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Nicolina Vaz de Assis - a escultora da belle époque tropical

Retrato de Nicolina Vaz de Assis, Eliseu Visconti, (1905)
Acervo Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)
Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto (Campinas SP 1874 - Rio de Janeiro RJ, 19 de outubro de 1941). Escultora. Inicia-se na escultura em sua cidade natal, sendo conhecida por ter realizado o busto de Campos Salles. Recebe bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo , em 1897, para custear seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro, onde é aluna de Rodolfo Bernardelli. Executa bustos de presidentes de estados, de políticos e personagens ilustres para o Museu da República. Além disso, também constrói esculturas funerárias, como, por exemplo, O Selvagem, de 1898, para o túmulo de José Vieira Couto de Magalhães (1837 - 1898), último presidente da província de São Paulo localizada no Cemitério da Consolação, considerada o primeiro exemplar de escultura art nouveau da cidade. Em 1904, novamente com bolsa do Pensionato, Nicolina vai para Paris, estuda na Académie Julian com os escultores Jean Alexandre Joseph Falguière (1831 - 1900) e Denys Puech (1854 - 1942), ganhadores do Prix de Rome, do Institut de France, e lá permanece até 1907. Casa-se, em 1911, com o escultor português Rodolfo Pinto do Couto (1888 - 1945). Realiza obras públicas em jardins, parques e praças, como O Canto das Sereias, s.d., na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e Fonte Monumental, 1913 a 1923, em São Paulo, encomendada pela prefeitura. Postumamente, suas obras são expostas no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio de Janeiro, em 1950.
Comentário Crítico
O universo artístico do início do século XX no Brasil, no qual existem poucas chances de inserção da mulher, Nicolina Vaz de Assis está entre as poucas que obtêm reconhecimento profissional e não simplesmente como amadora das artes. Desconhece-se seu percurso de formação anterior ao recebimento das duas pensões concedidas pelo Estado de São Paulo, em 1897 e 1904, porém, consolida sua reputação no período em que estuda no Rio de Janeiro. Seu retrato feito por Eliseu Visconti (1866 - 1944), em 1905, e a recepção da tela, elogiada pelo crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911), demonstram o reconhecimento atingido, bem como a menção de seus diversos trabalhos em revistas como Fon-Fon! e Kosmos.
Nicolina Vaz de Assis (1913) Acervo iconográfico
- Biblioteca Nacional  - Rio de Janeiro
Seguindo os passos de seus professores, Nicolina é capaz de articular importantes encomendas de obras públicas e privadas, executadas nos programas escultóricos assimilados da tradição europeia, mas também reveladores das demandas exigidas da arte na virada do século XIX. Prova dessa capacidade é a Fonte Monumental, encomendada em 1913, dentro do projeto de urbanização da cidade de São Paulo, o chamado "Centro Cívico", iniciado por Antônio Prado, prefeito entre 1899 e 1911. A fonte, implantada em 1923 na praça Vitória, hoje praça Júlio de Mesquita, conjunção da avenida São João, rua Barão de Limeira e rua Vitória, marca a ligação entre o centro e o bairro dos Campos Elíseos, residência da elite paulistana. A obra consiste de duas bacias circulares sobrepostas, coroadas por um conjunto escultórico representando um jovem pescador que lança sua rede em meio à sedução das sereias, que tentam desviá-lo de sua tarefa. A composição de formas espiraladas define a hierarquia do conjunto, chamando a atenção para a cena principal. Buscando a difícil integração da função de receptáculo da água e sustentáculo do conjunto de esculturas, as bacias são adornadas por relevos de flores e conchas de mármore, além de máscaras de figuras clássicas e lagostas de bronze. A temática é a tentadora simbiose entre cultura e natureza, cara ao art nouveau, estilo preferido pelas elites locais para demonstrar seu compasso com as novidades europeias e a vontade de modernização.


“A sua maneira delicada de esculpir, em que há certa feminilidade e, por isso, elegância e rapidez, fez-se recomendável no busto de Gravina, na Meditação e Oração, três gestos que participaram da sua alma de artista para a sua intensidade expressivista”
- Gonzaga Duque (1929)


CRONOLOGIA
1874 – Nasce em Campinas SP;
Nicolina Vaz de Assis (30 anos de idade) - foto:
do livro Precursoras Brasileiras, de Barros Vidal
s.d. - Inicia-se em escultura em sua cidade natal, é conhecida por seu busto de Campos Salles
s.d - Realiza diversos bustos de presidentes para o Museu da República, no Rio de Janeiro
1897 - Recebe bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, para custear seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, onde estuda com Rodolfo Bernardelli
1898 - Produz a escultura funerária O Selvagem, para o túmulo de José Vieira Couto de Magalhães, último Presidente da Província de São Paulo, localizada no Cemitério da Consolação, em São Paulo, considerada o primeiro exemplar de escultura art nouveau da cidade;
1904 - Recebe novamente bolsa de Pensionato Artístico e viaja para Paris, onde permanece até 1907. Estuda na Académie Julian, com os escultores Jean Alexandre Joseph Falguière e Denys Puech, dois ganhadores do Prix de Rome, do Institut de France, além de Mäder e Suève ;
1907 - Retorna ao Brasil e fixa residência na cidade do Rio de Janeiro;
1911 - Após a morte de seu primeiro marido, casa-se com o escultor português Rodolfo Pinto do Couto;
1923 - Inauguração de sua obra Fonte Monumental, 1913/1923, na praça Vitória, hoje praça Júlio de Mesquita, conjunção da avenida São João, rua Barão de Limeira e rua Vitória, marca a ligação entre o centro e o bairro dos Campos Elíseos, local de residência da elite paulistana;
1941 – Morre no Rio de Janeiro RJ, em 19 outubro;
1950 - Suas obras são apresentadas em mostra póstuma realizada no Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, no Rio de Janeiro.

“A arte da escultora Nicolina Pinto do Couto caracteriza-se pelo dom suave de plasmar a graça e a candura das crianças”
- Saul de Navarro – Revista da Semana, 20 de Julho de 1941.


ACERVOS
:: Museu Nacional de Belas Artes  (MNBA) - Rio de Janeiro RJ;
:: Museu da República - Rio de Janeiro RJ;
:: Fundação Museu Mariano Procópio (Mapro) - Juiz de Fora MG;
:: Pinacoteca do Estado de São Paulo – São Paulo SP;


EXPOSIÇÕES
Exposições Coletivas
Nicolina Vaz de Assis e seu marido, Rodolfo Pinto do
Couto, com o busto-retrato do Barão do Rio Branco
s.d. - São Paulo SP - Nicolina Vaz de Assis e Rodolfo Pinto Couto, no Esplanada Hotel;
1899 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1900 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1901 - Rio de Janeiro RJ - 8ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - menção honrosa;
1902 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes - menção honrosa;
1904 - Paris (França) - Salão de Paris;
1905 - Paris (França) - Salão de Paris;
1906 - Paris (França) - Salão de Paris;
1906 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1907 - Paris (França) - Salão de Paris;
1907 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de prata;
1908 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes - medalha de ouro;
1912 - Rio de Janeiro RJ - 19ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1913 - Rio de Janeiro RJ - 20ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1915 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1925 - Rio de Janeiro RJ - 32ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba;
1935 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas ArteS;
1936 - São Paulo SP - 4º Salão Paulista de Belas Artes.


