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D. H. Lawrence: influente e polêmico escritor inglês

D.H Lawrence, por Delph Ambi
David Herbert Lawrence ou D. H. Lawrence (Nottingham, 11 de Setembro de 1885 - Vence, 2 de Março de 1930)

D. H. Lawrence foi um dos escritores britânicos que mais gerou polêmicas e opiniões controversas. Sua obra, apesar de redimida e considerada como renovadora na estética da literatura inglesa do século XX, ainda hoje é incompreendida pelas pessoas, que já o chamaram, entre muitos adjetivos, de poeta indecente, imoral e pornográfico.

O que mais causou repulsa na obra de D. H. Lawrence aos seus contemporâneos, foi a coragem de dar sexualidade às personagens. Longe de ser obscena, a escrita de Lawrence faz do sexo algo natural, parte da essência humana e da sua conduta na sociedade. A entrega dos corpos é o momento que homem adquire contacto com a natureza e a sua verdadeira vertente. O autor não se esquiva de dar importância ao encontro de peles, desnudando a sociedade da sua época, sem fazê-la obscena, mas erótica e humana, sem os preconceitos dos costumes que se fariam decadentes ao longo do século XX, encerrando de vês os resquícios da moral vitoriana na Grã-Bretanha.

A obra de Lawrence reflete um caráter social evidente, onde a industrialização desenfreada da Inglaterra contrastava com o homem do campo, com as tradições. Dar sexualidade às personagens era retratar o mais recôndito dos segredos da intimidade de uma sociedade. De maneira obsessiva, as mulheres, o sexo e o amor afloram como temas latentes no universo de Lawrence. A ousadia custou caro ao autor, que viu a sua obra ser censurada dentro do próprio país. Clássicos como “O Amante de Lady Chatterley”, ou “O Arco-Íris”, foram proibidos por décadas na Grã-Bretanha. Uma obra magnífica foi reduzida à obscenidade do puritanismo da época. Somente o tempo provaria a beleza literária e eterna das palavras de Lawrence, mas ele não viveria para ver este reconhecimento. Morreu sendo injustiçado por seus contemporâneos, aos 44 anos.

D. H. Lawrence deixou uma obra que se estende por quase todos os gêneros literários, dela faz parte romances, contos, peças teatrais, livros de viagem, crítica literária, cartas pessoais e livros de arte, além de muitas traduções. Além de escritor, Lawrence também era pintor e produziu muitas obras expressionistas.

Mergulhar na obra deste autor modernista é beber da essência humana, sentir o pulsar sexual daqueles que enfrentam o seu tempo sem as roupas que se lhe foram impostas, de cara lavada, sem as maquiagens dos costumes de uma sociedade. O homem e a mulher são seres que lutam, sonham, amam e fazem sexo!


D.H. Lawrence - por Edmond Xavier Kapp (1923)
CRONOLOGIA DE D. H. LAWRENCE
1885 – Nasce, em 11 de setembro, David Herbert Lawrence, em Eastwood, Nottigham, Inglaterra.
1897 – O pequeno David é admitido na escola secundária de Nottingham.
1902 – Deixa a escola, arrumando um emprego de escriturário. Torna-se amigo da jovem Jessie Chambers. Sucumbe a uma pneumonia. Durante a convalescença escreve os seus primeiros poemas.
1905 – É admitido na Universidade de Nottingham. Dá início ao seu primeiro romance, O Pavão Branco.
1909 – Enviados por Jessie Chambers, são publicados alguns poemas de D. H. Lawrence na revista English Review.
1910 – Morre, em 9 de dezembro, Lydia Lawrence, mãe do escritor.
1911 – Publicado, em janeiro, O Pavão Branco.
1912 – Conhece Frieda von Richthofen, esposa do seu antigo professor de francês. Apaixonada, Frieda abandona o marido e os filhos para seguir o escritor. Parte com Frieda para a Alsácia-Lorena; a seguir, vão para a Itália.
1913 – Publica O Intruso. Termina de escrever Filhos e Amantes e inicia outro romance, Crepúsculo na Itália.
1914 – D. H. Lawrence e Frieda voltam para a Grã-Bretanha, onde se casam em Londres, após o marido de Frieda conceder-lhe o divórcio. Inicia o projeto que resultaria no romance Mulheres Apaixonadas.
1916 – Publica Crepúsculo na Itália.
1917 – Sob suspeita de espionagem, D. H. Lawrence e Frieda são expulsos da Cornualha. Vão morar em Londres até o fim da Primeira Guerra Mundial.
1919 – O casal parte para a Itália.
1920 – Escreve duas coleções de poemas e vários contos.
1921 – Escreve o romance O Mar da Sardenha.
1922 – Viaja com a mulher para o Ceilão e para a Austrália.
1923 – Escreve o romance Canguru. Viaja para o continente americano, passando pelos Estados Unidos e fixando residência no México.
1925 – Começa a escrever Ternura, título que mais tarde seria mudado para O Amante de Lady Chatterley. Dedica-se à pintura.
1926 – Escreve A Serpente Emplumada.
1927 – Visita a Toscana, na Itália. Com gravíssimos problemas de saúde, parte para a Suíça. Para dar seguimento aos tratamentos de saúde, segue com Frieda para a Alemanha.
1928 – Publica, em Florença, o romance O Amante de Lady Chatterley. Realizada em Londres, apesar das maledicências da imprensa, uma bem sucedida exposição com as pinturas de D. H. Lawrence.
1929 – Viaja com a mulher para Paris, hospedando-se na casa de Aldous Huxley. Agravado o estado de saúde do escritor. Inicia um tratamento intensivo no sanatório de Vence, na França.
1930 – Morre, em 2 de março, em Vence, França, vítima de uma meningite tuberculosa.
Fonte: Valinor


"Mas o homem não pode viver no caos. Os animais podem. Para o animal, tudo é caos, há somente alguns poucos aspectos e movimentos recorrentes dentro de ondulações vibratórias. E o animal está contente. Mas o homem, não. O homem precisa embrulhar a si numa visão, fazer uma casa com uma forma visível e com estabilidade, com fixidez. Em seu terror pelo caos, o homem começa armando um guarda-sol entre ele próprio e aquele vórtice intenso na sua duração sem fim caos. Então ele colore o lado interno de seu guardasol, imitando o firmamento. Então ele desfila por aí, vive e morre debaixo de seu guarda-sol. Legado a seus descendentes, o guarda-sol torna-se uma cúpulacapela, uma casaforte, uma câmara mortuária, e os homens começam a sentir, finalmente, que alguma coisa está errada."
- D.H. Lawrence em "Caos em poesia. D.H. Lawrence". [tradução Wladimir Garcia]. Florianópolis: Editora Cultura e Barbárie, 2016, pg. 22.
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D.H. Lawrence - foto: Edward Weston
OBRAS DE D. H. LAWRENCE (DAVID HEBERT) PUBLICADAS NO BRASIL
:: A filha do negociante de cavalos - A meia branca - sol. D. H. Lawrence [tradução Rosana Castilho, Gisele Wokaff, Andréia Martins L. Mateus]. Editora Paz e Terra, 1996.
:: A jovem perdida | The lost girl. D. H. Lawrence. [tradução Albano Nogueira]. Editora Circulo do Livro, 1982; 1986.
:: A jovem perdida | The lost girl. D. H. Lawrence. [tradução Albano Nogueira]. Editora Record, 1978.
:: A serpente emplumada | The plumed serpent. D.H. Lawrence. [tradução de Aurea Weisenberg]. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint | Ediouro, 1989.
:: A serpente emplumada The plumed serpent. D. H. Lawrence. [tradução ?]. Rio de Janeiro: Editora Record, 1986
:: A serpente emplumada The plumed serpent. D. H. Lawrence. [tradução de Aurea Weisenberg]. Editora Circulo do Livro, 1981.
:: A virgem e o ciganoThe virgin and the gipsy. D. H. Lawrence[tradução Alexandre Pinheiro Torres; capa Alfredo Aquino]. Editora Circulo do Livro, 1970.
:: A virgem e o ciganoThe virgin and the gipsy. D. H. Lawrence. [tradução Alexandre Pinheiro Torres]. Rio de Janeiro: Editora Record, 1970.
::  A virgem e o cigano | The virgin and the gipsy. D. H. Lawrence. [tradução ?]. Coleção Cantadas Literárias. Editora Brasiliense | Mundo Jovem, 1987.
:: Apenas uma mulher | The fox. D. H. Lawrence[tradução ?]Edições de Bolso. Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 1976.
:: Apenas uma mulher The fox. D. H. Lawrence[tradução ?]. São Paulo: Circulo do Livro, 1951; 1991.
:: Apenas uma mulher e outras histórias | The fox and other StoriesD. H. Lawrence[tradução Maria Célia Castro]Editora Record, 1951; 1974. 
:: Apenas uma mulher e outras histórias | The fox and other StoriesD. H. Lawrence. [tradução José Veiga e Maria Célia Castro; seleção e organização Mário Feijó]. Rio de Janeiro: Edições BestBolso | Editora Record, 2015.
:: Apocalipse Seguido de O homem que morreu. D. H. Lawrence. [tradução Paulo Henriques Britto]. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1990.
:: Decadência pelo amor | The white Peacock. D. H. Lawrence. [tradução Cabral do Nascimento; adaptação brasileira Carmelinda Soares]. Editora Portugália, 1975.
:: Filhos e amantes | Sons and lovers. D. H. Lawrence[tradução ?]. Rio de Janeiro: Editora Record, 1974
:: Filhos e amantes | Sons and lovers. D. H. Lawrence[tradução portuguesa de João Cabral do Nascimento]. Circulo do Livro, 1973.
:: Filhos e amantes | Sons and lovers. D. H. Lawrence[tradução portuguesa de João Cabral do Nascimento]. Rio de Janeiro: Ediouro, 1989.
:: Filhos e amantes | Sons and lovers. D. H. Lawrence. [adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez]. Coleção Clássicos Universais. Editora Rideel, 2007.
:: Histórias de amor. D. H. Lawrence. [tradução ?]. Coleção Estrela. Rio de Janeiro: Ediouro, 1985.
:: Mulheres apaixonadas | Women in love. D. H. Lawrence. [adaptação Ruth de Biasi da tradução portuguesa de Cabral do Nascimento]. Editora Circulo do Livro, 1983.
:: Mulheres apaixonadas | Women in love. D. H. Lawrence. [adaptação Ruth de Biasi da tradução portuguesa de Cabral do Nascimento]. Coleção Clássicos Modernos, nº 35. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1975; 1983.
:: Mulheres apaixonadas | Women in love. D. H. Lawrence. [adaptação Ruth de Biasi da tradução portuguesa de Cabral do Nascimento]. Coleção Obras Primas. Editora Nova Cultural, 2003.
:: Mulheres apaixonadas | Women in love. D. H. Lawrence [adaptação Ruth de Biasi da tradução portuguesa de Cabral do Nascimento]. Coleção Biblioteca Moderna. Editora Record, 1980.
:: Mulheres apaixonadas | Women in love. D. H. Lawrence [adaptação Ruth de Biasi da tradução portuguesa de Cabral do Nascimento]. Clássicos de Bolso. Rio de Janeiro; Ediouro, 1989.
:: Mulheres apaixonadas | Women in love.D. H. Lawrence. [tradução Renato Aguiar]. Coleção grandes traduções. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004. 
D.H. Lawrence no México, ca. 1923
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence[tradução Anônimo*]. Editora Minerva, 1938; 2ª ed., com apêndice inédito "em defesa de 'lady chatterley'", 1941; 3ª ed., 1946.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence[tradução ?]. Versão Integral Inexpurgada. São Paulo/ sem editora, 1951. (publicação avulsa). 
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence. [tradução ?]Editora Itatiaia, 1958; Coleção Grandes Obras da cultura universal, vol. 21. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence. [tradução Rodrigo Richter; capa Eugênio Hirsh].. {Versão integral inexpurgada, traduzida da terceira versão do autor, a definitiva}. São Paulo: Editora Civilização Brasileira, 1959;  Coleção Biblioteca do Leitor Moderno nº 55, 1966.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence[tradução Rodrigo Richter]. Coleção Os imortais da literatura universal, nº 33. Editora Abril Cultural, 1972. 
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence. [tradução Rodrigo Richter; capa Silvia Maria Mesquita]. Coleção Biblioteca do Espirito Moderno. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974; 1980.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence. [tradução Fernando B. Ximenes]. Coleção Universidade de Bolso/ Edições de bolso. Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 1985.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence. [tradução Fernando B. Ximenes]. Coleção Biblioteca Folha - Clássicos da Literatura Universal, nº 12. São Paulo: PubliFolha; Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence. [tradução Glória Regina Loreto Sampaio]. Editora Graal, 1997.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence[Glória Regina Loreto Sampaio; prefácio João Silvério Trevisan]. Coleção Super Clássicos. São Paulo: Editora Abril, 2004.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover.. D. H. Lawrence[tradução Rodrigo Richter]. Coleção Best Bolso | Record Editora, 2007.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover. D. H. Lawrence. [tradução Sergio Flaksman; introdução Doris Lessing; notas Michael Squires]. Coleção Penguin Clássicos. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2010.
:: O Arco-íris | The Rainbow. D. H. Lawrence. [tradução A.B. Pinheiro de Lemos]. Coleção Mestres da Literatura Contemporânea. Editora Record/Altaya, 1991.
:: O cego e outros contos. D. H. Lawrence. [organização e tradução Mauricio Burigo]. São Paulo: Editora Hedra, 2008. 
:: O cigano e outras histórias. D. H. Lawrence. [tradução Alexandre Pinheiro Torres e Maria Célia Castro]. Rio de Janeiro: Editora Record, 2018.
:: Um amante moderno e outras histórias | A modern lover and other stories. D. H. Lawrence. [tradução Maria Célia Castro]. Editora  Record, 1974.
:: Um amante moderno A modern lover and other stories. D. H. Lawrence.[tradução Maria Célia Castro]. Editora Circulo do Livro, 1985; 1989.


