliotecas inglesas encarregadas do depósito legal de obras publicadas no Reino Unido e sob a Lei Irlandesa lhe é permitido requisitar uma cópia de livros publicados na República da Irlanda. A Bodleian é uma biblioteca de referência e pesquisa e seus documentos não podem ser removidos das salas de leitura.
Ela é composta por um grupo de cinco prédios nas proximidades da Broad Street: vão do mais antigo, que data da Idade Média tardia, conhecido como Biblioteca do Duque de Humphrey, ao mais moderno, a Nova Bodleian, de 1930.
Um dos prédios mais lindos é esse da imagem à esquerda, o Radcliffe.
Além dos cinco acima mencionados, fazem parte do conjunto cerca de 30 unidades que respondem pelo funcionamento do grupo, entre bibliotecas de faculdades e departamentos.
No século XIV o bispo de Worcester criou uma biblioteca situada na Igreja de Saint Mary Virgin, na principal rua de Oxford, a High Street.
Bodleian-Library
A coleção cresceu muito, mas foi só entre 1435 e 1437, quando Humphrey, Duque de Gloucester, fez a doação de sua grande coleção de manuscritos para a Escola de Teologia que o espaço finalmente foi oficialmente considerado insuficiente,  e a necessidade de um novo prédio ficou aparente. Esse também ficou pequeno...
No século XVII, Thomas Bodley ofereceu ao vice-chanceler da Universidade a reforma da biblioteca original e a construção de um novo prédio, que ficou pronto em 1602 e recebeu o nome do mecenas, além de herdar sua grandiosa biblioteca particular.
Foi quando a Bodleian passou a ser uma biblioteca aberta a todos os membros da comunidade acadêmica.
Seus números são impressionantes: o grupo Bodleian cuida de mais de 11 milhões de itens em 188 quilômetros de prateleiras e tem uma equipe de mais de 400 funcionários. Seu contínuo crescimento fez com que cerca de 1 milhão e meio de itens fossem armazenados em depósitos fora de Oxford, inclusive numa mina de sal desativada, no Cheshire.
O acervo é muito rico: manuscritos valiosíssimos; códices cuja importância é desnecessário enfatizar, bastando citar o mais antigo manuscrito dos quatro Evangelhos, em cóptico, antigo idioma egípcio; a Bíblia de Gutemberg, de ca.1455, uma das únicas cópias completas que ainda existem; um primeiro in-fólio de Shakespeare, de 1623 e muitas outras raridades. Acima e abaixo, iluminuras que fazem parte do acervo da the Bod.
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Site Oficial: Biblioteca Bodleian 




Biblioteca da Abadia de Waldsassen, Baviera - Alemanha
(Stiftsbibliothek Waldsassen)
Biblioteca da Abadia de Waldsassen, Baviera, Alemanha.
A Biblioteca Waldsassen Abbey, uma abadia cisterciense é uma das bibliotecas mais importantes no sul da Alemanha.
A construção da abadia começou em 1133 e sua biblioteca em 1433, mas só entrou em uso com o Abade Eugen Schmidt (1724-1726).
Dez imagens  esculpidas magistralmente em madeira em tamanho natural, na galeria salão principal da biblioteca. Estas representam as diferentes facetas de orgulho na forma de loucura, escárnio, hipocrisia e ignorância. Também tem bustos esculpidos no espaço de pessoas famosas do mundo antigo, como Sófocles, Platão, Sócrates e do imperador Nero.
Em quatro grandes afrescos do teto e fenômenos místicos são representadas cenas da vida do monge cisterciense São Bernardo de Claraval. Os medalhões de dez retratos mostram o grande Doutor da Igreja.
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Site Oficial (Alemão): Biblioteca da Abadia de Waldsassen