Exposições Póstumas
1950 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de escultura, no MNBA;
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado;
1998 - Rio de Janeiro RJ - Imagens Negociadas: retratos da elite brasileira, no CCBB;
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal;
2005/2006 – Vitória ES - Exposição Escultura Brasileira: do bronze à dimensão planar, no Museu de Arte do Espírito Santo MAES;
2009 - São Paulo SP - Exposição "De Valentim a Valentim, a Escultura Brasileira – século XVIII ao XX", no Museu Afro Brasil;
2012 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Mulheres Luminosas, no Museu da República;


FORTUNA CRÍTICA
Modelagem final do busto-retrato Almirante Alexandrino de 
Alencar,Nicolina Vaz de Assis - Acervo Museu Nacional de
Belas Artes (MNBA)
ARAÚJO, Emanoel; LAUDANNA, Mayra. De Valentim à Valentim - A Escultura Brasileira Sec XVIII ao XX. (Catálogo). São Paulo: Imprensa Oficial do Estado. 2009.
ARENA, Angela Maria. Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto, uma escultora na Belle Èpoque. Dezenove E Vinte, 19 set. 2008. Disponível no link. (acessado em 21.5.2014).
AYALA, Walmir (org.); CAVALCANTI, Carlos (org.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos - A - C. [Apresentação Maria Alice Barroso]. Brasília: MEC: INL, 1973. v. 1, pt. 1, il. p&b. (Dicionários especializados, 5). p.146.
BITTENCOURT, Adalzira. A Mulher Paulista na História. RJ: Livros de Portugal, 1954.
DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e escultores. Rio de Janeiro: Benedicto de Souza, 1929. 255p.
GARCIA, Glaucia. Nicolina Vaz, sua obra e seu tempo. (biografias). SPA, São Paulo Antiga, 10/4/2009. Disponível no link. (acessado em 21.5.2014).
GORDINHO, Margarida Cintra (org). Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo: Missão Excelência. São Paulo: Marca D’água, 2000.
MARTINS, José de Souza. "A Fonte Monumental de Nicolina de Assis". O Estado de S. Paulo [Caderno Metrópole, p. C7], Sábado, 16 de julho de 2005., São Paulo,SP, p. C7 - C7, 16 jul. 2005.
MELO, Hugo Freitas de. Mulheres artistas profissionais: a reconfiguração do cânon artístico brasileiro. (resenha). R. Pós Ci. Soc. v.9, n.17, jan/jun. 2012. Disponível no link. (acessado em 21.5.2014).
MORALES DE LOS RIOS FILHO, Adolfo. Subsídios para a história da escultura, gravura e desenho do Rio de Janeiro: 1889-1930. Rio de Janeiro: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, s.d.
PINACOTECA DO ESTADO (SÃO PAULO, SP) (org.). Dezenovevinte: uma virada no século. [Apresentação Jorge da Cunha Lima; texto Maria Cecília França Lourenço, Ruth Sprung Tarasantchi, Carlos Alberto Cerqueira Lemos, Maria Inez Turazzi, Anna Carboncini, Maria Cristina Castilho Costa]. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1986. 126 p., il. p&b. color. Quadro Cronológico. p. 120.
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. [Apresentação Antonio Houaiss; texto Mário Barata, Lourival Gomes Machado, Roberto Pontual, Carlos Cavalcanti, Flávio Mota, Aracy Amaral, Walter Zanini, Ferreira Gullar]. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. 559 p., il. p&b., color. p. 42.
PORTELLA, Isabel Maria Carneiro de Sanson. Nicolina Vaz de Assis: A força feminina na escultura brasileira - Acervo Museu da República. In: Ver para Crer: visão, técnica e interpretação na Academia, 2013, Rio de Janeiro. Ver para Crer: visão, técnica e interpretação na Academia. Rio de Janeiro: Escola de Belas Artes UFRJ, 2012. p. 219-226.
PRESSLER, Neusa Gonzaga de Santana. Nicolina Vaz de Assis - Pesquisa Biblioteca Nacional de Lisboa. In: Reila Gracie. (Org.). Julieta e Nicolina duas escultoras Brasileiras. 1ª., ed., Rio de Janeiro: Prestígio Editorial, 2010, v. Vol I, p. 41-123.
RIBEIRO, Noemi Silva. Julieta e Nicolina, duas escultoras brasileiras. A escultura feminina na passagem do século XIX ao XX. Rio de Janeiro: Prestígio editorial, 2009. v. 1. 131p.
RODRIGUES, Wladimir Wagner. As mulheres de Klaxon: o universo feminino a partir dos modernistas. (Dissertação Mestrado em Artes Visuais).  Universidade Estadual Paulista, Julio de Mesquita Filho, UNESP, 2011. Disponível no link. (acessado em 21.5.2014).
RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Nacional, 1941. 388 p., il. p&b.
Fonte Monumental, de Nicolina Vaz de Assis (1923)
Praça Júlio Mesquita - SP - foto: (...)
SERAPHIM, Miriam Nogueira. A reprodução da obra de arte e seu caráter essencial. IV Encontro de história da arte - IFCH/Unicamp, 2008. Disponível no link. (acessado em 21.5.2014).
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão Artista: pintoras e escultoras brasileiras entre 1884 e 1922. (Tese Doutorado em Sociologia). Universidade de São Paulo, USP, 2004.
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão Artista: Pintoras e Escultoras Brasileiras, 1884-1922. 1ª ed.,  São Paulo: EDUSP/ FAPESP, 2008. v. 1. 336p.
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão artista: mulheres, atividades artísticas e condicionantes sociais no Brasil de finais do Oitocentos. XXIV colóquio, CBHA. Disponível no link. (acessado em 21.5.2014).
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Os gêneros da arte: mulheres escultoras na belle époque brasileira. In: Maria Lucia Bueno. (Org.). Sociologia das Artes Visuais no Brasil. 1ª ed., São Paulo: SENAC, 2012, v. 1, p. 185-210.
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Genre, Art et Académie: les femmes sculpteurs au Brésil (1892-1920). Opus Sociologie de l´Art, v. 11, p. 23-49, 2014.
SUGIMOTO, Luiz. Mulheres Invisíveis. Jornal da Unicamp. Universidade Estadual de Campinas - 6 a 12 de dezembro de 2004, p.12. Disponível no link. (acessado em 22.5.2014).
VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros: um estudo da arte cemiterial ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles secularizadas. [2 volumes].  Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura – Departamento de Imprensa Nacional. 1972, 502p., il.
VALLADARES, Clarival do Prado. Rio Barroco e Rio Neoclássico - analise iconográfica.  [2 volumes]. Rio de Janeiro: Bloch Edições, 1978.
VIDAL, Barros. A primeira escultora. In: ______. Precursoras brasileiras. Rio de Janeiro: A Noite Ed. , s.d. p. 201-205.