D. H. Lawrence, por Hewitt Henry Rayner (1919)
Gibis
:: O amante de Lady Chatterley. D.H. Laurence; ilustrações Hunt Emerson. [tradução Eduardo Bueno]. Edição especial capa dura. São Paulo: Editora Circulo do Livro, 1986.
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's Lover. D.H. Laurence; ilustrações Hunt Emerson.[tradução ?]. Porto Alegre: Editora L&PM, 1988.



Ensaios e crítica literária
:: O livro luminoso da vida: escritos sobre literatura e arte. D. H. Lawrence. [tradução Mario Alves Coutinho]. Editora Crisálida, 2010. 
:: Estudos sobre a literatura clássica Americana. D. H. Lawrence. [tradução Heloísa Jahn]. Rio de Janeiro: Editora Zahar,  2012. 
:: Caos em poesia | Chaos in poetry. D.H. Lawrence. [tradução Wladimir Garcia]. Florianópolis: Editora Cultura e Barbárie, 2016.


Em coletâneas
:: Livro de cabeceira da mulher. D. H. Lawrence e Outros. [tradução Zelina Lee e Álvaro Cabral]. vol 6. Editora Civilização Brasileira, 1968. 



D. H. Lawrence - Auto-retrato
Poesia
:: Poemas de D. H. Lawrence. [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.
:: Alguma Poesia. D.H. Lawrence. [seleção, tradução e introdução Aíla de Oliveira Gomes]. Edição bilíngue. Editora T. A. Queiroz, 1991.
:: Tudo que vive é sagrado – William Blake, D. H. Lawrence. [seleção, tradução e ensaios de Mário Alves Coutinho]. Edição bilíngue. Belo Horizonte: Crisálida, 2010. 


Antologias (poéticas)
:: Obras-primas da poesia universal. [introdução, seleção e notas bibliográficas de Sérgio Milliet; diversos tradutores]. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1957.
:: Poesia erótica em tradução [organização e tradução José Paulo Paes]. Edição de Bolso.  São Paulo: Companhia das Letras, 2006. {Neruda, Ovídio, Aretino, Rousseau, Goethe, Whitman, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud e D.H. Lawrence e outros}

Em revistas (poesia)
:: O barco da morte, de D. H. Lawrence. [tradução Dora Ferreira da Silva]. Diálogo nº 5, outubro de 1956.
_______
*BOTTMANN, Denise. O amante de lady chatterley, via Gustavo Barroso. in 'não gosto de plágio'. 17 de outubro de 2012. Disponível no link. (acessado em 14.3.2019) 

** Observação: Pedimos ajuda para identificar os tradutores nas obras acima relacionadas onde não constam o nome do ou dos tradutores | e ou ainda caso alguma identificação não estiver nominada de forma correta. Envie um email com as informações para (elfifenske@gmail.com )


"Nossa época é essencialmente trágica, por isso nos recusamos a vê-la tragicamente. O cataclismo já aconteceu e nos encontramos em meio às ruínas, começando a construir novos pequenos habitats, a adquirir novas pequenas esperanças. É trabalho difícil: não temos mais pela frente um caminho aberto para o futuro, mas contornamos ou passamos por cima dos obstáculos. Precisamos viver, não importa quantos tenham sido os céus que desabaram.
Era esta mais ou menos a posição de Constance Chatterley."
- D. H. Lawrence em "O amante de Lady Chatterley".[tradução Sergio Flaksman; introdução Doris Lessing; notas Michael Squires]. Coleção Penguin Clássicos. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2010.


D.H. Lawrence e Frieda Lawrence em Chapala-México, 1923

Seleção de poemas de D.H. Lawrence em edição bilíngue

                       >> Leia outros poemas de D. H. Lawrence em edição bilíngue AQUI!

BEIJA-FLOR
Imagino que nalgum outro mudo
Mundo primevo recuado
Na quietude mais terrível que só zunia e ofegava
Os beija-flores corriam pelas alamedas.

Antes de qualquer coisa ter alma
Quando a vida era um mover de Matéria inanimada em parte
Essa broca tão fina furava em todo esplendor
E sibilando ia passando através dos caules enormes suculentos e sem pressa.

Acho que nem havia flores ainda
Nesse mundo onde o beija-flor cintilava adiante da criação.
Acho que ele furava mesmo era com o bico comprido os veios lentos vegetais.

Provavelmente ele era grande
Como os brejos, pois dizem que até as lagartixas já foram grandes também.
Provavelmente ele era um monstro aterrador contundente.

Felizmente para nós,
A gente o olha pelo lado errado do longo telescópio do tempo.

*

HUMMING-BIRD
I can imagine, in some otherworld
Primeval-dumb, far back
In that most awful stillness, that only gasped and hummed,
Humming-birds raced down the avenues.

Before anything had a soul,
While life was a heave of Matter, half inanimate,
This little bit chipped off in brilliance
And went whizzing through the slow, vast, succulent stems.

I believe there were no flowers, then,
In the world where the humming-bird flashed ahead of creation.
I believe he pierced the slow vegetable veins with his long beak.

Probably he was big
As mosses, and little lizards, they say were once big.
Probably he was a jabbing, terrifying monster.

We look at him through the wrong end of the long telescope of Time,
Luckily for us.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

COBRA
Veio uma cobra beber na minha mina
Num dia quente tão quente que eu estava,
Por causa do calor, só de pijama.

No odor estranho à sombra larga da escura e grande alfarrobeira
Desci pelos degraus com a moringa
E tive de esperar esperar porque ela havia chegado antes de mim na mina.

Por uma greta ela desceu pelo flanco do barranco sombrio
E arrastando a languidez cor de terra da barriga molenga até a beira
da minha mina de pedra
Pousou o papo no seu fundo de pedra
E ali na água que caíra em gotas da bica, numa clareza mínima,
Com a boca aprumada ela se pôs a beber,
Lentos goles sugou além da goela esticada para dentro do corpo comprido e lânguido,
Em silêncio total.

Antes de mim alguém estava na mina
E eu, sendo o segundo, estava à espera.

Ela aí fez como o gado e levantou a cabeça
E me olhou de um modo vago, como faz o gado bebendo,
E brandindo a língua bifurcada para fora da boca meditou um momento
E se curvou e bebeu de novo outro gole,
Sendo como era cor de terra, terrosa e áurea por sair do intestino flamejante da terra
Nesse dia siciliano de julho, com o Etna fumegando.