Biblioteca do Congresso Americano - Washington, EUA
( Library of Congress, Washington, DC, USA)
Biblioteca do Congresso Americano, Washington, EUA.
A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington, é a instituição cultural mais antiga do país e a biblioteca mais completa do mundo. Criada em 1800 pelo então presidente John Adams, possui atualmente cerca de cento e quarenta milhões de obras em pelo menos quatrocentos e setenta idiomas, muitas das quais verdadeiros tesouros - por exemplo, os diários manuscritos de George Washington ou um exemplar da bíblia de Gutenberg. Com o advento das novas tecnologias, parte do seu patrimônio já está a ser digitalizado e, portanto, tornar-se-á acessível a qualquer leitor.
O centro de Washington abriga um dos grandes tesouros norte-americanos: a Biblioteca do Congresso. Considerada a maior e mais completa biblioteca do mundo, já resistiu a dois incêndios e à conseqüente perda de milhares de livros. No entanto, a sua coleção – que foi sendo reposta ao longo dos tempos - distribui-se atualmente por mil quilômetros de estantes e está a ser digitalizada com o objetivo de se tornar acessível a todos.
A Biblioteca foi criada a 24 de Abril de 1800 através de um decreto oficial assinado pelo então presidente John Adams. O “Ato do Congresso” transferia, assim, a sede do governo de Filadélfia para Washington. Na nova capital, o governo destinou cinco mil dólares para a compra de livros necessários ao funcionamento do Congresso, e a um espaço que fosse capaz de armazená-los.
Inicialmente a biblioteca fica instalada no Capitólio. Porém, quando as tropas inglesas invadem o território em 1814, um primeiro incêndio destrói não só o edifício como também os três mil exemplares que este continha até à data. Num golpe de sorte, em menos de um ano a sua coleção ganha 6.487 livros: o ex-presidente Thomas Jefferson, com várias dívidas para pagar, vende a sua biblioteca pessoal. Passara mais de cinqüenta anos a colecionar obras sobre os Estados Unidos e referentes a todos os temas científicos.
Em Dezembro de 1851, um segundo incêndio põe fim a trinta e cinco mil livros e raridades como os retratos dos cinco primeiros presidentes norte-americanos pintados por Gilbert Stuart, um retrato original de Cristóvão Colombo e estátuas de George Washington, Thomas Jefferson e Marquês de la Fayette.
Atualmente, a biblioteca é gerida por quatro mil bibliotecários que, para além da organização e preservação do seu patrimônio, se dedicam a manter a filosofia iniciada por Thomas Jefferson: o caráter universal do conhecimento só é possível se acreditarmos na importância de todos os temas. Foi nessa base que Rand Spofford, bibliotecário entre 1864 e 1897, a transformou numa instituição nacional, estabelecendo a lei dos direitos autorais pela qual todos os que publicassem teriam de enviar à biblioteca dois exemplares do seu trabalho. Por conseguinte, houve uma entrega massiva de livros, mapas, folhetos, fotografias e músicas e, claro, uma escassez de estantes para os guardar.
Em 1873, o Congresso autoriza então um concurso para novas propostas a fim de alargar a biblioteca. Em 1886, o projeto de Washington John e J. Paul Pelz é posto em prática e constrói-se um impressionante edifício baseado na arquitetura renascentista. O seu interior começa a ser decorado com esculturas e pinturas de vários artistas norte-americanos. A 1 de Novembro de 1897, a Biblioteca do Congresso abre oficialmente as suas portas ao público.
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Site Oficial: Biblioteca do Congresso Americano 



Biblioteca do Castelo de Beloeil - Bélgica
Bibliothèque du Chateau du Beloeil - Belgium
Biblioteca do Castelo de Beloeil - Bélgica
A biblioteca abriga mais de 20.000 livros e manuscritos preciosos Beloeil, algumas das quais são raras, como o "Liber passionis" braços de Henrique VII de Inglaterra. Um retrato de Albert Henry, segundo Príncipe de Ligne (1609-1641), lembra que o homem de estudo foi o criador deste conjunto único. A história e a invenção da imprensa até o presente.
A importância da biblioteca sobre os interesses de ambos os livros sobre a qualidade de ligantes, assinados pelos maiores mestres neste domínio. Junto à biblioteca, uma sala pequena contém livros, encadernadas em rosa, o marechal Charles-Joseph de Ligne e mais de 3.500 cartas de autógrafos, correspondência trocada entre os homens preciosos e famoso com príncipes soberanos de Ligne.
Castelo de Beloeil (Château de Beloeil)
O Castelo de Beloeil está situado na municipalidade de Beloeil, na província de Hainaut, Bélgica. Desde o século XIV, tem sido a residência do Príncipe de Ligne. O castelo está no meio de um magnífico jardim barroco projetado em 1664. Beloeil tornou-se possessão da família Ligne em 1394. No começo do século XV, o castelo local foi escolhido como residência principal da família nobre. O castelo era uma construção retangular fortificada com um fosso em volta e tinha quatro torres redondas em cada canto. Esta estrutura básica ainda está conservada, mas as fachadas e os interiores foram grandemente alterados com o decorrer dos séculos.
Sala de Jantar do Castelo de Beloeil
Nos séculos XVII e XVIII, o castelo fortificado foi transformado em uma luxuosa casa campestre, seguindo o exemplo francês. A partir de 1664 foi criado o magnífico parque, com os seus pequenos lagos geométricos, as suas alamedas rectas e as suas perspectivas grandiosas. Os típicos "bosquets" - jardins fechados por altos sebes - foram preservados, apesar da preferência por jardins ingleses durante os séculos XVIII e XIX. Um pequeno jardim de paisagem com uma ruína foi exposto na direta vizinhança do castelo pelo célebre Charles Joseph, Príncipe de Ligne. Um lago artificial retangular possui estátuas clássicas em cada ponta.
Os interiores foram luxuosamente decorados com finas mobílias e com coleções de arte da família. No Ano Novo de 1900, um desastre atingiu o castelo. Um incêndio queimou-o completamente, mas a maioria de suas mobílias, incluindo a biblioteca, que contém mais de vinte mil preciosos volumes, e a coleção de arte foram salvos. O castelo então foi reconstruído nos anos seguintes pelo arquiteto francês Samson. Os interiores foram suntuosamente redecorados com as melhores peças da coleção dos Ligne, lembrando o Palácio de Versalhes.
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Site Oficial: Chateaudebeloeil 