"Nicolina tem, no seu cartaz, uma grande glória: fez o busto de oito presidentes da República. É elevado o número de obras que realizou. O Busto do Barão do Rio Branco, que executou e é tido como a sua obra-prima, foi adquirido pelo Ministério da Guerra. Outro trabalho seu de grandes proporções é o Busto de Rockefeller, que esteve exposto, durante três anos, na Universidade de São Paulo. A sua contribuição para o embelezamento dos jardins e parques cariocas é bem preciosa. Aquela espetacular serpente que se vê na Quinta da Boa Vista é da sua autoria, assim como aquele majestoso velho - primorosa arquitetura - que se admira no Passeio Público. Seu nome passou as nossas fronteiras e projetou-se no estrangeiro. Não somente em Paris mas também em toda a América do Sul."
- Barros Vidal, em "Vidal, Barros. A primeira escultora". In: ---. Precursoras brasileiras. p. 201-205.


OBRAS ESCOLHIDAS
O Segredo, de Nicolina Vaz de Assis 
Acervo Museu Mariano Procópio (Mapro)
- foto: acervo digital Unesp

Tia Bastiana (bronze), de Nicolina Vaz de Assis(s.d.)
Acervo Museu Nacional de Belas Artes  (MNBA) RJ

Meditação (bronze), de Nicolina Vaz de Assis (1929)
Acervo Museu Nacional Belas Artes (MNBA)
- foto: Marcelo Jorge

(...) de Nicolina Vaz de Assis (1940) 

Senhor Morto, de Nicolina Vaz de Assis
Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo

Canto das Sereias, de Nicolina Vaz de Assis
Quinta da Boa Vista, São Cristóvão - Rio de Janeiro RJ


Fonte Monumental (mármore), de Nicolina Vaz de Assis (1923)
Praça Júlio Mesquita - SP  - foto: Arquivo Histórico de São Paulo

Fonte de Tritão,  de Nicolina Vaz de Assis
Passeio Público na Cinelândia - Rio de Janeiro RJ
(
roubada em 1993,  no ano de 2004 foi executado uma réplica da obra)

A Serpente, de Nicolina Vaz de Assis (1910)
Quinta da Boa Vista - Rio de Janeiro RJ

Mausoléu General Couto Magalhães, de Nicolina Vaz de Assis, c.1905
Cemitério da Consolação - São Paulo/SP


Busto-retrato de Nilo Peçanha, de Nicolina Vaz de Assis
Quinta da Boa Vista - Rio de Janeiro RJ


Busto-retrato de Francisco Pereira Passos, de Nicolina Vaz de Assis
- 1915, Rio de Janeiro RJ


Presidentes
Busto-retrato do Presidente Affonso Penna,
de Nicolina Vaz de Assis
Acervo Museu da República - Rio de Janeiro RJ


Busto-retrato do Presidente Francisco de Paula
Rodrigues Alves,  
de Nicolina Vaz de Assis
Acervo Museu da República - Rio de Janeiro RJ


Busto-retrato do Presidente Manuel Ferraz de
Campos Sales,  
de Nicolina Vaz de Assis
Acervo Museu da República - Rio de Janeiro RJ


Busto-retrato do Presidente Marechal Floriano
Peixoto,  
de Nicolina Vaz de Assis
Acervo Museu da República - Rio de Janeiro RJ


Busto-retrato do Presidente Marechal Manuel
Deodoro da Fonseca,  
de Nicolina Vaz de Assis
Acervo Museu da República - Rio de Janeiro RJ


Busto-retrato do Presidente  Delfim Moreira,
 
de Nicolina Vaz de Assis
Acervo Museu da República - Rio de Janeiro RJ


Busto-retrato do Presidente Prudente de Moraes,
 
de Nicolina Vaz de Assis
Acervo Museu da República - Rio de Janeiro RJ


DOCUMENTÁRIO
Título: Mulheres Luminosas
Capa DVD documentário Mulheres Luminosas
Documentário. Através da vida e da obra de quatro precursoras artistas brasileiras do sexo feminino, reflete sobre a posição da mulher artista na virada do século XIX para o XX e sobre as transformações ocorridas até os dias de hoje. A maestrina Chiquinha Gonzaga, a escultora Nicolina Vaz de Assis, a pintora Georgina de Albuquerque e a poetisa Gilka Machado, são exemplos de mulheres que encararam a sociedade preconceituosa da época em que viveram, em busca de um espaço profissional nas artes. Criaram, produziram, se tornaram reconhecidas e abriram os caminhos para as seguintes gerações de mulheres artistas e para a posição da mulher na sociedade em geral.
Ano: 2013
Duração: 33 min.
Ficha Técnica
Direção e Roteiro - Pedro Pontes
Consultoria Artística - Helio Eichbauer
Produção - Mana Pontez
AssiStente de Direção - Pedro Farina
Fotografia - Guilherme Francisco, Pedro Farina, Zhai Sichen
Edição e Finalização - Antonio Porto
Som Direto, Edição de Som e Mixagem - Bernardo Adeodato
Figurino - Célia de Oliveira
Elenco
:: Antonio Guerra
:: Dedé Veloso
Nicolina Vaz de Assis - ilustração Mulheres Luminosas
:: Helio Eichbauer
:: Mariana de Moraes
:: Maria Amélia da Fonseca
:: Stella Miranda
Depoimentos
:: Ana Paula Simioni
:: Bete Floris
:: Clara Sverner
:: Edinha Diniz
:: João Lúcio de Albuquerque
:: Luis Carlos de Albuquerque
:: Maria Beatriz de Albuquerque
:: Maria Lucia de Albuquerque
:: Maria de Lourdes Eleutério
:: Ruth Sprung
Realização: MAB - Multi Arte Brasil
:: Site Oficial: MAB 
:: Fan page Mulheres Luminosas
** Documentário disponível no link. (acessado em 22.5.2014)



Título: A Serpente
Realização: Lais Rodrigues e Miguel Przewodowski. Rio, abril de 2010.
Sinopse: A Serpente é um trabalho feito a partir da escultura homônima de Nicolina Vaz de Assis (1874-1941) uma das primeiras e maiores escultoras brasileiras.
Disponível no link.
A Serpente, realização: Lais Rodrigues e Miguel Przewodowski


REFERÊNCIA E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
:: Site Zélia Salgado (Nicolina Vaz de Assis)
:: Mulheres Luminosas (fotos e imagens)
:: DezenoveVinte


© A obra de Nicolina Vaz de Assis, é de domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske


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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Nicolina Vaz de Assis - a escultora da belle èpoque tropical. Templo Cultural Delfos, maio/2014. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
Página atualizada em 26.3.2016.