A voz da minha educação me ditou
Que eu devia matá-la,
Pois na Sicília as cobras pretas só pretas são inofensivas, mas as douradas
são venenosas.

E outras vozes em mim disseram que eu, se fosse homem,
Devia era pegar um pau e esmagá-la e logo acabar com ela.

Mas devo confessar que gostei demais dessa cobra,
Fiquei alegre de a ver como um convidado que veio beber na minha mina em sossego
E que partiu apaziguado e pacífico, sem nem agradecer,
Para o intestino flamejante da terra.

Foi covardia, não ter ousado matá-la?
Foi perversidade, ter querido conversar com ela?
Foi humildade, sentir-me assim tão honrado?
Eu me senti honrado mesmo.

E no entanto aquelas vozes dizendo:
Se não fosse pelo medo você a teria matado.

E de fato eu tive medo, tive um medo danado,
Mas mesmo assim ainda fiquei mais honrado
De ela buscar minha hospitalidade provindo
Da porta escura da terra enigmática.

Ela bebeu o quanto quis
E sonhadora levantou a cabeça, como alguém que bebeu,
E como noite bifurcada no ar brandiu a língua tão preta,
Parecendo lamber os lábios,
E olhou em volta como um deus, sem ver, no ar,
E devagar virou um pouco a cabeça
E devagar, bem devagar, como num sonho tríplice,
Começou a arrastar seu tamanho lento fazendo
Curvas e escalou de regresso o carcomido barranco.

Quando ela enfiou a cabeça naquele horrendo buraco,
Quando lenta se deteve, para acomodar seus ombros de cobra, e entrou
mais para o fundo,
Uma espécie de pavor, uma espécie de protesto por seu retraimento
naquele buraco negro,
Sua descida deliberada às trevas, levando atrás de si o próprio corpo,
Agora que ela estava de costas dominou-me.

Olhei em volta, larguei minha moringa,
Peguei um pau muito sem jeito
E o joguei com estardalhaço na mina.

Acho que o pau não bateu nela,
Mas de repente a parte sua que ficara detrás convulsionou-se em pressa indigna,
Torceu-se como um raio e sumiu
No buraco negro, a greta que era um lábio de terra no rosto do barranco que olhei,
No meio-dia ainda intenso, possuído de certo fascínio.

E logo lamentei o que fiz.
Que ato vil, pensei, vulgar e reles.
Desprezei a mim mesmo como as vozes da minha maldita educação humana.
E pensei no albatroz
E desejei que ela viesse de volta, a minha cobra.

Porque de novo ela me parece que era um rei,
Um rei no exílio, sem coroa e sem reinado,
A ponto de ser coroado outra vez.

E foi assim que esperdicei minha chance com um dos pares reais
Da vida.
E é assim que tenho alguma coisa a pagar,
Essa baixeza.

*

SNAKE
A snake came to my water-trough
On a hot, hot day, and I in pyjamas for the heat,
To drink there.

In the deep, strange-scented shade of the great dark carob-tree
I came down the steps with my pitcher
And must wait, must stand and wait, for there he was at the trough before me.

He reached down from a fissure in the earth-wall in the gloom
And trailed his yellow-brown slackness soft-bellied down, over the edge
of the stone trough
And rested his throat upon the stone bottom,
And where the water had dripped from the tap, in a small clearness,
He sipped with his straight mouth,
Softly drank through his straight gums, into his slack long body,
Silently.

Someone was before me at my water-trough,
And I, like a second-comer, waiting.

He lifted his head from his drinking, as cattle do,
And looked at me vaguely, as drinking cattle do,
And flickered his two-forked tongue from his lips, and mused a moment,
And stooped and drank a little more,
Being earth-brown, earth-golden from the burning bowels of the earth
On the day of Sicilian July, with Etna smoking.

The voice of my education said to me
He must be killed,
For in Sicily the black, black snakes are innocent, the gold are venomous.

And voices in me said, if you were a man
You would take a stick and break him now, and finish him off.

But must I confess how I liked him,
How glad I was he had come like a guest in quiet, to drink at my water-trough
And depart peaceful, pacified, and thankless,
Into the burning bowels of this earth?

Was it cowardice, that I dared not kill him?
Was it perversity, that I longed to talk to him?
Was it humility, to feel so honoured?
I felt so honoured.

And yet those voices:
If you were not afraid, you would kill him!

And truly I was afraid, I was most afraid,
But even so, honoured still more
That he should seek my hospitality
From out the dark door of the secret earth.

He drank enough
And lifted his head, dreamily, as one who has drunken,
And flickered his tongue like a forked night on the air, so black,
Seeming to lick his lips,
And looked around like a god, unseeing, into the air,
And slowly turned his head,
And slowly, very slowly, as if thrice adream,
Proceeded to draw his slow length curving round
And climb again the broken bank of my wall-face.

And as he put his head into that dreadful hole,
And as he slowly drew up, snake-easing his shoulders, and entered farther,
A sort of horror, a sort of protest against his withdrawing into that horrid black hole,
Deliberately going into the blackness, and slowly drawing himself after,
Overcame me now his back was turned.

I looked round, I put down my pitcher,
I picked up a clumsy log
And threw it at the water-trough with a clatter.

I think it did not hit him,
But suddenly that part of him that was left behind convulsed in undignified haste,
Writhed like lightning, and was gone
Into the black hole, the earth-lipped fissure in the wall-front,
At which, in the intense still noon, I stared with fascination.

And immediately I regretted it.
I thought how paltry, how vulgar, what a mean act!
I despised myself and the voices of my accursed human education.

And I thought of the albatross,
And I wished he would come back, my snake.

For he seemed to me again like a king,
Like a king in exile, uncrowned in the underworld,
Now due to be crowned again.

And so, I missed my chance with one of the lords
Of life.
And I have something to expiate;
A pettiness.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

ELE COM O PRÓPRIO RABO NA BOCA
Assim que eles quebraram a casca do Ovo do Mundo em vários pontos, o cuco, a vaca e o cafezeiro pularam para fora e seguiram de imediatas direções diferentes. Não diferentes direções de espaço e tempo, mas direções diferentes na criação: dentro da quarta dimensão. O cuco encucou no seu rumo, a vaca tomou destino vacum e o cafezeiro se pôs a cafezar. Três caminhos muito distintos através da quarta dimensão.

A vaca era muda, o cuco completamente calado.
Cada qual foi por seu rumo, como os seres criados,
Até que um dia se encontraram no verde zoo sagrado.

O cuco cacarejou – e pela vaca um arrulho foi dado.
Mal se viram de perto, os dois, alvoroçados,
Voaram com estrépito num porfioso bailado.

Deixaram a criação alarmada; e terminado
Tudo, cada qual disse pro outro: até te ter encontrado
Eu nem sabia a quantas coisas estava habilitado!

Cuco!
Mu!
Cuco!

E essa é, creio, a verdadeira história da evolução.
Os gregos fizeram do equilíbrio seu alvo. O equilíbrio a rigor não é um alvo em direção ao qual se mover. No entanto é alguma coisa a ser atingida. Você se move na quarta dimensão, não em jardas e milhas, como a serpente eterna.

*

HIM WITH HIS TAIL IN HIS MOUTH
When the cuckoo, the cow, and the coffee-plant chipped the Mundane Egg, at various points, they stepped out, and immediately set off in different directions. Not different directions of space and time, but different directions in creation: within the fourth dimension. The cuckoo went cuckoo-wards, the cow went cow-wise, and the coffee-plant started coffing. Three very distinct roads across the fourth dimension.

The cow was dumb, and the cuckoo too.
They went their ways, as creatures do,
Till they chanced to meet, in the Lord's green Zoo.

The bird gave a cluck, the cow gave a coo,
At the sight of each other the pair of them flew
Into tantrums, and started their hullabaloo.

They startled creation; and when they were through
Each said to the other: till I came across you
I wasn't aware of the things I could do!

Cuckoo!
Moo!
Cuckoo!

And this, I hold, is the true history of evolution.
The Greeks made equilibrium their goal. Equilibrium is hardly a goal to travel towards. Yet it's something to attain. You travel in the fourth dimension, not in yards and miles, like the eternal serpent.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

NULLUS
Sei que não sou nada.
Lá a vida se foi, abaixo da minha baixa linha-d'água.

Estou sabendo que não sinto coisa nenhuma, nem de manhã..
A manhã raia com um fulgor repleto de azuis, e logo digo: Que beleza!
Mas é mentira, não sinto essa beleza, foi um dito mental, um mero clichê.

Toda minha consciência é um clichê
e eu sou nulo;
existo como organismo
e nullus.

Mas sobre isso nada posso fazer,
senão o admitir, e deixar com a lua.

Diz-se que há pausas criadoras
pausas tão boas quanto a morte, vazias e mortas como ela própria.
E que a mudança evolucionária se faz nessas pausas terríveis.
Talvez seja assim.
A tragédia acabou, deixou de ser trágica, a pausa final baixa na gente.
Pausa, irmãos, pausa!

*

NULLUS
I know I am nothing.
Life has gone away, below my low-water mark.

I am aware I feel nothing, even at dawn.
The dawn comes up with a glitter and a blueness, and 1 say: How lovely!
But I am a liar, 1 feel no loveliness, it is a mental remark, a cliché.

My whole consciousness is cliché
and I am null;
I exist as an organism
and a nullus.

But 1 can do nothing about it
except admit it and leave it to the moon.

There are said to be creative pauses,
pauses that are as good as death, empty and dead as death itself.
And in these awful pauses the evolutionary change takes place.
Perhaps it is so.
The tragedy is over, it has ceased to be tragic, the last pause is upon us.
Pause, brethren, pause!
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

A NOVA UNIVERSIDADE DE NOTTINGHAM
Em Nottingham, essa triste cidade
onde nos bancos escolares tomei assento,
já erigiram uma nova universidade
para ministrar mais conhecimentos.

Construíram-na como um bolo patético
graças ao nobre espólio legado
e amealhado com astuto tino farmacêutico
pelo Barão Jesse Boot, homem honrado.