Biblioteca Nazionale Marciana, Venice, Italy
(National Library of St Mark's)
Biblioteca Nazionale Marciana, Venice, Italy
A Biblioteca Nazionale Marciana (ou seja, a biblioteca de São Marcos, padroeiro de Veneza) é a mais importante biblioteca de Veneza e uma das maiores de Itália. Contém uma das mais ricas colecções de manuscritos do mundo.
É conhecida em italiano sob os nomes alternativos de Biblioteca di San Marco, Libreria Marciana, Libreria Sansoviniana, Libreria Vecchia, Libreria di San Marco ou simplesmente La Marciana.
Ocupa parte dos edifícios da praça de São Marcos na piazzetta dei Leoncini, na margem do Grande Canal de Veneza.
A História da Biblioteca
Em 1362 Petrarca propôs que fosse criada uma biblioteca pública em Veneza. O projecto não se realizou, mas o poeta legou a sua biblioteca pessoal à cidade (hoje está conservada na "Marciana").
O primeiro passo para a biblioteca pública data da doação do cardeal Bessarion, que entregou os seus livros à República de Veneza ad communem hominum utilitatem (em 31 de Maio de 1468): 746 manuscritos dos quais 482 em grego e 246 em latim, aos quais se juntaram 250 outros manuscritos após a morte do doador.
A biblioteca viu as suas coleções enriquecerem graças a inúmeras doações e legados, bem como por incorporação de outras bibliotecas da cidade e da República. Uma importante parte das obras provém de Constantinopla, depois da cidade ter sido tomada pelos otomanos: isto fez de Veneza o principal centro de estudo dos clássicos gregos, o que atraiu numerosos humanistas. Um certo número reunia-se em volta de Alde Manuce na Academia Aldina.
Em 1603, uma lei entrou em vigor, impondo a todos os impressores de Veneza o depósito de uma cópia de cada obra à Marciana. Esta última torna-se assim a biblioteca central da República.
“Sala d’Oro", no Palazzo della libreria/Biblioteca Marciana
(afrescos, by Paolo Veronese)
Depois da queda da República, as coleções dos estabelecimentos religiosos, suprimidas por Napoleão foram para a Marciana.
Bessarion colocara uma condição aquando do legado dos seus livros: que eles fossem conservados num lugar apropriado. Veneza não respondeu de imediato a esta exigência do cardeal. A biblioteca foi primeiro instalada num edifício da Riva degli schiavoni, e depois na Basílica de São Marcos, e por fim ao Palácio dos Doges.
Foi apenas em 1537 que se determinou a construção de um palazzo della libreria (palácio da biblioteca), na praça de São Marcos. O projeto foi confiado a Jacopo Sansovino. Os trabalhos continuaram até 1546 e a biblioteca foi transferida em 1553. O edifício não terminou, no entanto, senão em 1588: os últimos trabalhos foram conduzidos por Vincenzo Scamozzi, depois da morte de Sansovino em 1582.
Contribuíram entre outros na decoração Tiziano, Veronese, Alessandro Vittoria, Battista Franco, Giuseppe Porta, Bartolomeo Ammannati e Tintoretto.
Em 1811 a biblioteca foi transferida para o Palácio dos Doges e não voltou à sede histórica senão em 1924. Os edifícios ficaram demasiado pequenos, e a biblioteca ocupa hoje a fabbrica della Zecca, além do palazzo della libreria.
A biblioteca hoje
A biblioteca tem hoje o estatuto de biblioteca pública do Estado. As suas coleções incluem:
- 1.000 000 de obras impressas antigas e modernas
- 2.283 incunábulos
- 13.000 manuscritos
- 24.055 livros do século XVI
As obras mais conhecidas são dois códices da Ilíada, o Homerus Venetus A (século X) e o Homerus Venetus B (século XI). Encontra-se igualmente na Marciana a Chronologia magna de Fra Paolino, manuscrito de Plínio, cópia de 1481 que pertenceu a Giovanni Pico della Mirandola, um exemplar do primeiro livro impresso em Veneza, numerosas edições aldinas, uma rica coleção de cartas e de atlas (incluindo uma cópia do mapa-múndi de Fra Mauro), etc.
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Site Oficial: Biblioteca Marciana/Veneza

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Página  atualizada em 26.4.2014.



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