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Júlia Cortines - a musa fidalga de Rio Bonito

  • Júlia Cortines  - escritora brasileira


Não te dirá jamais, indiferente e calma,
Da natureza a muda e implacável esfinge
A razão por que acende o desejo em tua alma/De um bem que atrai, que foge e que nunca se atinge.
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Maria Júlia Cortines Laxe, escritora, nascida em Rio Bonito, RJ, em 12 de dezembro de 1863(1) e faleceu no Rio de Janeiro (então Capital Federal), no dia 19 de março de 1948. Filha do jornalista e deputado federal João Batista Cortines Laxe e de Júlia Mesquita Cortines Laxe, gozou de educação refinada, estudando em sua terra natal, em Niterói e posteriormente no Rio de Janeiro. Autodidata, aventurou-se cedo nas letras, lendo o que lhe chegava às mãos.
Aos 13 anos, escreveu os primeiros versos aos 21, já colaborava em periódicos da Corte. Aperfeiçoou-se em literatura e desenvolveu longa carreira no magistério, abrigando em classe alunos importantes como Lúcio Costa e Haroldo Valadão.

Júlia Cortines - ilustração (iconografia BN) 
Acervo Biblioteca Nacional
Apesar da morte em idade avançada (85 anos), Júlia deixou um exíguo montante de dois livros, Versos (1894) e Vibrações (1905), o primeiro publicado aos 31 anos e o outro aos 42 anos, restando, para antes e depois desse intervalo, quase três décadas de silêncio, eventualmente quebrado por textos esparsos em periódicos ou adormecidos na gavetas(2). Abandonado por críticos de peso, o título inaugural veio a lume pela Leuzinger, uma das mais atuantes tipografias da nossa belle époque. O êxito crítico e editorial repetiu-se quando apareceram Vibrações. José Veríssimo, por exemplo, afirma que este livro "vale mais, muito mais, do que em geral a obra das nossas poetisas e até do que a da maioria dos nossos inúmeros poetas" (1907: 171), distanciando-se "magnificamente da poesia de água de cheiro e pó de arroz da feminina brasileira" (1907:175). Com propriedade, Sânzio de Azevedo destaca que Veríssimo a louvou tão veementemente quando ainda viviam os maiores nomes do parnasianismo no Brasil (2004: 122), o que tonifica o encômio. [...]
Entretanto, à hospitalidade pretérita sucedeu o gradual esquecimento de Júlia Cortines, sequestro circunscrito ao descaso geral com o parnasianismo: na batalha modernista, o Parnaso serviu de pode expiratório, sendo sacrificado no século XIX por pecados inventados no XX. [...]
_____
(1) Péricles Eugênio da Silva Ramos (1959), Afrânio Coutinho (2001) e Sânzio de Azevedo (2004) registraram o nascimento de Júlia Cortines em 1868. No entanto, da folha de rosto da biografia de Renato de Lacerda (cf. referências) consta que o livro corresponde a uma conferência por ele ministrada "na noite de 13 de dezembro de 1963, ao ensejo do 1º centenário de nascimento da grande poetisa fluminense" (1967: I), o que indicaria ter a autora nascido cinco anos antes do comumente apontado. Apesar de não termos consultado a certidão de nascimento de Júlia Cortines, há outro indicio de que o ano correto seja 1863: o biógrafo, conterrâneo da poetisa, baseou-se na Monografia de Rio Bonito (1946), de Roberto Pereira dos Santos, pesquisador que contatou a autora (cf. 1967:80).
(2) Em linguagem rebarbativa, Renato de Lacerda alude à produção contínua de Júlia Cortines: "Ao escalar as culminâncias da idade provecta, na ânsia de apreciar de mais perto as pirilâmpicas iluminuras das constelações, o estilete de sua pena octogenária ainda cinzelava marmóreas peças do mais fino lavor estilístico" (Lacerda: 1967: 37. O biógrafo transcreve três poemas inéditos da autora...
___
Fonte: ARAÚJO, Gilberto. Descortinando Júlia. em "Versos - Vibrações - Júlia Cortines". [apresentação Gilberto Araújo].. (Coleção Austregésilo de Athayde, nº 32). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2010. Disponível no link.  (acessado em 11.5.2014).


livro Vibrações, Julia Cortines. Rio de Janeiro:
 Laemmert & C. – Editores, 1905.
OBRA DE JÚLIA CORTINES
Poesia
:: Versos. Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.
:: Vibrações. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Poesia reunida
:: Versos - Vibrações  de Júlia Cortines.[apresentação Gilberto Araújo].. (Coleção Austregésilo de Athayde, nº 32). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2010, 194p. Disponível no link. (acessado em 11.5.2014).


Antologia (participação)
:: Roteiro da Poesia Brasileira – Parnasianismo.  [seleção e prefácio de Sânzio de Azevedo]. São Paulo: Global Editora, 2007.
:: A poesia fluminense no século XX: antologia. [Seleção e organização Assis Brasil].. (Coleção poesia brasileira). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Imago; UMC, 1998, 322p.


Colaboração em jornais e revistas
Escreveu para o jornal O País, tendo sua própria coluna, "através da vida".  Colaborou com as revistas: A semana; e A Mensageira- revista literária dedicado à mulher brasileira, editada por Presciliana Duarte de Almeida.



“Júlia Cortines ... Praticamente esquecida em nossos dias, sua poesia forte e original mereceu elogios de alguns dos maiores nomes da literatura brasileira nos primeiros anos do século XX, chegando a ser considerada uma das "três Júlias" mais famosas da época, isto é, ela, Francisca Júlia da Silva (ambas poetisas) e Júlia Lopes de Almeida, romancista. Obra poética: Versos (1894) e Vibrações (1905)."



Júlia Cortines jovem
POEMAS ESCOLHIDOS

Alma Solitária
O que sentias era o que ninguém sentia:
– O ódio, o amor, a saudade, a revolta tremenda.
Não há ninguém que te ame e te console e entenda.
Ninguém compartilhou tua funda agonia.

A alma que possuir acreditaste, um dia,
Indiferente, vai a trilhar outra senda.
Do infinito deserto ergueste a tua tenda
Em meio à solidão da paisagem vazia...

E ora num voo audaz, ora num voo incerto,
Entre o fogo do céu e a areia do deserto,
A asa da aspiração finalmente cansou...