Jamais pensei, sendo um menino então
que largava seu modesto centavo
no balcão da farmácia do barão,
que Jesse, movimentando tantos

milhões de idênticos centavos assim,
acabaria fazendo um monte asséptico
que aumentaria e desabrocharia por fim
em estilo bolo de noiva eclético

numa nova universidade
onde diversos sabichões  ministrariam
doses de boticária rentabilidade
em termos de comum maestria.

Jamais pensei que outros meninos seriam
doutores decorrentes da soma
e que em Nottingham mais tarde as sumidades diriam:
– Foi graças ao barão que consegui meu diploma.

Desse modo aprendi, se bem já o soubesse ver,
que a cultura tem suas raízes no chão
do fofo esterco monetário e o saber
é o último broto que ainda emite o barão.

*

NOTTINGHAM'S NEW UNIVERSITY
In Nottingham, that dismal town
where I went to school and college,
they've built a new university
for a new dispensation of knowledge.

Built it most grand and cakeily
out of the noble loot
derived from shrewd cash-chemistry
by good Sir Jesse Boot.

Little I thought, when I was a lad
and turned my modest penny
over on Boot's Cash Chemist's counter,
that Jesse, by turning many

millions of similar honest pence
over, would make a pile
that would rise at last and blossom out
in grand and cakey style

into a university
where smart men would dispense
doses of smart cash-chemistry
in language of common-sense!

That future Nottingham lads would be
cash-chemically B.Sc.
that Nottingham lights would rise and say:
– By Boots I am M.A.

From this I learn, though I knew it before
that culture has her roots
in the deep dung of cash, and lore
is a last offshoot of Boots.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

NÃOS
Lute, menino, sua luta de nada,
vá à luta e seja homem.
Não seja um bom menino, um bom moço,
sendo tão bom quanto você pode ser
e concordando com todas as matreiras, manhosas
verdades que os fingidos encenam
para se protegerem e à sua
ávida, glutona, gulosa
covardia de escolados grosseiros.

Não corresponda à queridinha que acaba
por custar sua macheza e te fazendo pagar.
Nem à velha mamãezona que orgulhosamente se gaba
de que você vai ser um dos que vão chegar.

Não conquiste opiniões valiosas, abalizadas
opiniões valendo obrigações do Tesouro,
de homens de todo tipo; não fique devendo nada
ao rebanho engordado para o matadouro.

Não queira ter meninos bons, bonitinhos,
os quais você terá de educar
para ganhar a vida; nem meninas gostosas, uns docinhos,
que vão achar muito difícil trepar.

Também não queira uma casinha, com os custos
que você terá de aguentar
ganhando a vida enquanto a vida se perde, e o susto
da morte um dia vem te agarrar.

Não se deixe sugar pelo sup-superior,
não engula a isca da cultura a chamar,
não beba, não vire um cervejado senhor,
aprenda, isto sim, a discriminar.

Mantenha-se inteiro e lute atento,
empurrando daqui ou empurrando de lá,
e tendo à noite o consolador sentimento
de que um pouco de ar você fez entrar.

No chiqueiro do dinheiro esse ar renovado
você pôs pelo buraco que na prisão pôde abrir,
fazendo o pouco que podia, empenhado
em que o Cristo ressuscite como forma de agir.

*

DON'TS
Fight your little fight, my boy,
fight and be a man.
Don't be a good little, good little boy
being as good as you can
and agreeing with all the mealy-mouthed, mealy-mouthed
truths that the sly trot out
to protect themselves and their greedy-mouthed, greedy-mouthed
cowardice, every old lout.

Don't live up to the dear little girl who costs
you your manhood, and makes you pay.
Nor the dear old mater who so proudly boasts
that you'll make your way.

Don't earn golden opinions, opinions golden,
or at least worth Treasury notes,
from all sorts of men; don't be beholden
to the herd inside the pen.

Don't long to have dear little, dear little boys
whom you'll have to educate
to earn their living; nor yet girls, sweet joys
who will find it so hard to mate.

Nor a dear little home, with its cost, its cost
that you have to pay,
earning your living while your life is lost
and dull death comes in a day.

Don't be sucked in by the su-superior,
don't swallow the culture bait,
don't drink, don't drink and get beerier and beerier,
do learn to discriminate.

Do hold yourself together, and fight
with a hit-hit here and a hit-hit there,
and a comfortable feeling at night
that you've let in a little air.

A little fresh air in the money sty,
knocked a little hole in the holy prison,
done your own little bit, made your own little try
that the risen Christ should be risen.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

AS ÁGUAS SECRETAS
Tudo que se perdeu é achado
tudo que foi ferido é curado,
a chave da vida nos corpos da gente
abre as fontes da paz novamente.

As fontes da paz, as fontes da paz
emanam mansas num aumento capaz
de borbulhar porém sob a parede pesada
da casa da vida que mantem a gente fechada.

Borbulham pois sob a parede em questão
do que antes foi casa e agora é bruta prisão,
sem que nunca um de nós tome consciência
de que as águas subiram na maior veemência.

Nenhum de nós sabe, jamais leva em conta
que a nascente da paz jorra e desponta
em segredo por baixo das paredes imundas
da casa-cárcere que a todos circunda.

E jamais saberemos que é essa a ordem
até que as secretas águas transbordem
abalando os tijolos e aquela sólida massa
das paredes nas quais a nossa vida se passa.

Até que o abalo das paredes desague
em fendas, brechas, a casa inteira naufrague
sobre nós e o estrondo de libertação que ela faz
seja morte para todos, no aguaceiro da paz.

*

THE SECRET WATERS

What was lost is found
what was wounded is sound,
The key of life on the bodies of men
unlocks the fountains of peace again.

The fountains of peace, the fountains of peace
well softly up for a new increase,
but they bubble under the heavy wall
of this house of life that encloses us all.

They bubble under the heavy wall
that was once a house, and is now a prison,
and never a one among us all
knows that the waters have risen.

None of us knows, O none of us knows
the welling of peace when it rises and flows
in secret under the sickening wall
of the prison house that encloses us all.

And we shall not know, we shall not know
till the secret waters overflow
and loosen the brick and the hard cement
of the walls within which our lives are spent.

Till the walls begin to loosen and crack,
to gape, and our house is going to wrack
and ruin above us, and the crash of release
is death to us all, in the marshes of peace.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

PAZ E GUERRA
Eles sempre estão em guerra quando falam de seu amor pela paz.
O amor berrante da paz me faz tremer mais que um grito de batalha qualquer.
Porque ter de amar a paz, se a guerra é tão obviamente um horror?

Com tanta propaganda de paz a guerra até parece iminente.
No fundo isso é uma forma de guerra, de auto-afirmação, de querer ser
sensato pelos outros.
Que cada qual seja sensato por si. Além do mais
Só em raras ocasiões, como casar ou morrer, é que alguém pode realmente ser sensato.
É de mau gosto ser o tempo todo sensato, como estar presente
a um funeral que não termina.
Para o uso diário, dêem-me pessoas excêntricas, sem muito objetivo na vida,
e aí então nós não teremos mais guerra, não será mais preciso falar de paz.

*

PEACE AND WAR
People always make war when they say they love peace.
The loud love of peace makes one quiver more than any battlecry.
Why should one love peace? It is so obviusly vile to make war.

Loud peace propaganda makes war seem imminent.
It is a form of war, even, self-assertion and being wise for other people.
Let people be wise for themselves. And anyhow
nobody can be wise except on rare occasions, like getting married or dying.
It's bad taste to be wise all the time, like being at a perpetual funeral.
For everyday use, give me somebody whimsical, with not too much purpose in life,
then we shan't have war, and we needn't talk about peace.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

DEMOCRACIA
Sou democrata na medida em que amo o sol livre nos homens
e aristocrata na medida em que detesto as pessoas tacanhas e possessivas.

Gosto do sol em qualquer homem
quando o vejo bailar nas sobrancelhas
claro e sem medo, ainda que mínimo.

Mas quando vejo homens cinzentos de êxito
horrorosos cadavéricos e totalmente sem sol
como escravos bem-sucedidos obesos rebolando em passos mecânicos,
sou então até mais que radical, tenho ganas de usar uma guilhotina.

E quando vejo os operários esquálidos
pobres e com jeito de inseto, saltitando e
vivendo como piolhos, quase sem grana e nunca
erguendo os olhos,
chega a querer, como Tibério, que a multidão tenha uma só cabeça
para que eu possa decepá-la.

Acho que os homens realmente sem sol
nem deveriam, a rigor, existir.

*

DEMOCRACY
I am a democrat in so far as I love the free sun in men
and an aristocrat in so far as I detest narrow-gutted, possessive persons.

I love the sun in any man
when I see it between his brows
clear, and fearless, even if tiny.

But when I see these grey successful men
so hideous and corpse-like, utterly sunless,
like gross successful slaves mechanically waddling,
then I am more than radical, I want to work a guillotine.

And when I see working men
pale and mean and insect-like, scuttling along
and living like lice, on poor money
and never looking up,
then I wish, like Tiberius, the multitude had only one head
so that I could lop it off.

I feel that when people have gone utterly sunless
they shouldn’t exist.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

GANHOS
O fruto do trabalho é a grana.
O fruto da grana é querer mais grana.
O fruto de querer mais grana é a competição viciosa.
O fruto da competição viciosa —  é o mundo no qual vivemos.

O ciclo trabalho-grana-querença é o círculo mais vicioso
que sempre torna os homens mais viciados.

Ganhar um salário é uma ocupação de presídio
e o assalariado é uma espécie de presidiário.
Mas quem decida na prisão ganha vencimento,
é um carcereiro em vez de um prisioneiro.

Viver da própria renda é passear se mostrando fora das grades,
com pavor de ter de entrar.  E como a prisão-trabalho cobre os cantos quase todos
da terra viva, só te resta ir e voltar numa estreita faixa,
mais ou menos como um prisioneiro que faz sua ginástica.

A isso se chama liberdade universal.

*


WAGES
The wages of work is cash.
The wages of cash is want more cash.
The wages of want more cash is vicious competition.
The wages of vicious competition is — the world we live in.