Mas a tua ansiedade e a tua angústia acalma.
– Sobre o abismo cavado entre as almas, ó alma,
Ninguém, para transpô-lo, uma ponte lançou.
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Eternidade
Eternidade d’alma! ilusória miragem,
Que a alma busca através da crença e do terror,
A idear uma calma ou sombria paragem
De infinito prazer ou de infinita dor!

Por que há de haver além, noutro mundo distante,
Um prêmio eterno para a virtude mortal?
E para o ser que vive apenas um instante
Por que há de ser eterno o castigo do mal?

Que outros pensem que um dia a efêmera ventura
Eterna possa ser, e o efêmero pesar.
Que outros pensem que irão na constelada altura,
Co’outra forma e outra essência, a vida renovar...

À minha alma debalde essa ilusão convida.
Sem crença e sem terror, é-lhe grato saber
Que por destino tem, sobre as ondas da vida,
Um instante boiar, e desaparecer...
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Anfitrite

(Sobre uma página de Fénelon)

Tinta a escama de azul e de oiro, solevando
Em seus brincos a vaga espúmea, pelo bando
Dos alegres tritões, que os búzios retorcidos
Sopram, enchendo o ar de músicos ruídos,
Acompanhados, vão os ligeiros golfinhos
Seguindo de Anfitrite o carro, que marinhos
Corcéis, – que têm na cor cetinosa do pelo
A brancura da neve e o polido do gelo,
O olhar esbraseado, a boca fumegante, –
Levam, abrindo a onda, em rota triunfante,
Deixando após, no mar tranquilo e bonançoso,
Como um rastro de luz, um sulco luminoso...

A concha de marfim, de admirável feitura,
Em que se assenta a deusa, esplêndida fulgura,
E parece voar, com as rodas doiradas,
À superfície azul das ondas acalmadas,
Seguida de um tropel de ninfas, a que o vento
Desenrola na espalda o cabelo opulento.
Ela tem a serena e fria majestade
Que afrouxa o vendaval e afrouxa a tempestade.
E, enquanto, com uma mão, empunha o cetro de oiro,

Co’a outra, sobre o joelho ampara o filho, o loiro
E tenro Palemon, de seu seio pendente.
Como um pálio, no azul se destaca, fremente,
A púrpura de um véu, que sobre o carro esplende,
E que o brando soprar dos zéfiros suspende.
Vê-se Éolo no ar, com o aspecto severo,
O semblante enrugado, o olhar sombrio e austero,
Retendo os aquilões, e rápido afastando
Para longe de si as nuvens... Transformando
A lisura do mar em prainos ondeantes
Ao crebro palpitar das narinas aflantes,
Emergem prontamente os monstros da voragem,
Para verem da deusa a brilhante passagem.
- Júlia Cortines (1887), em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


Em vão
É a ilusão, bem vejo: em tua fronte
Inda fulge um resplendor de aurora.
Tens o mesmo sorriso com que outrora
Deliciavas a minha alma insonte.

Debalde apontas para além do monte
Prainos que a ardência do verão enflora;
Asas vibrando pelos céus em fora,
Céus sem nuvens, sem raias o horizonte...

Esta grandiosa e esplêndida paisagem
Desenrolada a meu olhar – miragem
De intensidade e luz – que importa a uma alma

Que só deseja, antes da noite escura,
Haurir da tarde um pouco de frescura,
Gozar um pouco do silêncio e calma?!
- Julia Cortines (In: Lacerda, 1967: 80), poemas inéditos. Publicado em "Versos - Vibrações - Júlia Cortines". [apresentação Gilberto Araújo].. (Coleção Austregésilo de Athayde, nº 32). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2010, p. 165.



Ancião africano
A testa negra sob a carapinha branca.
Da longa escravidão a tremenda tortura
Não lhe alterou da face a expressão de doçura.
Um riso bom entreabre a sua boca franca.

A vingança do peito um brado não lhe arranca;
Em seu tranquilo olhar o rancor não fulgura,
Quando, na resignada e humílima postura,
Vê se erguer uma mão que ameaça e que espanca.

Verga-lhe agora o corpo um secular cansaço;
E através desse olhar que não pensa, mas sonha,
Desse olhar a que basta um pequenino espaço,

Vê-se uma alma de paz, uma alma de bonança,
Doce, meiga, infantil, amorosa e risonha,
Como uma alma feliz e ingênua de criança.
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Entre abismos
Mistérios só, de um lado, e sombras...
Em seguida,
A estrada tortuosa e aspérrima da vida,
Onde impreca a Revolta, onde brada o Terror,
Onde geme a Saudade e se lastima a Dor,
E, co’o gesto convulso e os traços descompostos,
Batidos pelo vento, à tempestade expostos,
Atropelam-se, em doida e febril confusão,
O Desespero, a Raiva, a Cólera, a Paixão,
Cujo concerto de ais e de pragas abala
O espaço, emudecendo o temporal que estala...

Do outro lado, somente o tenebroso mar
Da morte, em que por fim tudo irá se atufar...
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Indiferente
livro Versos, Julia Cortines. Rio de
Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894
E vão assim as horas! – Vão fugindo
Um após outro os dias voadores,
Ao túmulo do olvido conduzindo
As alegrias como os dissabores,

O sonho agita as asas multicores,
E vai-se e vai-se rápido sumindo,
Enquanto a vaga quérula das dores
Soluça, e rola pelo espaço infindo...

A mim, porém a mim, a mim que importa,
A mim, cuja esperança há muito é morta,
Que o tempo, como um rio que se escoa,

Nos arrebate as ilusões que temos?!
– Deixo em descanso os fatigados remos,
E que o barco da vida boie à toa.
- Júlia Cortines (1887), em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


Soledade
Poeta, dentro de ti, desmesurado e arcano,
Ou se cava, ou se empola, ou se espedaça o oceano
De tua alma, que exala um contínuo clamor,
– Brados de imprecações e soluços de dor!

Nele canta e suspira a lânguida sereia
Do Amor; a Mágoa geme; a Cólera estrondeia;
E a essas vozes se prende a dolorida voz
Da Saudade, chorando o que ficou após...

E em torno desse mar, que ulula, e chora, e guaia,
E que o vento revolve e a aresta dos escolhos
Rasga, do mundo vês a indiferente praia...

E acima dele vês a abóbada infinita
Do céu plácido e azul, onde o esplendor dos olhos
Das estrelas, sereno e distante, palpita...
- Júlia Cortines, em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


O infinito
(G. Leopardi)
                Ao Dr. Esperidião Eloy Filho

Sempre caro me foi este ermo cole,
Mais esta sebe, que de tanta parte
O longínquo horizonte à vista oculta.
Mas, se me assento, contemplando-a, espaços
Intérminos além, e sobre-humano
Silêncio, e profundíssima quietude
Meu pensamento fantasia; e quase
Se me apavora o coração. Se o vento
Ouço fremir nas árvores, aquele
Infinito silêncio a este murmúrio
Vou comparando: e lembro-me do eterno,
Das extintas idades, da presente
E viva e rumorosa. E em meio dessa
Imensidão afogo o pensamento,
E em suas ondas naufragar me é doce.
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Sinal na fronte
(Ada Negri)

Uma estrangeira, em púrpuras e gala,
Tocou-me a fronte com um dedo, e riu-se.
                Um frêmito me abala.

E disse-me: “Um sinal tu tens na fronte,
Talhado em forma de uma cruz bizarra.
                Tens um sinal na fronte.

Dos anos teus no afortunado giro
Sempre o trarás contigo – pois abriu-o
                A boca d’um vampiro,

Que da tua existência a melhor parte
Ávido suga, e o fogo às tuas veias,
                E tem o nome de Arte.

Quantas vezes o viste, ó quantas, quando
Velavas solitária, à cabeceira,
                Famélico, te olhando!...

Foi o reino de Apolo a ti prescrito;
Mas neste séc’lo vendilhão e bárbaro
                O talento é delito.

Sus, desnuda no verso prepotente
As vivas chagas de teu peito; em face
                Há de te rir a gente.

Rica de juventude sã, doirada,
Vibra um hino de amor; e hão de chamar-te
                De doida e deslocada.

Reis e censores, com insultos crassos,
Seguir-te-ão, como o lobo segue a prea
                P’ra comê-la a pedaços.

E extinguir o sinal embalde vais;
Embalde: a luz da ideia não se extingue
                Jamais, jamais, jamais!...”

                __________
Disse. E, proterva, em trajo purpurino,
Ergue-se em frente a mim, tal como o fado.
                E eu a cabeça inclino
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


A um cadáver
Eis-te, enfim, a dormir o teu sono de morte:
Semicerrado o olhar, as pupilas serenas,
Na atitude de quem nada teme da sorte,
Deslembrado do amor e esquecido das penas.

Nada pode turbar-te em teu repouso: estala
O raio, a lacerar das nuvens os vestidos;
No espaço a luz se extingue, o estampido se cala,
Sem vir ferir-te o olhar ou ferir-te os ouvidos.

Livre, afinal, da vida a que estava sujeito,
Teu calmo coração nenhum afeto encerra,
E, em pouco, como tu, ele estará desfeito
Sob o espesso lençol da camada de terra...

A afeição, que, fiel, te acompanhava, deve
Ficar, a pouco e pouco, à tua ausência alheia.
Passaste; e o esquecimento há de apagar, em breve,
O sinal que o teu passo imprimiu sobre a areia...

Que importa? Estás dormindo o teu sono de morte:
Semicerrado o olhar, as pupilas serenas,
Na atitude de quem nada teme da sorte,
Deslembrado do amor e esquecido das penas.
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


À beira do abismo
Morta, enfim, a esperança e desfeita a quimera,
Tu chegaste da vida ao cimo da montanha,
Onde, no calmo horror da solidão que impera,
Nada mais te acompanha.

Nada mais, a não ser o encarniçado apego
À existência ante a lei implacável da sorte,
Que a teus pés abre agora o inevitável pego
Misterioso da morte.

Que há, porém, nessa crua e falaz existência,
Que tu possas querer, infeliz criatura,
Tu que dela provaste a bárbara inclemência
E a infinita amargura?

Tu que viste rolar pelo solo os escombros
De tudo o que nasceu para morrer num dia,
E a Natureza-Mãe surda à voz dos assombros,
Surda à voz da agonia;

E o Deus bom, o Deus justo, o Deus onipotente,
Que a distância, no espaço, a sua face oculta,
Insensível à fé, que exora, e indiferente
À blasfêmia, que insulta;

E o lugar de um poder a outro poder ser dado:
A lei substituir o capricho divino,
E o Homem sempre através das idades levado
Pela mão do Destino?!

Abandona-te, pois. Transpõe o curto espaço
Que te separa então do final paroxismo,
P’ra da morte cair, dado o intrépido passo,
No silencioso abismo,

Onde vai se extinguir o que a carne padece
Desde o primeiro choro ao último gemido,
E onde a ideia e a paixão, tudo desaparece
Sob as ondas do olvido...
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Sonhadores
Almas – da natureza a execrada exceção –
Em que o Sonho ateou seu nefasto clarão,
Vós que, presas à terra, a asa do pensamento
Sentis sempre a voar, em livre movimento,
Para o distante azul dos mundos ideais,
Onde o bem que buscais não existiu jamais;
Vós que abris, procurando o mistério das coisas,
Ou do futuro os véus, ou do passado as lousas,
Vendo bem quanto é vão o que hoje se ergue, e só
Se ergueu para amanhã se desfazer em pó;

Vós, a quem acenou a dolosa esperança
Co’a ventura que atrai e que nunca se alcança,
E que, em sede, ao roçar pela fonte do amor
O lábio, a água sorveis do pântano da dor;
Vós todas pela terra arrastastes os dias,
Deixando após, no chão, um rastro de agonias,
E fazendo vibrar, no espaço, em torno a nós,
A vossa revoltada ou suplicante voz,
Que ora em murmúrios geme, ora em blasfêmias grita
Da vida que heis vivido a miséria infinita!
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Nostalgia selvagem
Longe, longe, a uma grande, infinita distância,
Que não me será dado afrontar nunca mais,
Fica a terra onde vi deslizar minha infância:
Tal, sob um bosque em flor e um ar todo fragrância,
Um arroio a correr através dos juncais.

Vejo ainda essa pátria adorada e formosa:
– Densa e verde, a floresta infinda se estender
Por sob um céu azul, broslado de oiro e rosa,
E a cachoeira, como uma serpe raivosa,
Pelos flancos da serra, em convulsões, descer...

Pátria onde vive e luta uma raça valente,
Que a morte encara sem os olhos abaixar,
Que sabe opor o peito à força da corrente,
Vencer o tigre, a flecha atirar destramente,
E na mão do inimigo o tacape quebrar.

Vejo agora, – ó visão de sonhos tentadores! –
Da fronte a cabeleira a escorregar-lhe aos pés,
Tendo na brônzea pele o perfume das flores,
Ágil, esvelta e linda, a virgem dos amores,
Seminua, passar das ramas através...

Asas! Ave que vais para longe, eu quisera
Asas para transpor, como tu, a amplidão!
De um país onde fulge, eterna, a primavera,
Longe o amor me sorri e a luta chama e espera.
Asas! para fazer voar meu coração!
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Dies iræ
A esse som de trombeta e de alarma, quem há de
Dormir? Mortos, deixai a paz da sepultura
E acorrei: o que ouvis é o clarim da Saudade!