The work-cash-want circle is the viciousest circle
that ever turned men into fiends.

Earning a wage is a prison occupation
and a wage-earner is a sort of gaol-bird.
Earning a salary is a prison overseer’s job,
a gaoler instead of a gaol-bird.

Living on your income is strolling grandly outside the prison
in terror lest you have to go in. And since the work-prison covers
almost every scrap of the living earth, you stroll up and down
on a narrow beat, about the same as a prisoner taking his exercise.

This is called universal freedom.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

O MAR, O MAR
O mar dissolve tanta coisa
e a lua leva embora tão mais
do que sabemos –

Assim que a lua baixa
e o mar se apossa de nós
as cidades se dissolvem como sal-gema
o açúcar funde fora da vida
o ferro some como velha mancha de sangue
o ouro se transmuda em sombra verde
o dinheiro sequer deixa um sedimento:
só o coração
cintila em seu triunfo salino
sobre tudo o que soube e agora foi-se
na salinidade do nada.

*

THE SEA, THE SEA
The sea dissolves so much
and the moon makes away with so much
more than we know –

Once the moon comes down
and the sea gets hold of us
cities dissolve like rock-salt
and the sugar melts out of life
iron washes away like an old blood-stain
gold goes out into a green shadow
money makes even no sediment
and only the heart
glitters in salty triumph
over all it has known, that has gone now
into salty nothingness.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

TERRA INCÓGNITA
Dentro de nós há vastas esferas de consciência que nunca foram sonhadas
vastas seqüências de experiências, como o arpejo de harpas invisíveis,
das quais nada sabemos.
Quando o homem escapa do emaranhado de arame farpado
de suas próprias idéias e engenhos mecânicos
há um mundo maravilhoso e rico de contato e beleza pura e fluídica
e destemida percepção face a face da vida nua de agora
e eu e você e outras mulheres e homens
e vinhas vampiros aparições luares verdes
e braços corados cor de laranja cortando o limbo
do ar ignoto e olhos tão meigos
mais meigos do que o espaço que permeia as estrelas
e tudo e nada e ser não ser
em palpitações alternadas,
quando escapamos finalmente do cercado de arame
farpado do Conhece a Ti Mesmo, sabendo que saber não podemos,
só podemos tocar admirar ponderar empreender nosso esforço
e pender com fastio num prazer final refinado
tal como a fúcsia, que deixa sua gota de púrpura
negligente pender depois de tanto esgalhar-se
e morosa montar o seu prodígio de uma árvore anã.

*

TERRA INCOGNITA
There are vast realms of consciousness still undreamed of
vast ranges of experience, like the humming of unseen harps,
we know nothing of, within us.
Oh when man has escaped from the barbed-wire entanglement
of his own ideas and his own mechanical devices
there is a marvellous rich world of contact and sheer fluid beauty
and fearless face-to-face awareness of now-naked life
and me, and you, and other men and women
and grapes, and ghouls, and ghosts and green moonlight
and ruddy-orange limbs stirring the limbo
of the unknown air, and eyes so soft
softer than the space between the stars,
and all things, and nothing, and being and not-being
alternately palpitant,
when at last we escape the barbed-wire enclosure
of Know-Thyself, knowing we can never know,
we can but touch, and wonder, and ponder, and make our effort
and dangle in a last fastidious fine delight
as the fuchsia does, dangling her reckless drop
of purple after so much putting forth
and slow mounting marvel of a little tree.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

PARA AS MULHERES, NO QUE ME TOCA
Os sentimentos que eu não tenho, não tenho.
Os sentimentos que não tenho, não direi que os tenha.
Nenhum de nós tem os sentimentos que seria de seu agrado que nós dois tivéssemos.
As pessoas não têm os sentimentos que têm a obrigação de ter.
Quando elas dizem que estão com sentimentos, não estão com nada.
Tenha certeza disso.

Se você quiser assim que algum de nós sinta coisas,
é melhor abandonar essa ideia e não pensar nunca mais em sentimentos.

*

TO WOMEN, AS FAR AS I’M CONCERNED
The feelings I don’t have I don’t have.
The feelings I don’t have, I won’t say I have.
The feelings you say you have, you don’t have.
The feelings you would like us both to have, we neither of us have.
The feelings people ought to have, they never have.
If people say they’ve got feelings, you may be pretty sure they haven’t got them.

So if you want either of us to feel anything at all
you’d better abandon all idea of feelings altogether.
 - D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

ESTIQUE O BRAÇO
Pois então estique o braço
sobre esse abismo
na escuridão.

Eu estou descendo
para os níveis onde você sempre esteve.
Eu estou voltando.

Mas ainda entre nós
jaz um abismo
que agora está mais estreito,
talvez se possa transpor.

Então estique, estique o braço
e me dê a mão.
Volto para você
homens calam no escuro
mas são homens
e mais querido para mim
do que tudo o mais
mulher ou triunfo, sucesso ou  dinheiro
homens no escuro
calados
mas masculinos como o sol,
esperando o sol nascer em você.

Então estique, estique o braço
e que a gente se abrace.

Eu voltei para você porque jamais te deixei.
Agora  pelo meio do círculo
sinto que estou chegando mais perto.

Rumos opostos ao redor do círculo
são um rumo certo de encontro.

Está muito escuro,
é um nadir.
Você está perto?
Já veio vindo pela curva, em seu rumo
que te traz a mim?

Pois então estique o braço até cá.
Você está perto?

Eu nunca te deixei.
Eu fui pelo rumo oposto ao redor do círculo
porque era o rumo mais seguro de te encontrar finalmente.

Você já fez a viagem?

Já viajou pelo seu arco em descida?
Já está subindo para mim pela curva?

Porque eu atravessei a curva que sobe
e já estou descendo.
Você está perto? Já viajou por toda sua porção?
Então estique, estique, não diga uma só palavra,
silêncio, estique o braço, e nos toquemos.

Está muito escuro, ó semelhantes mais queridos que o sangue
E mais queridamente amados que o dinheiro.
Ó homens na escuridão calados
Ó homens mais amados para mim que o sucesso
Homens mais queridos para mim do que a paz
Mais amados que o amor
E o triunfo.

Estique, estique o braço nesse escuro!

*

REACH OVER
Reach over, then, reach over
across the chasm
in the dark.

I am coming down
down to the levels where you have stayed.
I am coming back.

But between us still
lies a chasm
though it narrows now,
perhaps one could step across.

But reach over, reach over
and give me a hand.
I come back to you
mem dumb in the dusk
but men,
and dearer to me
than everything else
than woman or triumph, money or success
men in the dusk
dumb
but masculine as the sun,
waiting for the sun to rise on you.

Reach over, then, reach over
And let us embrace.

I have back to you, for I never left you.
Half-way round the circle now
I fell I’m coming near.

Opposite ways round the circle
Is a sure way to meet.

It is very dark
It is a nadir.
Are you near?
Have you come round the curve, your way
Towards me?

Reach out, reach out towards me.
Are you near?

I never left you.
I went the opposite way round the circle,
Because it was the surest way of meeting you at last.

Have you travelled?

Have you travelled your downward arc?
Are you curving up to me?

For I have traversed my upward curve
And am coming down.
Are you near? have you travelled your portion?
Reach out, reach out, say not a word,
Silent, reach out, let us touch.

It is very dark, oh kindred dearer than blood,
And dearly dearer than money.
Oh men, dumb in the darkness,
Oh men, dearer than success to me
Men, dearer to me than peace
Dearer than love
Dearer than triumph.

Reach out, reach out in the dark.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

CONFIANÇA
Ó temos de confiar
um de novo no outro
em pontos básicos.

Não a estreita, mesquinha
confiança de barganha
que diz: sou teu
se você for minha.

Uma confiança maior
uma confiança do sol
que não se perturba em nada
com a ferrugem, as traças,
e que um no outro nós vemos brilhando em cada.

Ó não me confie
não me sobrecarregue
com sua vida e questões; não me envolva
em suas preocupações.

Acho que é melhor confiar
no sol em mim
que brilha exatamente com tanto
brilho quanto você vê
em mim, e não mais.

E se ele esquenta
o cerne célere do seu coração,
confie pois nele, que forma
uma fidelidade a mais.

E seja, ó seja
um sol para mim,
não uma personalidade
enjoada, insistente,

mas um sol que cintila
e escurece, mas logo
cintila de novo e entrança
com o brilho do sol em mim

até ficarmos os dois
mais gloriosos
e ensolarados.

*

TRUST
Oh we’ve got to trust
one another again
in some essentials.

Not the narrow little
bargaining trust
that says: I’m for you
if you’ll be for me.

But a bigger trust,
a trust of the sun
that does not bother
about moth and rust,
and we see it shining
in one another.

Oh don’t you trust me,
don’t burden me
with your life and affairs; don’t thrust me
into your cares.

But I think you may trust
the sun in me
that glows with just
as much glow as you see
in me, and no more.

But if it warms
your heart’s quick core
why then trust it, it forms
one faithfulness more.

And be, oh be
a sun to me,
not a weary, insistent
personality

but a sun that shines
and goes dark, but shines
again and entwines
with the sunshine in me

till we both of us
are more glorious
and more sunny.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

RELATIVIDADE
Gosto das teorias da relatividade e dos quanta
porque não as compreendo
e elas me fazem sentir como se o espaço mudasse
de lugar como um cisne que não pode
acomodar-se, estar imóvel, ser medido;
e também como se o átomo fosse uma coisa impulsiva
mudando constantemente de idéia.

*

RELATIVITY
I like relativity and quantum theories
because I don’t understand them
and they make me feel as if space shifted
about like a swan that can’t settle,
refusing to sit still and be measured;
and as if the atom were an impulsive thing
always changing its mind.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

O MOSQUITO SABE
O mosquito, pequeno como é, sabe
muito bem que é de rapina.
Mas afinal
ele só tira o que lhe enche a barriga,
não bota o nosso sangue no banco.

*

THE MOSQUITO KNOWS
The mosquito knows full well, small as he is
he’s a beast of prey.
But after all
he only takes his bellyful,
he doesn’t put my blood in the bank.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngüe do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

VIAJAR JÁ ERA
Já viajei e olhei o mundo e o amei.
Agora eu não quero olhar o mundo mais não,
não parece ter nada lá.
Em não olhar e não ver
surge uma nova força
e indubitáveis deuses novos partilham sua vida conosco, quando nós paramos de ver.