De pé! de pé! de pé! Despedaçai a dura
Lousa que sobre vós lançou o esquecimento,
Espectros do sofrer, fantasmas da ventura!

Ó divina ilusão, que um único momento
O fulgor da tua asa ante os meus olhos passe,
Deixando-os num enlevo e num deslumbramento!

Meu amor, meu amor, anima-te! renasce
Da cova em que a traição te sepultou um dia,
E une ainda uma vez a face à minha face!

Como o meu coração, em ânsias, se estorcia
Às tuas rudes mãos, fá-lo estorcer-se agora,
Minha lenta e penosa e tremenda agonia!

Todas vós que a minha alma agitastes outrora,
Ó esperança, ó alegria, ó tristeza, ó ansiedade,
Acudi a essa voz que, vibrante e sonora,
Faz rolar pelo espaço o clarim da Saudade!
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Terra ideal
Como um pássaro, abrir na amplidão do horizonte
As asas eu quisera, e a uma terra voar
Que existe para além do píncaro do monte
E para além da toalha infinita do mar.

Terra onde o pálio azul das auroras se estende,
Sem nuvens, tinto de oiro o límpido fulgor,
Por sobre um solo verde e viçoso em que esplende
A água viva, a cantar entre margens em flor;

Onde os nimbos jamais, fustigados do açoite
Dos ventos, pelos céus rolam em turbilhões,
E onde o amplo manto arrasta a tenebrosa noite
De planetas broslado e de constelações;

E que do liminar de minha adolescência,
Entre sombras, a furto e a distância, entrevi,
E que em pleno verão e em plena florescência
Da raia do horizonte ainda me sorri...

E para onde eu estendo avidamente os braços,
E para onde se lança, atraído, o meu ser,
Vendo-a sempre, através de infinitos espaços,

De meus braços fugir, de minha alma correr...
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.



Tarde de inverno

(A Cartola Cortines)

Sob o curvo cristal da imensidade
De um céu de transparência etérea e fria,
Em que do posto sol a claridade,
Azul e melancólica, radia,

Vemos o bosque, o rio, a amenidade
Das sombras, a ondulada pradaria,
Como um painel de estranha suavidade
E encantadora e rústica poesia.

Olha como o formoso fruto loiro
Salpica de pequenos pontos de oiro
Aquela verdejante laranjeira!

E além, alem, do céu no alaranjado
Fundo se esbate e avulta o recortado
E sombrio perfil da cordilheira...
- Júlia Cortines (1886), em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


Finis
Ouço um surdo, abafado e discorde ruído,
Logo após um fragor que pelos ares trona.
Qual se dum terremoto o solo sacudido
Fosse, em torno de mim tudo se desmorona.

O que é feito de vós, altivos monumentos,
Que afrontáveis do tempo os inúteis furores,
Mergulhando no azul dos largos firmamentos,
Mergulhando dos céus nos vivos resplendores?!

A asa aberta do sonho, em convulsa ansiedade,
O abrigo busca em vão, que se lhe oferecia
Outrora, se a lufada aguda da verdade
Bruscamente a seu lado as asas distendia.

O mundo está deserto e a natureza morta!
E é debalde que estendo avidamente os braços:
Tudo aquilo que nos alimenta e conforta
Abateu, e rolou pelo solo em pedaços...

E nunca brotará dessa informe ruína,
Clara, a fonte de fé, que se desliza mansa,
Nem a flor brotará da quimera divina,
Nem a palma sonora e verde da esperança!

De súbito calou-se a voz imperiosa
Que me incitava à luta e me dizia: – “Avante!
Após a negridão da noite procelosa
É que o dia é mais claro e o sol é mais brilhante!”

O alvo, que resumiu para mim o universo,
O alvo, a que convergia a minha vida inteira,
Se desfez, e voou pelos ares, disperso
Em átomos de areia, e de cinza, e poeira.

E, em derredor, a muda amplitude dum ermo
Exâmine se abriu sob um céu de granito...
E nada em baixo, à flor da planície sem termo,
E nada em cima, à flor do horizonte infinito...
- Júlia Cortines, em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


Dor eterna
O tempo – dizem – apaga
O prazer e o sofrimento
Sobre eles rolando a vaga
Sombria do esquecimento.

E transforma encantadores
Sítios, que tu, Abril, vestes
De uma gaze de esplendores,
Em sítios feios e agrestes.

E faz germinar nas águas,
Que bebe a gandra bravia,
O lírio, como das mágoas
Brota a flor da alegria.

E, no entretanto, contemplo,
Extática e dolorosa,
Entre os escombros de um templo
Desmoronado, caída

A ara ebúrnea, de que há tanto
Despenhou-se a idolatrada
Imagem, que vejo, em pranto,
De lodo vil salpicada...

Por isso, pungida à aguda
Pena, que o olvido não calma,
Diz à revolta, sanhuda
Onda do tempo a minha alma:

“– Rola túmida ou desfeita.
Que importa? – Como os granitos,
Conservo, pedaços feita,
Os caracteres inscritos.”
- Júlia Cortines (1888), em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


IV
Com triste olhar seguindo
Os pássaros, que em bando
Lá voam para o azul da montanha fronteira
Envolta na doirada e lúcida poeira,
Que foge, à proporção que o sol vai recuando
E a sombra vai subindo;

Penso no amor infindo
Que me prendeu ao brando
Raio do teu olhar; e minha alma de poeta
Deixa a sombra que a cerca, e voa, ansiosa e inquieta,
A buscar essa luz... E a luz vai recuando...

E a sombra vai subindo...
- Júlia Cortines (abril), em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


V
Do mês de Maio a luz do sol mais brando
Desce do espaço em leves frocos de ouro,
E, pelos frios ares ondulando,
Envolve a mata e espelha o sorvedouro.

Se enrola o raio aveludado e louro
Pelos ramos, aos quais, se aproximando
As horas do crepúsculo, cantando
Voltam as aves em alegre coro.

Mas nem sequer eu na janela assomo.
Só vejo a natureza morta, como
Uma sombria e desolada estepe.

É que longe de mim está: sem vê-lo,
Trago a minha alma sepultada em gelo,
Trago o meu coração envolto em crepe.
- Júlia Cortines (maio), em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


VIII
Como é doce seguir o teu rastro, ó saudade,
Se equilibras no azul, à branda claridade
De um sonhado luar, as tuas asas mansas
Doiradas pela luz das nossas esperanças,
E levas para longe o teu voo, a um passado
De sorrisos e amor e sonhos estrelado,
Onde vemos alguém, que sobre nós derrama
Do seu profundo olhar a cariciosa chama,
Fazendo rebentar das nossas fundas dores
Da crença e da alegria as perfumosas flores;
Olhar que tem do sol o claro brilho intenso,
E faz cismar no azul, no grandioso e imenso...
Olhar que dentro em nós as emoções acorda,
E faz vibrar do amor a sonorosa corda.
...............................................
- Júlia Cortines (agosto), em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


Via dolorosa
Alma, galgando vais o teu Calvário abrupto,
Em farrapos, em sangue, em lágrimas, em luto,
Por fragas arrastando, em convulsões de dor,
O lenho, que te verga ao peso esmagador.