*

TRAVEL IS OVER
I have travelled, and looked at the world, and loved it.
Now I don't want to look at the world anymore,
there seems nothing there.
In not-looking, and in not-seeing
comes a new strength
and undeniable new gods share their life with us, when we cease to see.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

BEI HENNEF
Murmúrio minúsculo do rio ao crepúsculo,
Lânguido semblante assombrado do céu esbatido,
             Ventura quase.

Tudo fechado e já caído no sono,
Todos os tormentos e ansiedades e dores
             Sumidos neste crepúsculo.

Só agora o crepúsculo e a língua mansa do rio
             Que nunca vai parar de existir.

Sei por fim que aqui está o meu amor por você;
Todo ele eu percebo, inteiro como o crepúsculo,
Grande, tão grande, que antes eu nem podia vê-lo
Devido às luzes menores, tremores, interrupções,
              Tormentos, ansiedades e dores.

              Você é o chamado, eu a resposta.
              Você é o desejo, eu a satisfação.
              Você é a noite, eu sou o dia.
                          Que mais? Já está perfeito.
                          Está perfeitamente completo.
                          Você e eu,
                          Que mais — ?

O estranho é como, apesar disso, nós sofremos!

*

BEI HENNEF
The little river twittering in the twilight,
The wan, wondering look of the pale sky,
            This is almost bliss.

And everything shut up and gone to sleep,
All the troubles and anxieties and pain
            Gone under the twilight.

Only the twilight now, and the soft “Sh!” of the river
            That will last for ever.

And at last I know my love for you is here;
I can see it all, it is whole like the twilight,
It is large, so large, I could not see it before,
Because of the little lights and flickers and interruptions,
             Troubles, anxieties, and pains.

             You are the call and I am the answer,
             You are the wish, and I the fulfilment,
             You are the night, and I the day.
                         What else? it is perfect enough.
                         It is perfectly complete,
                         You and I,
                        What more — — ?

Strange, how we suffer in spite of this!
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

CANÇÃO DE UM HOMEM QUE NÃO É AMADO
O espaço do mundo é imenso, à minha frente e ao redor de mim;
Dá-me pavor, se viro às pressas, de o sentir me cercando assim;
Como um homem num barco em água clara e profunda, me confundo e amedronto com esse espaço sem fim.

Vejo-me à parte no universo e me espanto quanto ao papel
Que eu possa ter, com minhas mãos se agitando sob o céu
Com nuvens de poeira que flutuam ao léu.

Se me seguro, sinto um possante vento soprando
A me levar como um mosquito no escuro, nem sequer desconfiando
Para onde ou porque ou mesmo como ele vai me arrastando.

Fora de mim tudo é tão grande, tão infinitamente
Pequeno sou, que não importa que continuamente
Eu trilhe meu caminho, para perder-me imediatamente.

Como acreditar que eu tenha condição de fazer
Alguma coisa nessa imensidão, se sou um ser
Pequeno demais para contar no vento que me impele a correr?.

*

SONG OF A MAN WHO IS NOT LOVED
The space of the world is immense, before me and around me;
If I turn quickly, I am terrified, feeling space surround me;
Like a man in a boat on very clear, deep water, space frightens and confounds me.

I see myself isolated in the universe, and wonder
What effect I can have. My hands wave under
The heavens like specks of dust that are floating asunder.

I hold myself up, and feel a big wind blowing
Me like a gadfly into the dusk, without my knowing
Whither or why or even how I am going.

So much there is outside me, so infinitely
Small am I, what matter if minutely
I beat my way, to be lost immediately?

How shall I flatter myself that I can do
Anything in such immensity? I am too
Little to count in the wind that drifts me through.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

CANÇÃO DE UM HOMEM QUE SE DEU BEM
Não eu, não eu, mas o vento que sopra através de mim!
Um vento bom está soprando a nova direção do Tempo.
Se eu pelo menos deixar que ele me pegue e carregue,
ah se ele me carregar pelo menos!
Se eu pelo menos for sensível, sutil e delicado, se for uma doação alada!
Se eu sou sensível, sutil, oh, delicado, um presente alado!
Se, melhor que tudo, eu pelo menos me render e for tragado
Por esse vento que é tão bom e faz seu curso através do caos do mundo
Como um cinzel preciso e raro, o gume de uma cunha inserida;
Se eu for cortante e resistente como a extremidade pura da cunha
Movida por invisíveis golpes,
A pedra há de fender, havemos de chegar ao assombro, vamos descobrir as Hespérides.

Pelo assombro que brota em minha alma,
Bem que eu daria uma boa nascente, um olho-d´água adequado,
Não sufocaria murmúrios nem estragaria expressões.

Mas que batidas são essas?
Que batidas na porta à noite são essas?
É alguém a fim de nos fazer mal.

Não, são apenas os três anjos estranhos.
Que entrem pois, que entrem.

*


SONG OF A MAN WHO HAS COME THROUGH
Not I, not I, but the wind that blows through me!
A fine wind is blowing the new direction of Time.
If only I let it bear me, carry me, if only it carry me!
If only I am sensitive, subtle, oh, delicate, a winged gift!
If only, most lovely of all, I yield myself and am borrowed
By the fine, fine wind that takes its course through the chaos of the world
Like a fine, an exquisite chisel, a wedge-blade inserted;
If only I am keen and hard like the sheer tip of a wedge
Driven by invisible blows,
The rock will split, we shall come at the wonder, we shall find the Hesperides.

Oh, for the wonder that bubbles into my soul,
I would be a good fountain, a good well-head,
Would blur no whisper, spoil no expression.

What is the knocking?
What is the knocking at the door in the night?
It is somebody wants to do us harm.

No, no, it is the three strange angels.
Admit them, admit them
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

NA CORDA BAMBA
Muitos anos eu tenho de queimar ainda, detido
Como uma chama de vela neste corpo; mas viçosa
Sombra se inclina em mim, presença de azul contido
No meu ardor de viver, o oculto coração da rosa.

Pelos dias assim, enquanto queimo ao combustível da vida,
Pouco importa o que lambo em minhas labaredas a mesmo,
Já que vejo que o centro é a sombra inviolada,
A escuridão que por mim sonha meu sonho, sempre o mesmo.

*

AT A LOOSE END
Many years have I still to burn, detained
Like a candle-flame on this body; but I enclose
Blue shadow within me, a presence which lives contained
In my flame of living, the invisible heart of the rose.

So through these days, while I burn on the fuel of life,
What matter the stuff I lick up in my daily flame;
Seeing the core is a shadow inviolate,
A darkness that dreams my dream for me, ever the same.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

MAIS PROFUNDO QUE O AMOR
O amor existe, e é coisa funda,
mas há coisas mais profundas que o amor.

Antes de tudo, há o homem só.
Que nasce sozinho, que morre sozinho
e que sozinho vai vivendo, no seu ente mais fundo.

Como as flores, o amor é vida que cresce.
Mas por baixo estão as rochas profundas, a rocha viva que leva a vida sozinha,
e ainda mais por baixo está o fogo ignoto, ignoto e pesado, pesado e só.

O amor é coisa dual.
Mas o homem, por baixo de qualquer dualismo, está sozinho.

E por baixo das grandes emoções do amor turbulentas, da violenta parte verde de fora,
jaz a rocha viva do orgulho de uma singular criatura,
o orgulho cândido escuro.
E ainda mais por baixo do leito da rocha firme do orgulho
jaz o fogo ponderoso da vida sem atavios
com sua estranha consciência primordial de justiça
e sua consciência primordial de conexão
conexão com o fogo-vida mais fundo, mais terrível,
e a velha, velha e final verdade-vida.

O amor é dual, e é amorável
como a vida que viceja na terra,
mas por baixo de todas as raízes do amor jaz o leito de rocha do orgulho
nu, subterrâneo,
e por baixo deste leito do orgulho acha-se o fogo primordial do meio
que se mantém conectado ao para sempre incognoscível fogo mais remoto
de todas as coisas
e que se embala com um senso de conexão, religião
treme com um senso de verdade, consciência primordial
e cala com senso de justiça, o imperativo primordial de fogo.

Tudo isso é mais profundo
mais profundo que o amor.

*

DEEPER THAN LOVE
There is love, and it is a deep thing
but there are deeper things than love.

First and last, man is alone.
He is born alone, and alone he dies
and alone he is while he lives, in his deepest self.

Love, like the flowers, is life, growing.
But underneath are the deep rocks, the living rock that lives alone
and deeper still the unknown fire, unknown and heavy, heavy and alone.

Love is a thing of twoness.
But underneath any twoness, man is alone.

And underneath the great turbulent emotions of love, the violent herbage,
lies the living rock of a single creature's pride,
the dark, naif pride.
And deeper even than the bedrock of pride
lies the ponderous fire of naked life
with its strange primordial consciousness of justice
and its primordial consciousness of connection,
connection with still deeper, still more terrible life-fire
and the old, old final life-truth.

Love is of twoness, and is lovely
like the living life on the earth
but below all roots of love lies the bedrock of naked pride, subterranean,
and deeper than the bedrock of pride is the primordial fire of the middle
which rests in connection with the further forever unknowable fire of all things
and which rocks with a sense of connection, religion
and trembles with a sense of truth, primordial consciousness
and is silent with a sense of justice, the fiery primordial imperative.

All this is deeper than love
deeper than love.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

SOMOS TRANSMISSORES
Somos, ao viver, transmissores de vida.
Quando deixamos de transmitir vida, ela a vida também deixa de fluir em nós.

Parte do mistério do sexo, isto é fluxo à frente.
Gente assexuada não transmite nada.

Mas se chegamos, trabalhando, a transmitir vida ao trabalho,
a vida, ainda mais vida, se lança em nós compensando, se mostrando disposta a tudo
e pelos dias dia que vêm nos encrespamos de vida.