Ruge em torno de ti a tempestade; o açoite
Do vento dilacera a cortina da noite.
Como um túrbido mar, roto pelo escarcéu,
Vês na altura rolar o proceloso céu,
E em baixo, à proporção que no espaço te elevas
Subir, rente a teus pés, um dilúvio de trevas,
Que a esperança afogou, e afogará até
A dor no turbilhão da crescente maré...

Mais um passo, e verás desse abrupto Calvário
No tope, em que branqueja um anônimo ossário,
Entre o olvido e o silêncio, o madeiro se erguer,
Onde vais, para sempre, exânime, pender...
- Júlia Cortines, em "Versos". Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1894.


Vozes da noite
Pesa a calma da noite em derredor. Um choro
  Brando às súbitas soa
No silêncio, que após um tumultuoso coro
De soluços e de ais e de gritos povoa:
– Vão e eterno clamor da humana criatura,
  Presa da desventura.

Quanta dor a gemer nessa orquestra assombrosa!
  Revoltado e dorido,
Vibra o grito de alguém, numa selva cheirosa
Pelo ascoso réptil da perfídia mordido;
De alguém, franco e viril, que a luta não abate,
  Vencido sem combate.

Ouço o rouco estertor do soldado, que, exangue,
  Após a árdua refrega,
Agoniza num solo embebido de sangue,
Enquanto ao seu olhar, que às ilusões se apega,
Se transmuda o fulgor da sagrada bandeira
  Numa sombra embusteira...
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.

Manuscrito do poema 'Por toda a parte', de Júlia Cortines
Por toda a parte
Interrogaste a vida: interrogaste o arcano,
Misterioso sentir do coração humano;
A mesta palidez serena do luar;
O murmúrio plangente e soturno do mar;
O réptil, que rasteja; o pássaro, que voa;
A fera, cujo berro as solidões atroa;
A desenfreada fúria insana do tufão;
A planta a se estorcer numa atroz convulsão.
Interrogaste, enfim, tudo o que existe, tudo:
O que chora, o que vibra, o que é imoto, o que é mudo.
Do astro eterno baixaste à transitória flor.
Que encontraste, afinal?
– A dor! a dor! a dor!
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.

____
** Todos os "Poemas" aqui publicados foram extraídos de: "Versos - Vibrações - Júlia Cortines". [apresentação Gilberto Araújo].. (Coleção Austregésilo de Athayde, nº 32). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2010. Disponível no link.  (acessado em 11.5.2014).


FORTUNA CRÍTICA DE JÚLIA CORTINES
[bibliografia sobre Júlia Cortines]
Julia Cortines,  por Laeti imagens
ARAÚJO, Gilberto. Descortinando Júlia, in: "Versos - Vibrações - Júlia Cortines". [apresentação Gilberto Araújo].. (Coleção Austregésilo de Athayde, nº 32). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2010. Disponível no link. (acessado em 11.5.2014).
AZEVEDO,  Sânzio de. (pref. e seleção). Roteiro da Poesia Brasileira – Parnasianismo. São Paulo: Global Editora, 2007.
AZEVEDO, Sânzio de. O Parnasianismo na Poesia Brasileira. Fortaleza: Editora UFC; Sobral: Edições UVA, 2004.
BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Quinto Volume. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899.
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de Literatura Brasileira. (2 volumes).  2ª edição revisada e ampliada. São Paulo: Global Editora; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001.
CUNHA, Fausto. A poesia esquecida de Júlia Cortines. Letras e Artes - suplemento literário de A Manhã, Ano 8.º, n.º 294, 13 de abril de 1954.  Publicado em "Versos - Vibrações - Júlia Cortines". [apresentação Gilberto Araújo].. (Coleção Austregésilo de Athayde, nº 32). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2010, p. 3-10. Disponível no link.(acessado em 11.5.2014).
LACERDA, Renato de. Júlia Cortines - A musa Fidalga de Rio Bonito: traços biográficos. Niterói, 1967.
MAGALHÃES, Valentim. A Literatura Brasileira (1870-1895). Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira, 1896.
MARTINS, Wilson. História da Inteligência Brasileira. Volume IV. 2.ª edição. São Paulo: T. A. Queiroz, 1996.
MUZART, Zahidé Lupinacci (Org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. Vol. II. Florianópolis: Editora Mulheres, 2004, 1178p.
PAIXÃO, Sylvia Perlingeiro. A liberdade na morte: Júlia Cortines (1868-1948). Disponível no link. (acessado em 21.05.2014).
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Panorama da Poesia Brasileira (Volume III: Parnasianismo). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1959.
RIBEIRO, João [N.N.]. “Crônica dos Livros”. In: A Semana, 3/11/1894.
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SCHUMAHER, Maria Aparecida; BRAZIL, Érico Vital. Dicionário Mulheres do Brasil: De 1500 até a atualidade (biográfico e ilustrado). São Paulo: Jorge Zahar Editor, 2000.
VERÍSSIMO, José. Uma poetisa e dous poetas. in: Estudos da literatura brasileira (sexta série). Paris; Rio de Janeiro: H. Garnier, Livreiro Editor, 1907, p. 165-185.


Última página
Antes de mergulhar no silêncio da morte,
Ou da idade sentir a fraqueza e o torpor,
Eu quisera lançar, num supremo transporte,
Meu grito de revolta e meu grito de horror.

Mas sei que por mais forte e por mais estridente
Que ela corra através do infinito, até vós,
Ó céus, que além brilhais numa paz inclemente,
Nem qual brando rumor chegará minha voz!

Mas sei que não há dor que a natureza vença,
E que nunca a fará de leve estremecer
Na sua eternidade e sua indiferença
O lamento que vem dum transitório ser

Mas sei que sobre a face execrável da terra,
Onde cada alma sente, em torno, a solidão,
Esse grito, que a dor duma existência encerra,
Não irá ressoar em nenhum coração.

Contudo, num clamor de suprema energia,
Eu quisera lançar minha voz! Mas a quem
Enviar esse brado imenso de agonia,
Se para o compreender não existe ninguém?!
- Júlia Cortines, em "Vibrações”. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores, 1905.


Júlia Cortines
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Julia Cortines - a musa fidalga de Rio Bonito. Templo Cultural Delfos, janeiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Página atualizada em 16.1.2016.
* Pagina original MAIO/2014.




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