Mesmo que seja uma mulher fazendo um simples pudim, ou um homem
fazendo um tamborete,
se a vida entrar nesse pudim ele é bom
bom é o tamborete,
contente fica a mulher, com a vida nova que encrespa,
contente fica esse homem.

Dê que também lhe será dado
é ainda a verdade da vida.
Mas não é assim tão fácil. Dar vida
não quer dizer passá-la adiante a algum bobo indigno, nem deixar que os
mortos-vivos te suguem.
Quer dizer acender a qualidade da vida onde ela não se encontrava,
mesmo que seja apenas na brancura de um lenço lavado.

*

WE ARE TRANSMITTERS
As we live, we are transmitters of life.
And when we fail to transmit life, life fails to flow through us.

That is part of the mystery of sex, it is a flow onwards.
Sexless people transmit nothing.

And if, as we work, we can transmit life into our work,
life, still more life, rushes into us to compensate, to be ready
and we ripple with life through the days.

Even if it is a woman making an apple dumpling, or a man a stool,
if life goes into the pudding, good is the pudding
good is the stool,
content is the woman, with fresh life rippling in to her,
content is the man.

Give, and it shall be given unto you
is still the truth about life.
But giving life is not so easy.
It doesn’t mean handing it out to some mean fool, or letting the living dead eat you up.
It means kindling the life-quality where it was not,
even if it’s only in the whiteness of a washed pocket-handkerchief.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

ELEMENTAR
Por que é que as pessoas não param de ser amáveis
ou de pensar que são amáveis, ou de querer ser amáveis,
e passam a ser um pouco mais elementares?

Como o homem é feito de elementos,
de fogo, chuva, ar e barro,
e como nada disso é amável
mas elementar,
o homem não pende inteiramente para o lado dos anjos.

Quero que os homens recuperem seu perdido equilíbrio entre os elementos
e sejam mais fogosos ao menos, tão incapazes de mentir
como o próprio fogo.

Quero que eles sejam fiéis à variação natural, que nem a água,
que passa da nascente ao vapor e chega ao gelo
sem perder a cabeça.

Eu estou cheio das pessoas amáveis,
que são, de alguma forma, uma mentira.

*

ELEMENTAL
Why don't people leave off being lovable
or thinking they are lovable, or wanting to be lovable,
and be a bit elemental instead?

Since man is made up of the elements
fire, and rain, and air, and live loam
and none of these is lovable
but elemental,
man is lop-sided on the side of the angels.

I wish men would get back their balance among the elements
and be a bit more fiery, as incapable of telling lies
as fire is.

I wish they'd be true to their own variation, as water is,
which goes through all the stages of steam and stream and ice
without losing its head.

I am sick of lovable people,
somehow they are a lie.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

COMO O BURGUÊS É BESTA
Como o burguês é besta,
sobretudo se ele é o macho da espécie —

É apresentável, tão apresentável —
que estou até pensando em te dar esse burguês de presente.

Não é bonito e gostoso, não é um elemento  saudável, não é de fato um
exemplar dos mais finos?
Não tem por fora uma cara limpa de inglês?
Não é a própria imagem de Deus, fazendo suas 30 milhas por dia
atrás de preciosas perdizes, ou mesmo de uma bola banal?
Que tal você também ser assim, estar na moda, estar por cima, estar bem em suma?

Mas espera lá!
Basta que ele encontre uma emoção nova; basta que esteja em face da
necessidade de outro homem;
basta ele voltar para casa com alguma dificuldade moral; basta que a vida
faça uma nova exigência à compreensão desse cara
para que logo ele desmonte da pose como um glacê aguado!
Olha só como ele fica esquisito, e se desentende,
Olha o que ele tem a mostrar cada vez que a vida chega e lhe dá uma
espremida de crânio.

Como o burguês é besta,
sobretudo se ele é o macho da espécie —

Bem arrumado, que nem um cogumelo
todo liso e ereto certinho aprumado —
ele é também que nem um fungo, porque come o que sobra
de um extinto passado, chupa o sangue em folhas mortas de almas
que foram mais intensas que a dele.

Na verdade esse burguês está podre, passou do tempo,
bota a mão na carne nele que você sente o vazio
por dentro: como um velho cogumelo ele está oco e bichado
sob a lisa epiderme e essa esguia aparência.

Cheio de sentimentos bichados, ocos, agitados
e basicamente chatos —
como o burguês é besta!

Há milhares de aparências assim, nessa mofada Inglaterra,
e é uma pena não poder dar um chute
nesses pobres cogumelos doentes, deixar que mansamente eles voltem
a derreter no chão.

*

OW BEASTLY THE BOURGEOIS IS
How beastly the bourgeois is
especially the male of the species —

Presentable, eminently presentable — 
shall I make you a present of him?

Isn’t he handsome? Isn’t he healthy? Isn’t he a fine specimen?
Doesn’t he look the fresh clean Englishman, outside?
Isn’t it God’s own image? tramping his thirty miles a day
after partridges, or a little rubber ball?
wouldn’t you like to be like that, well off, and quite the thing

Oh, but wait!
Let him meet a new emotion, let him be faced with another man’s need,
let him come home to a bit of moral difficulty, let life face him with a
new demand on his understanding
and then watch him go soggy, like a wet meringue.
Watch him turn into a mess, either a fool or a bully.
Just watch the display of him, confronted with a new demand on his intelligence,
a new life-demand.

How beastly the bourgeois is
especially the male of the species —

Nicely groomed, like a mushroom
standing there so sleek and erect and eyeable — 
and like a fungus, living on the remains of a bygone life
sucking his life out of the dead leaves of greater life than his own.

And even so, he’s stale, he’s been there too long.
Touch him, and you’ll find he’s all gone inside
just like an old mushroom, all wormy inside, and hollow
under a smooth skin and an upright appearance.

Full of seething, wormy, hollow feelings
rather nasty — 
How beastly the bourgeois is!

Standing in their thousands, these appearances, in damp England
what a pity they can’t all be kicked over
like sickening toadstools, and left to melt back, swiftly
into the soil of England.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

APÓS O DIA DE TODOS OS SANTOS
Envolta no manto vermelho forte das memórias ardentes
a alma pequena e fraca velozmente se assenta, pega os remos
e vai indo, vai indo para as profundezas escuras
singrando com a quentura do amor de corações ainda vivos
respirando sobre a vela rala tão frágil e o ajudando a rumar
pelos abismos imperscrutáveis à frente, longe, longe da costa cinza
da existência marginal.

*

AFTER ALL SAINTS' DAY
Wrapped in the dark-red mantle of warm memories
the little, slender soul sits swiftly down, and takes the oars
and draws away, away, towards dark depths
wafting with warm love from still-living hearts
breathing on his small frail sail, and helping him on
to the fathomless deeps ahead, far, far from the grey shores
of marginal existence.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§



MÍSTICO
Toda experiência dos sentidos eles dizem que é mística, quando
a experiência é abordada.
Uma maçã assim se torna mística quando eu sinto nela o gosto
do verão e da neve, da selvagem confusão da terra
e da insistência do sol.

Tudo coisas cujo gosto eu posso numa boa maçã seguramente sentir.
Há maçãs em que a água prepondera, de gosto aguado e azedo,
e outras que puxam mais para o sol, doce-salobras
como a água de uma laguna excessivamente insolada.

Se afirmo sentir numa maçã essas coisas, sou chamado de místico,
ou seja, de mentiroso.
O único modo de comer uma maçã é abocanhá-la como um porco
e  não sentir gosto de nada
que seja real.

Mas eu, se como uma maçã, gosto de comê-la com os sentidos todos despertos.
O modo de a abocanhar como um porco é para mim uma alimentação de cadáveres.

*

MYSTIC
They call all experience of the senses mystic, when the experience is considered.
So an apple becomes mystic when I taste in it
the summer and the snows, the wild welter of earth
and the insistence of the sun.

All of which thing I can surely taste in a good apple.
Though some apples taste preponderantly of water, wet and sour
and some of too much sun, brackish sweet
like lagoon-water, that has been to much sunned.

If I say I taste these things in an apple, I am called mystic, which means a liar.
The only way to eat an apple is to hog it down like a pig
and taste nothing
that is real.

But if I eat an apple, I like to eat it with all my senses awake.
Hogging it down like a pig I call the feeding of corpses.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

PAI NOSSO
Pois vosso é o reino,
o poder e a glória.

Santificado seja o vosso nome,
já que sois inonimado.

Dai a mim, além do pão
de cada dia,
meu reino, meu poder, minha glória.

Todas as coisas que para vós se voltam
têm seu reino, seu poder, sua glória.

Como o reino do rouxinol ao crepúsculo
cuja glória e poder eu já tanto ouvi e senti.

Como o reino da raposa nas trevas
uivando em seu poder, sua glória
que, para o ganso, é morte.

Como o poder e a glória desse ganso grasnando
na garoa à beira do lago.

E eu, homem desnudo, clamando
clamando a vós pelo meu mana,
meu reino, meu poder, minha glória.

*

LORD'S PRAYER
For thine is the kingdom
the power, and the glory –

Hallowed be thy name, then
Thou who art nameless –

Give me, Oh give me
besides my daily bread
my kingdom, my power, and my glory.

All things that turn to thee
have their kingdom, their power, and their glory.

Like the kingdom of the nightingale at twilight
whose power and glory I have often heard and felt.

Like the kingdom of the fox in the dark
yapping in his power and his glory
which is death to the goose.

Like the power and the glory of the goose in the mist
honking over the lake.

And I, a naked man, calling
calling to thee for my mana,
my kingdom, my power, and my glory.
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

UMA REVOLUÇÃO SADIA
Se você fizer uma revolução, faça curtindo,
não me venha com uma cara zangada
de seriedade mortífera,
faça uma revolução engraçada.

Não a faça por odiar as pessoas
e, sim, só para abrir os seus olhos.

Não faça uma revolução por dinheiro,
faça-a por fazer e que o dinheiro se dane.

Que a revolução não seja pela igualdade,
mesmo porque iguais nós já ficamos demais:
gozado agora seria ter o caldo entornado
e ver que rumo as coisas tomam rolando.

Não faça uma revolução pela classe dos trabalhadores,
mas sim para que cada um de nós possa ser uma aristocracia em si mesmo,
pulando com euforia, como os burros que escapam.

Sobretudo não faça uma revolução em defesa 
do serviço do qual nós já tivemos bastante.
Vamos abolir o serviço, a ocupação compulsória!
O trabalho pode ser divertido, curtido pelos homens, e assim não ser mais serviço.
Vamos então fazer assim! Vamos fazer uma revolução por prazer!

*

A SANE REVOLUTION
If you make a revolution, make it for fun,
don’t make it in ghastly seriousness,
don’t do it in deadly earnest,
do it for fun.

Don’t do it because you hate people,
do it just to spit in their eye.

Don’t do it for the money,
do it and be damned to the money.

Don’t do it for equality,
do it because we’ve got too much equality
and it would be fun to upset the apple-cart
and see which way the apples would go a-rolling.

Don’t do it for the working classes.
Do it so that we can all of us be little aristocracies on our own
and kick our heels like jolly escaped asses.

Don’t do it, anyhow, for international Labour.
Labour is the one thing a man has had too much of.
Let’s abolish labour, let’s have done with labouring!
Work can be fun, and men can enjoy it; then it’s not labour.
Let’s have it so! Let’s make a revolution for fun!
- D. H. Lawrence, em "Poemas de D. H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução de Leonardo Fróes]. Edição bilíngue do centenário. Brasília: Editora Alhambra, 1985.

§§

****
D. H. Lawrence em tradução de Aíla de Oliveira Gomes

DESPERTANDO
Quando acordei as luzes do lago tremiam na parede,
A luz do sol, num cardume, nadava de lado a lado,
E uma abelha graúda se pendurava em umas prímulas
Na janela, o corpo negro, peludo, e um zumbido zangado.

Eu tinha de lembrar-me de uma coisa, eu tinha, contudo
Não lembrava; mas para que? As luzes que deslizavam
E as prímulas aéreas, deslumbradas
Da ameaça da abelha, eram belezas que me bastavam.

*

COMING AWAKE
When I woke, the lake-lights were quivering on the wall,
The sunshine swam in a shoal across and across,
And a hairy, big bee hung over the prímulas
In the window, his body black fur, and the sound of him cross.

There was something I ought to remember; and yet
I did not remember. Why should I ? The running lights
And the airy prímulas, oblivious
Of the impeding bee- they were fair enough sights.
- D.H. Lawrence "Alguma Poesia. D.H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução Aíla de Oliveira Gomes]. Edição bilíngue. Editora T. A. Queiroz, 1991.

§§

A FENIX
Você está querendo ser extinto, apagado, excluído,
Feito nada?
Você esta querendo ser feito nada?
Mergulhado em oblivio?

Se não quer, você nunca mudará de verdade?

A fênix renova sua juventude
Somente quando é queimada viva, queimada até ser
Feita

Em flóculos de cálida cinza.

Então o leve agitar-se , no ninho, de um mínimo rebento
Recoberto de fina penugem, como cinza flutuando,
Revela que a fênix começa a renovar a sua juventude, como
A águia-
Pássaro imortal.

*

PHOENIX
Are you willing to be sponged out, erased,cancelled,
made nothing?
Are you willing to be made nothing?
Dipped into oblivion?

If not, you will never really change.

The phoenix renews her youth
Only when she is burnt, burnt alive, burnt down
To hot and flocculent ash.

Then the small stirring of a new small bub in the nest
With strands of down like floating ash
Shows that she is renewing her youth like the eagle
Imortal bird.
- D.H. Lawrence "Alguma Poesia. D.H. Lawrence". [seleção, tradução e introdução Aíla de Oliveira Gomes]. Edição bilíngue. Editora T. A. Queiroz, 1991.

§§
****

D. H. Lawrence em tradução de José Paulo Paes

A indecência pode ser saudável
A indecência pode ser normal, saudável;
na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.

E um pouco de putaria pode ser normal, saudável.
Na verdade, um pouco de putaria é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.

Mesmo a sodomia pode ser normal, saudável,
desde que haja troca de sentimento verdadeiro.
Mas se alguma delas for para o cérebro, aí se torna perniciosa:
a indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
a putaria no cérebro se torna sifilítica
e a sodomia no cérebro se torna uma missão,
tudo, vício, missão, insanamente mórbido.

Do mesmo modo, a castidade na hora própria é normal e bonita.
Mas a castidade no cérebro é vício, perversão.
E a rígida supressão de toda e qualquer indecência, putaria e relações assim
leva direto a furiosa insanidade.
E a quinta geração de puritanos, se não for obscenamente depravada,
é idiota. Por isso, você tem de escolher.

*

Bawdy can be sane
Bawdy can be sane and wholesome,
in fact a little bawdy is necessary in every life
to keep it sane and wholesome.

And a little whoring can be sane and wholesome.
In fact a little whoring is necessary in every life
to keep it sane and wholesome.

Even sodomy can be sane and wholesome
granted there is an exchange of genuine feeling.

But get any of them on the brain, and they become pernicious:
bawdy on the brain becomes obscenity, vicious.
Whoring on the brain becomes really syphilitic
and sodomy on the brain becomes a mission,
all the lot of them, vice, mission, etc., insanely unhealthy.

In the same way, chastity in its hour is sweet and wholesome.
But chastity on the brain is a vice, a perversion.
And rigid suppression of all bawdy, whoring or other such commerce
is a straight way to raving insanity.
The fifth generation of puritans, when it isn’t obscenely profligate,
is idiot. So you’ve got to choose.
- D.H. Lawrence, em "Poesia erótica em tradução". [organização e tradução José Paulo Paes]. Edição de Bolso.  São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

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§§


D.H. Lawrence, Katherine Mansfield, Frieda Lawrence
 and John Middleton Murray (1914)

FORTUNA CRÍTICA D. H. LAWRENCE
ABREU, Maria do Socorro Cardoso de; BARBOSA, Iêda Carvalhêdo. O amor erótico no conto 'O espinho na carne', de D. H. Lawrence. In: Encontro Interdisciplinar De Estudos Literários, 15., 21 a 23 nov. 2018, Fortaleza (CE). Anais... Fortaleza (CE): UFC, 2018. p. 157-163. Disponível no link. (acessado em 13.3.2019).
ALBERGE, Dalya. Poemas de D.H. Lawrence foram salvos da censura. in: Ilustríssima | Folha de São Paulo, 28.3.2013. Disponível no link. (acessado em 15.3.2019)
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A fênix de Lawrence, símbolo poderoso
que o escritor costuma usar nas capas
de seus livros.
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ADAPTAÇÕES DA OBRA DE D. H. LAWRENCE PARA O CINEMA
D. H. Lawrence, por Bri Hermanso
Filmes
:: O cavalo de balanço | The rocking horse winner - Direção e roteiro: Anthony Pelissier - Adaptação da livro de D. H. Lawrence "The Rocking-Horse Winner"- Duração: 91 min. - Ano: 1949. 
:: Filhos e amantes | Sons and lovers - Direção: Jack Cardiff - Roteiro: Gavin Lambert e T.E.B. Clarke - Adaptação: do romance homônimo de D. H. Lawrence, publicado em 1913. Origem: Inglaterra - Duração: 103 min. - Ano: 1960.
:: Apenas uma mulher | The fox - Direção: Mark Rydell - Roteiro: Lewis John Carlino e Howard Koch - Adaptação: do livro homônimo de D. H. Lawrence - Produção: Motion Pictures International - Origem: Canadá - Duração: 110 min. - Ano: 1967.
:: Mulheres apaixonadas | Women in love - Direção: Ken Russell - Roteiro: Larry Kramer - Adaptado: do livro 'Women in love' de D.H. Lawrence - Origem: Inglaterra - Duração: 131 min. - Ano: 1969.
:: A virgem e o cigano | The virgin and the gypsy - Direção: Christopher Miles - Roteiro: Alan Plater - Adaptação: da obra homônima do escritor D. H. Lawrence - Origem: Inglaterra - Duração: 95 min. Ano: 1970. 
:: O amante de Lady Chatterley | Lady Chatterley's lover - Direção: Justin Jaeckin Roteiro: Marc Behm, Just Jaeckin e Christopher Wicking Adaptação: do romance homônimo escrito por D.H. Lawrence - Produção: Fox Home Entertainment - Origem: Inglaterra - Duração: 104 min. - Ano: 1981.
:: O despertar de uma mulher apaixonada| The rainbow - Direção: Ken Russell - Roteiro: Ken Russell e Vivian Russell - Adaptação da obra do escritor D. H. Lawrence "O Arco-íris" - Origem: Inglaterra e EUA - Duração: 113 min. Ano: 1989.
:: Kangaroo - Direção: Tim Burstall - Roteiro: Evan Jones - Adaptação: do romance homônimo escrito por D.H. Lawrence - Origem: Australia - Duração: 110 min. - Ano: 1986. 
:: Lady Chatterley - Direção: Pascale Ferran - Roteiro: Roger Bohbot e Pascale Ferran - Adaptação: da novela 'John Thomas and Lady Jane' de D. H. Lawrence - Origem: França - Duração: 168 min. - Ano: 2006. 

Minissérie
:: Women in LoveDireção: Miranda Bowen -  BBC Inglesa (2017) - Produção: Company Pictures. É uma adaptação de William Ivory para os livros “The Rainbow” e sua sequência, “Women in Love”, de DH Lawrence. A produção também traz elementos e personagens apresentados no livro “The Trespasser”.
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>> Outras adaptações de D.H. Lawrence para o cinema e televisão (IMDb). AQUI!


Aldous Huxley e D.H. Lawrence - foto possível de: Lady Ottoline Morrell (1928) - © National Portrait Gallery, London


:: Twitter D.H. Lawrence Museum ‏ @DHLMuseum 

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração (seleção e organização de poemas) José Alexandre da Silva


© Obra de D.H. Lawrence é de domínio público. 
© Traduções: direito dos tradutores

Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina.

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten; SILVA, José Alexandre da.. (pesquisa, seleção e organização). D. H. Lawrence:  influente e polêmico escritor inglês. Templo Cultural Delfos, março/2019. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Página atualizada em 17.3.2019.


Direitos Reservados © 2019 Templo Cultural Delfos

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